Alô, vovó: o guaraná da Fratelli Vita voltou!

Alagoinhas tem intenção de receber fábrica. Saiba onde achar a bebida em Salvador e Lauro

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  • Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Foto: Divulgação Há exatos 50 anos, a marca Fratelli Vita foi vendida para a concorrência, que resolveu tirar os seus lendários refrigerantes de circulação, gradativamente. Um crime de lesa-majestade, afinal, para muitos, o Fratelli Vita reinava ante as demais bebidas. Faz, portanto, quase meio século que o dulcíssimo guaraná foi deixando as prateleiras e sendo “colocado na geladeira”. Talvez por isso continuou refrigerando a alma e conservando as memórias afetivas de gerações, tanto na Bahia, onde nasceu, quanto em Pernambuco, onde ora ressuscita.

Pois sim: 2022, com tanta notícia ruim, reservou uma saborosa novidade aos saudosos fãs das gasosas (antigo nome do refri) da Fratelli Vita, que voltaram a ser produzidas numa pequena fábrica do Recife, após sete anos de pesquisa para chegar à fórmula original. E conforme Baianidades apurou, o produto já começou a ser vendido na Bahia (veja mais abaixo).

Também descobrimos que essa escala de produção tem tudo para aumentar nos próximos anos, especialmente se o plano da cidade de Alagoinhas - que faz parte da história da Fratelli Vita, com uma embrionária fábrica de licores, no início do século passado - der certo. A prefeitura do município no nordeste baiano já demonstrou a intenção de receber uma fábrica, a fim de incrementar seu já famoso polo de produção de bebidas.

“A gente está nessa conversação ainda. Não existe uma formalização, mas uma aproximação entre o Município e a Fratelli Vita. A gente vai elaborar um protocolo de intenções”, nos conta Bruno Fagundes, secretário de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente de Alagoinhas, que é conhecida por ter uma das melhores águas do planeta. Um casamento perfeito.

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“O próximo passo é que a gente possa se encontrar. Seu Jorge esteve em Salvador, recentemente, mas eu não pude encontrar com ele. Em breve vamos dar andamento a essas tratativas, e ver no que o Município pode auxiliá-los no desenvolvimento do negócio aqui na Bahia”, complementa.

Família Vita O Seu Jorge ao qual o secretário se refere não é o cantor, mas o servidor público e empresário Jorge Vita, 58 anos, que junto com a esposa, a pedagoga Danielle Vita, 47, e outros Vita, da ala pernambucana da tradicional família, comanda(m) essa volta à vida da marca.

Ele conta que seu avô, Francisco Vita, o Chiquinho, foi preparado pelo pai, Giuseppe - um dos fundadores da Fratelli Vita na Bahia, ao lado do irmão Francesco, há exatos 120 anos - para cuidar dos negócios, e foi justamente esse galho da árvore genealógica que ficou mais sentido pela perda da marca, 70 anos depois. Foto: @wandteixeira_jr/Divulgação “Por conta da venda à antiga Brahma, decisão que dividiu a família no início da década 70, no ocaso da empresa, o guaraná voltou com esse nome mesmo: Família Vita”, explica Jorge, que espera recuperar o direito de uso da marca Fratelli Vita.

Foi ele quem coordenou toda a pesquisa de recuperação do produto a partir dos apontamentos de seu pai, Jayme, que foi diretor de produção da Fratelli Vita no Recife.“As anotações e testes do meu pai serviram de base. Ele era o diretor de produção e fazia todas as formulações”, recorda Jorge sobre sua saga de sete anos para chegar ao sabor original do refrigerante que voltou ao mercado do Recife em maio, mas ainda de forma experimental.“Começamos com os estabelecimentos de parentes, amigos, conhecidos. Mas hoje a gente já tem mais de 40 pontos de vendas. Já foram produzidas entre 15 mil e 20 mil garrafas. A média de preço fica entre R$ 5 e R$ 6”, calcula. 

Onde encontrar Ciente da popularidade que o guaraná da família tem em sua ‘terra natal’, a pequena empresa, montada num galpão próximo à Avenida Beberibe, zona norte do Recife, começou a trazer os produtos para a Bahia. 

“Estamos avaliando a distribuição em Salvador. Precisamos entender melhor a questão de logística, buscar parceria com distribuidores, incentivo fiscal, empresas que possam fazer o envase do guaraná. Disponibilizamos para Salvador uma quantidade mínima do produto, para que os baianos pudessem experimentar, ativar a memória gustativa e voltar a uma época boa da vida”, comenta uma representante da empresa, sem se identificar.

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Enquanto não chegam mais garrafinhas, é possível encontrar o guaraná Família Vita nas três lojas da Noz Moscata que ficam na Avenida Paulo VI (Pituba), no Max Center (Itaigara) e no bairro de Villas do Atlântico, em Lauro de Freitas. Ainda em Lauro, a Luka Boutique de Pães, na Estrada do Coco, também tem a iguaria, assim como a Casa de Mainha, no Shopping Avenida, aqui na Paulo VI.

Memória afetiva O impacto pessoal que a volta do guaraná tem causado nos clientes, todos idosos, tem surpreendido Jorge Vita. “É impressionante como os sabores ainda estão na memória gustativa das pessoas. Você não tem ideia de como eu recebo relatos no Facebook, quando as pessoas contam que tomam e dizem que voltaram no tempo de criança. Que coisa boa!”. 

O dono de uma hamburgueria do Recife foi outro que confessou o espanto com a reação da clientela.“Ele me contou que teve uma vez que uma senhora se levantou, no meio do restaurante, e exclamou: ‘não acredito! Não acredito!’ Aí ele pensou que ela ia reclamar do hambúrguer, alguma coisa negativa, e ela disse: ‘não acredito que vocês tem’. E aí tomou um e achou uma delícia, disse que passou um filme na cabeça. É impressionante”. Autor do livro ‘A História da Fratelli Vita no Recife’*, o escritor Gustavo Arruda lembra que a marca baiana de bebidas era tão forte que, durante muito tempo, deu testa à Coca-Cola. “De 1941, quando a Coca-Cola instalou seu primeiro fabrico no Brasil (no Recife), até 1972, quando a Fratelli Vita foi vendida, a fabricante nordestina de refrigerantes incomodou a gigante norteamericana na região, se somadas as vendas das produções das fábricas da Fratelli Vita no Recife e em Salvador. Isso aconteceu, basicamente, porque os refrigerantes da Fratelli Vita ficaram incorporados aos hábitos dos nordestinos, graças a uma maciça propaganda com 39 anos a mais que a Coca-Cola”, cita ele.

Em suma, para baianos e pernambucanos mais antigos, diante da Fratelli Vita, a Coca-Cola não é essas Coca-Cola toda.

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O que as novas gerações precisam saber sobre o pioneirismo da Fratelli Vita, segundo o pesquisador e escritor Gustavo Arruda:1902 - Criada a primeira fábrica de água tônica no Brasil 1907 (aprox.) - Se tornou a primeira indústria de refrigerantes do Nordeste 1910 - Lançado o primeiro refrigerante de guaraná do Nordeste 1934 - Primeira fábrica de cristais da América Latina 1942 - Primeira máquina de engarrafamento de refrigerantes do Brasil 1950 - Criada a laranjada Sukita (suco + Vita), depois fabricada pela Brahma  1958 - Lançado o primeiro refrigerante diet do Brasil, a ‘Dita’ (diet + Vita)  1972 - Feito o primeiro refrigerante do Brasil à base de café, o ‘Dicafé Vita’. *O livro ‘A História da Fratelli Vita no Recife’, de Gustavo Arruda, está à venda pelo e-mail [email protected].