Alta de 32,89%: cesta básica em Salvador tem maior aumento anual entre capitais

O valor médio do conjunto de itens básicos de alimentação na capital baiana em 2020 foi de R$ 429,14, segundo o Dieese

  • D
  • Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 06:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Salvador foi a capital brasileira que registrou o maior aumento no preço da cesta básica em 2020, com uma alta de 32,89%, segundo dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O trabalhador soteropolitano que ganhava um salário mínimo no último ano - R$ 1.045 - teve que gastar pouco menos da metade da remuneração para comprar os itens básicos para a subsistência. Na média anual para 2020, a cesta básica na capital baiana saía por R$ 429,14, R$ 129,14 a mais que as últimas parcelas de R$ 300 auxílio emergencial paga pelo governo no final do ano passado. Na Bahia, a taxa de desocupação foi de 19,8%, em novembro de 2020, segundo a Pnad Covid-19, e 41,78% dos baianos receberam o benefício governamental, de acordo com Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União.

Apesar do aumento anual, entre novembro e dezembro de 2020, a capital baiana registrou a segunda maior redução no valor da cesta básica, com uma queda de 1,85%, de acordo com o levantamento. Salvador fechou o último mês do ano passado com a 5ª cesta básica mais barata do Brasil entre as 17 capitais integrantes do estudo, custando R$ 479,08. O valor médio anual foi de R$ 429,14 - aumento de 32,89% em relação a 2019 (R$ 365,89).

Em 2020, todas as cestas registraram aumento, ressalta a supervisora técnica do Dieese na Bahia, Ana Georgina Dias. Ela aponta que o crescimento pode ter interferência da suspensão da tomada de preços do tomate e da banana nas feiras nas capitais, com exceção de São Paulo. Entretanto, explica que outros itens também pesaram no valor: “Entre os alimentos que mais aumentaram, itens com alta, como óleo de soja, não são pesquisados nas feiras, então, não estamos com preços fora da realidade porque os alimentos de mercado puxaram o preço da cesta. Ao analisar a inflação de 2020 se vê que de fato a alimentação puxou [o índice] mais para cima”.

Dias pontua que, apesar de Salvador ainda figurar entre as cestas mais baratas entre as capitais, a cidade tradicionalmente ocupava a 1ª ou a 2ª posição na lista de locais com o conjunto de itens mais baratos, mas foi levada para o 5º lugar após registrar a maior variação anual.

“A cesta de Salvador é mais barata, mas pesa mais para o trabalhador que a de São Paulo, que é a mais cara, só que ocorre em uma cidade com um rendimento médio maior”, explica Ana Georgina. (Infográfico: CORREIO) No ano, um trabalhador de Salvador teve que destinar, em média, 41,08% do salário mínimo para comprar uma cesta básica para uma pessoa adulta, segundo o estudo. A proporção é maior do que os 36,66% que eram destinados para a aquisição dos produtos em 2019.

Ainda de acordo com o Dieese, a jornada média de um trabalhador de Salvador que recebe o piso nacional para conseguir adquirir os produtos, em 2020, foi de 116 horas e 20 minutos, maior que as 108 horas e 09 minutos registradas em 2019.

Em dezembro, o soteropolitano que recebe o salário mínimo precisava trabalhar 102 horas e 52 minutos e usar 49,56% da remuneração líquida para comprar a cesta básica.

Os dados apontam para um 2021 de dificuldades caso o valor da cesta continue a crescer, indica Ana Georgina. “Salvador tem um grande desemprego e as pessoas que estão ocupadas, geralmente, têm emprego informal e precário. Quanto mais a alimentação e a cesta básica, que tem pouca margem para troca, aumentam, é penalizada a população que está no desemprego e dependia do auxílio emergencial ou em trabalhos precários com rendimento até menor que o salário mínimo. Os aumentos na cesta são perversos, especialmente, para pessoas com menor rendimento”, afirma a supervisora técnica do Dieese.

Dias ressalta que a cesta é composta por apenas 12 itens que são capazes de alimentar um adulto ou duas crianças, portanto, os gastos são ainda maiores para uma família com mais membros. Além do preço dos alimentos, existem outras necessidades básicas, como comprar o botijão de gás, que também está em alta.“Por Salvador ser uma cidade com o desemprego elevado, com uma taxa de pobreza alta e a variação [da cesta] ser muito maior que reajuste do salário mínimo e dos benefícios sociais, o bem estar das famílias pode ser bastante impactado”, pontua o professor de Economia da Universidade Federal da Bahia e sócio da Arazul Research, Rodrigo Oliveira.Com base na cesta de São Paulo, que foi a mais cara no 12ª mês de 2020, o Dieese estima que o salário mínimo necessário deveria ser de R$ 5.304,90, o que corresponde a 5,08 vezes o mínimo vigente no mês. Segundo o instituto, o cálculo é feito levando em conta uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças.

Auxílio emergencial Se com o auxílio emergencial de R$ 600, que começou a ser pago em abril, dava para comprar, pelo menos, uma cesta básica inteira em Salvador, a redução do benefício para R$ 300, em setembro, não permitiu a compra do conjunto de itens básicos. Agora, com o fim das parcelas em dezembro, não há mais o apoio para a população.

“O auxílio emergencial foi fundamental para dar poder de compra para as pessoas mais pobres na Bahia. Com a cesta básica tão cara e o fim do benefício, provavelmente, vai ocorrer um crescimento de problemas sociais e pode faltar comida na mesa das pessoas. É preciso verificar outras políticas [de assistência]", afirma Oliveira.

Segundo dados do Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União, a Bahia possui 5.772.962 beneficiários do auxílio emergencial, o que corresponde a 41,78% da população do estado. Em Salvador, receberam o benefício 961.840 pessoas (35,95% da população). De acordo com a Caixa Econômica, foram pagos R$ 25,3 bilhões para pessoas do estado, o equivalente a 8,6% do montante total pago.  Produtos Na comparação com dezembro de 2019, o valor do óleo de soja e do tomate dobrou em um ano, segundo o levantamento. O primeiro registrou uma variação anual de 107,53% e o segundo de 102,56%. O arroz agulhinha ficou com o terceiro maior aumento: 80,67%.

De acordo com o Dieese, a alta do tomate é resultado da redução de área plantada e de fatores climáticos. Já o aumento do óleo foi influenciado pelo volume elevado de exportação de soja e derivados, pela desvalorização do real em relação ao dólar e à forte demanda externa.

No período, também registraram alta a banana (39,78%), a carne bovina de primeira (32,01%), o açúcar cristal (23,04%), o leite integral (21,71%), o feijão carioquinha (17,54%), a farinha de mandioca (10,96%), a manteiga (8,52%) e o pão francês (5,56%). Dos itens pesquisados, apenas o café em pó teve queda de 6,78% no ano. (Infográfico: CORREIO) Na comparação dos preços médios dos produtos em dezembro e novembro de 2020, a banana registou a maior alta, com um crescimento de 15,77% do seu valor, seguida do arroz (9,10%) e da farinha de mandioca (6,67%). O óleo de soja também encareceu após registrar alta de 4,86%, bem como o açúcar, com 4,71%; a manteiga, com 1,14%; o feijão carioquinha (0,73%) e carne bovina (0,63%).

Já o preço do tomate caiu em 19,24% na comparação com novembro. O leite teve redução de 2,54%, café de 0,80% e o pão de 0,19%.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lobo