Aluno da UFRB é acusado de racismo por recusar prova de docente negra

Caso aconteceu na turma de Ciências Sociais

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  • Bruno Wendel

Publicado em 10 de dezembro de 2019 às 13:18

- Atualizado há um ano

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(Foto: Reprodução) Um estudante da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) é acusado pelos colegas de racismo após se negar a receber um documento das mãos da professora. Em um vídeo que circula nas redes sociais, a docente diz: “Não estou entendendo?”. E o estudante, estático em frente à mesa, indica com o dedo para que ela deixe o papel sobre a mesa, numa suposta recusa em pegar o documento das mãos da professora. Segundo alunos do curso de Ciências Sociais da UFRB, o colega de sala agiu dessa forma porque a docente é negra. 

O vídeo foi gravado na noite de segunda-feira (9) no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB, na cidade de Cachoeira, Recôncavo baiano, e postado numa página do Instagram. A UFRB publicou uma nota afirmando que uma comissão foi criada para apurar as denúncias (confira abaixo). 

A imagem, que circula nas redes sociais, mostra o aluno Danilo Araújo de Góis, de camisa amarela, de costas, em pé, conversando com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis. Na gravação, a reação da professora é de espanto. “Não estou entendendo?”, diz ela e o aluno argumenta em seguida - mas o conteúdo é inaudível.

Logo depois, a  professora estende o braço e diz: “Tome o papel”. E o aluno responde: “Papel na mesa”. A situação causou alvoroço na sala por parte do restante da turma, que reprovava a atitude do colega de classe. 

Em um segundo vídeo postado na mesma página, a professora disse para a coordenadora do colegiado do curso de História, que precisou ser acionada para ir à sala de aula, que se sentia desconfortável diante de toda a situação, que o fato causou um tumulto na sala e por isso a permanência do aluno impossibilitaria a continuidade da aula.

Então, a coordenadora do curso pediu para que o aluno deixasse a sala e ele prontamente acatou. Os demais estudantes aplaudiram a medida da coordenadora e gritaram “racista” à medida que o universitário se aproximava da porta da sala.  

Procurado pelo CORREIO, o vice-diretor do CAHL, Gabriel Àvila, disse que o estudante ainda não foi ouvido. “A direção tem um limite de atuação. Quem pode expulsar o aluno é a reitoria. A gente vai ouvir ele e a professora para aplicarmos a medida cabível. A primeira suspensão já pode ser aplicada, caso haja comprovação do fato. Ela é de 15 dias, após a denúncia ser formalizada”, disse Àvila. 

De acordo com ele, há 15 dias, o aluno já havia agido de forma agressiva com a professora. “Ele discutiu por causa de uma data de avalição. Foi muito agressivo com as palavras e a professora acabou cedendo. Ele tem uma predileção a fazer crítica a essa professora. Os outros alunos já tinham percebido o comportamento dele. A professora preferiu não levar adiante porque não chegou a ofensas com caráter racial”, comentou Àvila. 

O vice-diretor informou ainda que nunca chegou uma denúncia em relação à conduta do aluno ao colegiado e à direção do CAHL, mas adiantou: “Apesar disso, qualquer atitude racista, homofóbica e machista não é tolerável no ambiente de ensino”. 

O CORREIO não conseguiu contato com Danilo nem Cristina. Segundo informações da Delegacia de Cachoeira, tanto o estudante quanto a professora compareceram à unidade nesta terça-feira (10) para prestar queixa. A professora e quatro testemunhas foram ouvidas e outras três pessoas intimadas para prestarem depoimento, assim como o estudante, que deve ser ouvido na quarta-feira (11).

Confira na íntegra a nota da UFRB"A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) manifesta veemente repúdio às atitudes ofensivas do estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis, para com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis e outros estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. A instituição já criou uma comissão para apurar as denúncias encaminhadas por estudantes e professores do Centro, que informam ter presenciado reiteradas manifestações de preconceito racial, de gênero e de homofobia por parte do estudante. 

A UFRB informa que está tomando as medidas administrativas e jurídicas cabíveis ao caso, de modo a contribuir com a apuração dos fatos ocorridos na noite do dia 9 de dezembro, em sala de aula, no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. Após se recusar a receber uma avaliação das mãos da professora, o estudante foi denunciado pelos presentes por ato de preconceito racial, conforme vídeo veiculado em redes sociais.

Como instituição de ensino superior comprometida com os valores democráticos, o respeito à diversidade e implicada com os territórios de identidade em que está presente, a UFRB rechaça todo e qualquer ato de racismo, sexismo, LGBTfobia, intolerância e/ou violência, seja no âmbito acadêmico ou no cotidiano em geral.

A UFRB considera fundamental ao processo formativo na graduação e na pós-graduação o respeito às diferenças para constituir um ambiente de convívio saudável, sem discriminação. Ao mesmo tempo, a instituição manifesta solidariedade à professora e estudantes ofendidos no espaço da Universidade e reafirma seu compromisso em não deixar impunes atitudes desta natureza.

Cruz das Almas, 10 de dezembro de 2019.

Reitoria da UFRB"