Alvorada dos Ojás volta a ser realizada após 1 ano de intervalo devido à pandemia

Líderes religiosos fazem cerimônia de amarração de tecidos brancos sagrados em árvores de Salvador

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  • Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/ CORREIO

A Alvorada dos Ojás, atividade de amarração de tecidos brancos sagrados em árvores de Salvador, em pedido de paz e respeito à liberdade de crença, foi realizada nessa sexta-feira (19) após um ano de hiato pelas restrições da pandemia. No terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, baianas rodavam as saias e os músicos tocavam tambores e trompetes para anunciar o início do evento.

Depois, os tecidos foram sacralizados e levados pelos religiosos para os bairros do Campo Grande e Dique do Tororó, onde foram amarrados, à noite, para homenagear o orixá Oxóssi, responsável pela fartura, alimentação e prosperidade.

Participaram líderes de seis religiões distintas para lutar contra a intolerância religiosa e, junto com Coletivo de Entidades Negras (CEN), que realiza a alvorada há 15 anos, fazer um manifesto para pedir pelo fim da fome, da carestia e das desigualdades sociais.

O coordenador do CEN, Marcelo Rezende, também afirma que o ato de amarrar os tecidos é também um pedido de respeito à liberdade religiosa. “O objetivo dessa noite é mostrar pra sociedade que as religiões podem viver em harmonia e que o candomblé é essa religião que prega a paz, o amor e o respeito”, declarou.

O coordenador afirma que um dos objetivos da alvorada este ano é mudar o quadro da fome no Brasil.“Pedimos que Oxóssi nos garanta alimento, que faça a comida chegar na mesa das pessoas e que a paz reine na nossa sociedade. Sabemos que é muito difícil viver em paz quando uma parte da nossa população, mais de 19 milhões de pessoas, passam por privações básicas, que é o de poder se alimentar”, lamentou.A mãe de santo da Casa Branca, Neuza Cruz, afirma que enxerga a alvorada como um evento muito importante, pois faz com que as pessoas se sintam agradecidas por estarem vivas e podendo louvar as suas divindades. “Pedimos que os orixás nos deem cada dia mais fartura porque estamos vivendo uma turbulência dentro do nosso país, no mundo todo, que é o problema da fome, causada principalmente pela pandemia”, disse.

Neuza ainda lamentou pelas pessoas que faleceram em decorrência da covid-19 e afirmou ser muito triste ver tanta desigualdade no mundo. “Ver o sofrimento das pessoas que passaram fome, necessidade, que perderam seus entes queridos mexe muito com a gente. Eu espero que isso passe logo, principalmente para nós, brasileiros, que somos alegres por natureza. A gente pede que tudo isso acabe para que a gente possa viver nossa vida normal novamente”, declarou a mãe de santo, com lágrimas nos olhos.

O padre Lázaro, que atua na Paróquia Santa Cruz, afirma que esse momento de instabilidade só reforça o quanto as religiões precisam colaborar em favor da paz e da construção de uma sociedade mais justa, humana e solidária. Segundo o religioso, a Alvorada dos Ojás, ao reunir diferentes religiões em um ato ecumênico, reforça o carinho, amor e respeito que as pessoas precisam com o próximo.

“É uma pena que ainda existam pessoas que optam por não assumir o caminho do diálogo com o que é diferente. O diálogo é sempre melhor e mais valioso, cria  pontes e faz a gente se encontrar, com novos saberes, experiências e religiosidades. Isso deve ser valorizado, devemos sempre ir ao encontro do outro e não de contra, devemos destruir os muros que nos impedem de enxergar o outro lado”, afirmou o padre. 

Também presente na ocasião, Joel Zeferino, pastor da Igreja Batista Nazareth, no bairro de Nazaré, comentou sobre a união das religiões. “Também é nossa responsabilidade fazer a reparação, a denúncia e combate a toda forma de intolerância, seja estrutural ou religiosa”, afirmou o pastor. Paz e respeito à liberdade de crença é o que todos querem (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Manifesto pediu fim da fome, da carestia e das desigualdades sociais (Foto: Paula Fróes/ CORREIO)  *Com supervisão da subeditora Fernanda Varela