Annita: 'remédio secreto' de Marcos Pontes é pior que cloroquina, diz estudo chinês

Medicamento seria menos eficaz e mais tóxico

  • D
  • Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2020 às 10:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Apontado como o "remédio secreto com eficácia de 94% contra o coronavírus", a nitazoxanina, príncipio ativo do vermífugo Annita, se mostrou menos eficaz e mais tóxica que outras drogas, como a cloroquina, em estudos realizados na China. As informações são da colunista Mônica Bérgamo.

A substância é um dos remédios estudados pelo ministério de Ciência e Tecnologia, chefiado por Marcos Pontes.

Cientistas e virologistas de Wuhan, onde começou a pandemia, testaram sete drogas em laboratório e compararam a potência de cada uma delas. A cloroquina foi considerada a menos tóxica, e mais efetiva, quando ministrada em dose maior. O Remdesivir, remédio usado para combater o Ebola, também teve boa performance. 

Já a nitazoxanida só desenvolveu atividade antiviral adequada em doses altas, que se mostraram tóxicas e não recomendadas. A pesquisa foi feita in vitro, mas não em testes clínicos, com pacientes. 

O ministro, que não confirmou o nome da droga que será testada, diz que houve 94% de eficácia em exames preliminares, em laboratório, e que não há efeitos colaterais graves, contrariando o estudo chinês.

O anúncio feito por Pontes de que o nome do remédio não seria divulgado para não haver uma corrida a farmácias e que nem mesmo pacientes saberiam o que estariam tomando nos testes deixou cientistas perplexos. 

A regra básica de pesquisas clínicas, com drogas já foram testadas em laboratórios, é a publicidade. Em primeiro lugar, por questões éticas. Em segundo lugar, porque elas precisam passar pelo crivo da comunidade científica. 

Um cientista que trabalha em testes de medicamentos disse à coluna que o contrário disso é sensacionalismo e o equivalente a vender terrenos no céu. 

“Qualquer pesquisa precisa dizer que medicamento será testado, em que doses, em quantos pacientes, e por quem será conduzida. Não existe pesquisa secreta em nenhum lugar do mundo”, diz Ezio Távora, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em Tuberculose. 

Um dos projetos aprovados para pesquisa com a nitazoxanida no Brasil terá como centros participantes o Comando da Aeronáutica do Rio, o Comando da Aeronáutica de SP, o Hospital Naval Marcílio Dias, do Rio, e o HFA (Hospital das Forças Armadas).