Ao CORREIO, jornalista relata tensão em Barcelona após atentado

Katja Polisseni, que mora na cidade catalã com o marido e o filho baianos, conta que costuma ir a local onde ocorreu atentado com 13 mortos

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  • Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2017 às 21:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Katja Polisseni e AFP

Carioca que chegou a se radicar na Bahia, onde morou durante 15 anos, a jornalista Katja Polisseni completou nesta quarta-feira (16) um ano vivendo em Barcelona, na Espanha, junto com o marido e filho baiano.

O aniversário de permanência, no entanto, mal pôde ser comemorado, já que apenas um dia depois, a cidade registrou uma das piores tragédias de sua história. No coração da cidade, visitado por milhares de turistas todos os dias, um ataque terrorista reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico, deixou ao menos 13 mortos, após uma vã avançar sobre pedestres em uma via movimentada.

A pedido do CORREIO, Katja descreveu como era e como ficou o clima na cidade, após o ataque, que ainda deixou mais de 100 feridos; falou sobre a preocupação de familiares e amigos após as notícias do atentado se espalharem e, por fim, descreveu a sensação de tensão, medo e impotência diante da ameaça de novos ataques.  Íntegra do depoimento de Katja Polisseni para o CORREIO:

A Rambla é um dos pontos mais turísticos de Barcelona, no Centro Antigo, mas também muito frequentada pelos moradores, de dia, por seu comércio, e à noite, por ser uma das zonas boêmias de cidade. Sempre passamos por lá... seja para passear, para comprar algo, tomar um café com um amigo. Na terça-feira mesmo, que foi feriado aqui, estivemos lá pertinho (eu, meu marido e meu filho, que são baianos), acompanhando um baile de gigantes, umas das festas populares que lotam a cidade neste período do ano (o Verão).A cidade está cheia de turista, mas também estamos em férias escolares, e como o calor é grande, geralmente a gente sai pela manhã para algum programa, almoça na rua ou em casa, mas depois, no auge do calor, fica em casa até umas 5h da tarde, quando abaixa um pouco o sol. 

Hoje, foi diferente... pretendia levar meu filho a uma festa tradicional, Festa Major da Gracia, que este ano completa 200 anos e que sempre leva muita gente para ver as ruas decoradas, escutar boa música, ver espetáculos e brincadeiras... gente de toda idade e de "várias tribos", o que é muito comum em Barcelona. 

Mas voltando a essa tarde, por volta de 17h40 passou umas três ambulâncias e um carro de bombeiros aqui na rua, que é perto de um hospital importante... Muito barulho mesmo. Pensei que fosse algum incêndio já que está quente e seco por esses dias, mas em alguns minutos recebi uma mensagem inbox de uma amiga de Belo Horizonte, perguntando se eu estava em casa e se estávamos bem. Me contou o que houve, liguei a TV. 

Bom, nas próximas duas horas, amigos e familiares passaram mensagem e ligaram, para constatar que estávamos bem! Também trocamos mensagens de WhatsApp com os amigos daqui para saber se estavam bem! Um misto de incredulidade e tristeza tomou conta de mim... Explicar a meu filho de 7 anos que um cara pegou o carro e saiu atropelando pessoas é uma coisa ruim, pesada, um gesto de intolerância que até agora tirou a vida de dezenas de pessoas, inclusive crianças. Triste por cada uma das vítimas, por seus familiares, pelo cidadão de Barcelona.Sempre soube que a Espanha estava entre os alvos de terroristas, e o Estado Islâmico acaba de reivindicar o atentado, mas quando você pensa que uma daquelas famílias, passeando numa tarde de Verão, poderia ser a sua, ou se algum amigo mais próximo, dá uma certa tensão. E uma cidade que tem como marca a acolhida de vários povos e culturas, de um povo aberto, solidário, uma cidade cosmopolita, alegre... Com muita história (inclusive de guerra e superação). 

Que sigamos em frente e possamos nos sentir tranquilos nesta cidade que em pouco tempo me cativou.Aqui no bairro, além do barulho de alguns helicópteros, ambulância, os vizinhos, que aproveitam o longo dia de verão e ficam fora de casa, papeando, não saíram.Às 20h levei o cachorro para uma voltinha e a rua estava deserta, um ou outro voltando para casa. Todos seguindo a sugestão da polícia, de sair de casa apenas se for imprescindível.