Aos 74 anos, morre Mãe Obá Inã, ialorixá que ajudou a fundar o Balé Folclórico da Bahia

Com trajetória extensa nas artes e na religião, a ialorixá chegou a ser laureada com a medalha Zumbi dos Palmares

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Terezinha Souza Barbosa, a Mãe Obá Inã, faleceu aos 74 anos. Ialorixá do terreiro Ilê Axé Obá Inã, ela construiu uma trajetória de serviços sociais prestados à comunidade, além de contribuições para a cultura e para a religião de matriz africana na Bahia.

Enfrentando problemas renais, e uma série de outras complicações médicas, Mãe Obá Inã chegou a ser internada na UTI por 22 dias. O quadro se agravou e ela acabou falecendo nesta quinta-feira (21).

Em outubro de 2013, Mãe Obá foi homenageada pelos vereadores da Câmara Municipal de Salvador com a medalha Zumbi de Palmares pelas sua atuação comunitária no bairro de São Caetano, onde fica o seu terreiro, e por ter se tornado ao decorrer de sua trajetória uma das maiores referências da cultura ao Balé Folclórico da Bahia (BFB), o qual ajudou a criar.

A honraria é concedida a pessoas, grupos ou entidades que se destacam na luta contra o racismo e a intolerância religiosa.

Amigo pessoal, fundador, diretor geral e coreógrafo do BFB, Vavá Botelho, lamentou a morte da ialorixá. “Nossa grande Yalorixá, mãe de todos no Balé Folclórico da Bahia, mas, principalmente, minha AMIGA (maiúscula escrita pelo artista), nos deixou. Obá Inã, rei do fogo, que povoou o corpo e o espírito dessa guerreira, transformando-a numa das mulheres que mais representou a força de Xangô que conheci na vida, agora terá ela por inteiro ao seu lado no Orun”, comentou.

Ele conta que foi com a ajuda da ialorixá que deu início ao Balé Folclórico da Bahia. “Foi com os atabaques emprestados de sua casa que fizemos o primeiro show do grupo, que ganhou tamanho e se tornou a companhia de dança que é hoje. Fomos eu e ela que batemos perna por um dia inteiro no Taboão, em 1987, comprando tudo para fazer o figurino inteiro da nossa primeira apresentação (do balé). E foi ela sozinha quem costurou o figurino todo enquanto eu ia bordando, enfiando elásticos e cortando fiapos”, relembrou Vavá. 

Acompanhou o balé em várias viagens internacionais, esteve presente em todas as apresentações realizadas na África, continente que sonhava em conhecer. Nos últimos anos, voltou-se para seu trabalho no terreiro Ilé Axé Obá Inã e a atender aqueles que mais precisassem.

“Agora, um pedaço da África na Bahia voltou hoje para seu lugar”, concluiu Vavá.