Apenas mais uma história romântica

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  • Kátia Borges

Publicado em 15 de setembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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No ano em que cientistas anunciaram a existência de água em Marte, eles se conheceram numa livraria de shopping dessas bem fast food. O rapaz circulava distraído entre as estantes de best-sellers, decidindo-se entre um Double ou um Triple X, quando a viu, folheando um livro da Macunaíma na seção de raridades.

Não, não era o herói sem caráter. Antes, a pequena editora que levava seu nome, criada na Bahia nos anos 50 por intelectuais recém-saídos da adolescência. Esticou os olhos até alcançar o título e demorar-se nele, como se houvesse descoberto, no meio de uma floresta da África Equatorial, a menor mulher do mundo.

Sentiu medo de tanto encantamento – certa frase deslocada de contexto, epifania realçada em blister. Tanto tempo procurando alguém que o lesse, que o resgatasse na poeira de um sebo, “entre mosquitos e árvores mornas de umidade”, feito uma edição que, entre séculos, descortina alguma estranha graça.

E então, como se digitasse um código de mil dígitos, errando e refazendo percursos numéricos, o Destino ensaiou um passo entre eles. Tão incerto que talvez seu peito estalasse como um graveto. A Tempestade no áudio. O ouvido perseguindo o som do álbum triste. Parecia cair do firmamento.

Que seguissem juntos, seria o certo. Mas o tempo faz dessas, impõe hiatos. E ali estava o futuro deles, uma elipse. Quando não havia mais o que dizer, enviou-lhe uma carta. Nem lembra com que palavras desenhou as últimas páginas daquela história. Pensava ainda em suas lágrimas. Por que chorava?

Nunca iria saber – certas tramas funcionam melhor sem respostas. Depois que acabou, foram recompondo suas vidas com alguma dor acomodada entre os dias até não haver mais nada. Outros amores viriam trazer alegrias e angústias. “Incenso fosse música”, isso de querer ser. Poemas incapazes de dar conta. Mas quem se importa? Há sempre uma ilusão na aorta, será mais forte a seguinte.