Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Apocalipse pelo avesso

  • D
  • Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2020 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Sempre que a humanidade é assolada por alguma tragédia natural, grandes guerras ou pandemias, é comum que surjam pessoas que assumem o papel de profetas do apocalipse. Repentinamente tomadas por uma inspiração escatológica que transita entre o absurdo e o tragicômico, homens e mulheres, vinculados ou não a algum tipo de fé, apregoam a Ira de Deus, anunciam o Castigo Eterno, põem metade da humanidade na quarentena milenar do inferno e anunciam o  Fim do Mundo como próxima e derradeira atração.

A pandemia do coronavírus parece ter despertado esse sentimento profético mais uma vez. Os videntes do fim do mundo voltaram e alardeiam suas predições como oráculos inequívocos reafirmando a convicção alarmante de que o Fim está próximo. 

O que vejo, entretanto, é um apocalipse ao contrário. Não vejo fim algum. Os sinais  que o corona projeta não conseguem me convencer de que a aventura humana na Terra será finalizada. Eles indicam, na verdade, um grande recomeço.

Homens de todas as nações se igualam sob a sombra terrível da covid-19. Ricos e pobres. Pretos e brancos. Governos de diferentes bandeiras esquecem suas cores. Milhões de profissionais de saúde lutam exaustos  e corajosos em gigantescos hospitais de guerra contra um inimigo comum, invisível e mortal. Bilhões de pessoas se recolhem e tentam proteger umas às  outras. A casa voltou a ser lar. Há um sentimento de solidariedade e amor como nunca vimos antes.

Claro que isso não é o Fim, mas um dolorido e esplendoroso recomeço! Um passo gigantesco de volta à nossa humanidade diluída em meio à ferocidade do capital globalizado e torpemente usado para alimentar apenas o vírus da vaidade. Uma contradição maravilhosa diante das ideias políticas que sempre marcaram o povo como coisa.

É um reencontro fenomenal com o humano que há muito se perdeu em nós. É o abraço que faltava, mesmo que não possamos tocar por agora o outro que sempre esteve tão perto.  É a história que um dia irão contar não como o fim da humanidade, mas como o começo de um novo e maravilhoso tempo. Um Apocalipse pelo avesso.

Edvaldo de Almeida Cruz é bacharel em direito pela Ufba, teólogo e psicanalista 

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores