Após 'boom' durante a pandemia, setor de decoração tem queda de 31,3%

Período de quarentena incentivou as pessoas a reformarem e cuidarem mais dos seus imóveis

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  • Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2022 às 05:15

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

As vendas do comércio varejista de móveis e decoração tiveram uma queda de 31,3% na Bahia em janeiro, em comparação com o primeiro mês do ano passado. Diferentemente do que acontece no atacado, a venda do varejo é feita diretamente ao comprador final, em menores quantidades. Os dados são da Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio-BA). Outros seguimentos que também não tiveram bom desempenho foram o de material de construção (-11,1%) e eletroeletrônicos (-24,3%).

Se durante a fase mais dura da pandemia muitas pessoas, por ficarem mais tempo em casa, começaram a dar uma atenção maior ao lar, agora que o cenário epidemiológico está mais controlado e a crise econômica ainda não arrefeceu, as vendas do setor diminuíram.

A arquiteta Mally Requião sentiu os impactos do aumento do consumo durante o período de maior restrição sanitária. "Lá no escritório tivemos um boom na pandemia, com muita gente reformando e comprando". Apesar do cenário de queda, a profissional está otimista em relação às vendas. "Estamos tendo até escassez de materiais, mesmo com tudo muito mais caro", diz. 

Gilberto Cerqueira é dono da loja O Fazendão, que vende materiais de construção para o varejo. Trabalhando no setor há mais de 30 anos, ele conta que nunca presenciou um cenário tão difícil economicamente como o de agora. Segundo ele, de janeiro até março, as vendas do comércio caíram cerca de 30%. Com a alta dos combustíveis, o preço do frete também subiu R$ 80,00 por tonelada nas mercadorias vindas de São Paulo.  

“A locomotiva dos aumentos é o combustível. Eu ainda estou segurando os preços porque tenho estoque. Mas as novas compras que eu fiz, quando chegarem, não tem jeito. Vão entrar no sistema com aumento e tem que repassar”, afirma.  

O economista e consultor da Fecomércio, Guilherme Dietze, destaca que o aumento de preços acrescido de um crédito mais caro forma um cenário complicado para os setores que registraram queda, inclusive o de supermercados. “A medida em que as pessoas vão comprar uma geladeira ou fogão, por exemplo, estão pagando normalmente em 10 vezes e é preciso de crédito. A taxa de juros que estava ano passado em 2% ao ano, agora está em quase 12%, isso dificulta o acesso das famílias aos bens duráveis”, explica o economista. O setor supermercadista teve retração de 7,6%.  

Apesar da queda no varejo dos materiais de construção, Alexandre Landim, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), explica que o setor da construção civil vai bem, mas há um receio de como a área deve evoluir no próximo ano, devido à alta de produtos. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, anunciou que vai aumentar o preço do aço em 20% a partir de abril.  

“Não vemos ainda redução no volume de obras, porque estamos executando agora as vendas do ano passado. Houveram muitos contratos novos, lançamentos imobiliários, contratos de construção e obras públicas. Vamos sentir o reflexo da diminuição das obras no ano que vem e não neste ano”, destaca. 

Farmácias Outro setor que merece ser destacado é o de farmácias e perfumarias, que teve alta de 23,8%. O faturamento de janeiro foi de R$ 1,2 bilhão, o maior para o mês da série histórica, que começou a ser registrada em 2011. Para o economista Guilherme Dietze, a alta é explicada pelas questões impostas pela pandemia, que acabou sendo responsável por criar novos hábitos de consumo.  

“Muita venda de exames de covid-19, máscaras, álcool em gel e antitérmicos. Sobretudo em janeiro, quando tivemos a variante Ômicron, então as pessoas demandaram mais produtos o que impactou no faturamento, que já vinha crescendo há um longo tempo”, diz.  

Setor de automóveis reage aos poucos 

O setor que puxou o crescimento de 1,7% do varejo baiano em janeiro foi o de veículos, motos e peças, tendo uma alta anual de 56,9%. A Fecomércio-BA aponta que o faturamento do mês foi de R$ 9,45 bilhões, um acréscimo de R$ 160 milhões em comparação a 2021.  

Para Renata Gonzalez, gerente da Retirauto, o saldo de vendas no primeiro trimestre do ano foi positivo.  Ela conta que a procura por carros seminovos aquecida pelo aumento do preço dos veículos se estabilizou e que os carros novos estão saindo mais da loja. 

“Agora estamos vendendo os novos um pouquinho mais. Quando começa a ter a disponibilidade do novo, a procura dos seminovos diminui, apesar de ainda estar vendendo bem”, diz a gerente.  

Para o economista Guilherme Dieze, no entanto, a base de comparação do ano passado é fraca, uma vez que havia muitas restrições de atividades em janeiro de 2021. Ou seja, apesar da conjunção econômica para o setor ser melhor, ainda existem déficits a serem resolvidos.  “Os prazos de entrega das montadoras estavam muito alongados, agora a situação começa a melhorar, mas não quer dizer que esteja resolvido”, diz.  

O gerente de vendas da Guebor Toyota, Edson Moreno, afirma que os semicondutores utilizados na montagem dos carros vêm travando a linha de produção, pois estão em falta no mercado. Segundo ele, houve uma retração na venda de carros na loja entre fevereiro deste ano e do ano passado, chegando a 16%. Apesar disso, o gerente afirma que as expectativas são de uma no melhor do que 2021 nas vendas, podendo ter um aumento previsto de 9%.  

“Para atender a demanda, a Toyota abriu um terceiro turno. Muitos postos de trabalho foram criados e muitas pessoas contratadas para produzir os carros”, conta Edson. Os veículos da marca são produzidos em Sorocaba e Indaiatuba, no estado de São Paulo, além de virem carros da Argentina, Estados Unidos e Japão.

*Com a orientação da subeditora Fernanda Varela.