Após toque de recolher, Feira marca reabertura do comércio para terça (21)

Decisão leva em conta taxa de ocupação dos leitos de UTI, que caiu pela metade

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  • Wendel de Novais

Publicado em 19 de julho de 2020 às 21:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas/Arquivo CORREIO

O toque de recolher e o fechamento do comércio durou pouco em Feira de Santana, que havia adotado medidas restritivas de circulação desde a última quarta-feira (15). A Prefeitura decidiu flexibilizar as medidas de combate ao novo coronavírus a partir da próxima terça (21), quando o comércio da segunda maior cidade da Bahia funcionará todos os dias sem restrição para as lojas, inclusive as de mais de 200m², que até agora não poderiam funcionar por determinações municipais deliberadas com o intuito de frear o avanço da covid-19.

A decisão acontece cinco dias depois de Feira chegar a ter 100% dos leitos de UTI ocupados e impor medidas restritivas que impediam o funcionamento de serviços não essenciais e proibiam a circulação dos cidadãos entre 18h e 5h. 

Segundo o prefeito Colbert Martins, a taxa de ocupação dos leitos caiu pela metade durante esse período.“Chegamos neste domingo com ocupação de 50% nos leitos de UTI do Hospital de Campanha e dos 40 leitos do Hospital Geral Clériston Andrade, apenas cinco estão com pacientes. Nós temos que administrar a crise com essa maleabilidade, observando sempre a questão da saúde, da vida. Se lá adiante for preciso reduzir mais as atividades econômicas, voltaremos a reduzir”, afirmou o gestor, em nota da assessoria.Segundo a plataforma de Acompanhamento de Leitos COVID-19, da Sesab, até as 21h40 deste domingo, dos 133 leitos ativos na cidade para o tratamento da covid-19, 71 estavam ocupados. A taxa de ocupação geral era de 53% e a de UTI adulto, de 58%. Já as taxas de ocupação dos leitos clínicos estavam em 49%. Contando UTIs adulto e pediátricas, são 59% de leitos ocupados. 

Feira passa por constantes alterações das medidas de combate ao coronavírus desde o início da pandemia. Em março, tudo foi fechado para que ainda em abril as lojas de até 200m² tivessem funcionamento liberado. O comércio voltou a ter o funcionamento permitido em maio, medida que durou até o meio de junho. Desde o início de julho, as restrições voltaram a ser impostas pelo poder público, que agora volta a liberar a abertura das lojas.

As restrições de circulação acabam já à meia noite deste domingo. Nessa segunda (20), as lojas de mais de 200m² ainda não poderão funcionar. Na terça-feira, a flexibilização se torna ainda mais ampla.

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Melissa Falcão, infectologista e coordenadora do comitê de combate ao coronavírus em Feira, indica que a decisão leva em consideração a redução da ocupação dos leitos de UTI do município. “O fechamento do comércio se deu por conta da ocupação total dos leitos. Houve abertura de leitos no hospital de campanha e no Hospital Geral Clériston Andrade 2. E hoje estamos com 50% dos leitos livres. Então, o que determinou o fechamento do comércio não existe mais”, conta.

Além disso, Melissa afirma que a incidência de casos na cidade diminuiu. “A gente vê uma tendência de redução dos números casos há uma semana e meia. Observamos isso tanto nos testes realizados pela vigilância epidemiológica, como nos exames laboratoriais realizados em hospitais privados”, ressaltou.

Durante o toque de recolher, que durou de quarta-feira até esse domingo, Feira registrou mais 532 novos casos de pessoas infectadas segundo os boletins da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), o que resulta em uma média de 102,4 casos por dia. 

Nos cinco dias que precederam a restrição, 10 à 14 de julho, a cidade teve 320 novos infectados pela covid-19, média de 64 novos registros por dia. De 5 a 9 de julho, o município confirmou 557 casos, uma média de 111,4 novos casos por dia.

De acordo com Colbert, a abertura de todo o comércio será segura porque a prefeitura local pretende continuar com uma fiscalização intensa.“Estamos sendo rigorosos na fiscalização dos estabelecimentos. Já são mais de duas mil interdições. E esse cuidado será mantido como fazemos desde o início dessa pandemia”, afirmou o prefeito ao CORREIO, na noite deste domingo.Ele confirmou que informou que restaurantes, bares e academias não serão abertos com a flexibilização.

Fluxo de pessoas e veículos Em matéria divulgada na edição desse fim de semana do CORREIO, especialistas afirmaram que Feira de Santana tem sido um caminho para proliferação do coronavírus por conta do fluxo de pessoas que vão até a cidade para fazer compras e também por ser um entroncamento rodoviário.

A ida de pessoas do interior para o município se tornou uma das preocupações na luta contra o coronavírus para o poder público municipal. Sobre isso, Melissa afirma que estão realizando ações para a identificação de contaminados dentro da cidade, mas diz que o fluxo não pode ser interrompido. "Isso sempre foi uma preocupação para nós. Fazer barreiras sanitárias nas entradas da cidade, mas isso não é tecnicamente viável pelo grande fluxo e por Feira ter várias vias de acesso. Então, o que temos feito é aplicação em massa de testagem rápida tanto em feiras livres como em lugares de grande circulação”, clarifica a infectologista.

Segundo a infectologista Áurea Paste, as barreiras sanitárias são ferramentas de suma importância no combate ao coronavírus e podem fazer falta na tentativa de contenção da disseminação do Covid-19. “As barreiras vão identificar precocemente pessoas infectadas. A ausência dessas ferramentas não permite o reconhecimento dos sintomas e  facilita a proliferação do vírus que pode acontecer de maneira ainda mais rápida”, afirma.

Colbert também falou sobre Feira ser um eixo de proliferação para as cidades do interior e disse que isso se deve uma característica específica que não pode ser evitada, mas alegou que medidas de combate a disseminação do vírus são tomadas na cidade. "Caminhões ainda passam por aqui porque a nossa cidade é o segundo maior entroncamento rodoviário do país e não pode ser bloqueada porque isso afetaria a maior maneira de transporte de cargas do Brasil que ainda é rodoviária. Ônibus continuam passando aqui todos os dias com pessoas de São Paulo porque a circulação deles é permitida. Esse tipo de trânsito não podemos impedir. Mas estamos tentando identificar as pessoas desses ônibus que estão com o vírus através de muitas testagens", explica.

Segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Sesab neste domingo, a cidade acumula 5834 casos confirmados de coronavírus e 178 casos aguardando a confirmação do município.

*Com supervisão do editor João Galdea.