Ato em Salvador homenageia vereadora Marielle Franco, executada no RJ

Cerca de 2 mil pessoas participam do ato que pede Justiça

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  • Da Redação

Publicado em 15 de março de 2018 às 11:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO
. por Juan Torres/CORREIO

Parte das atividades do Fórum Social Mundial (FSM) que acontecem na Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Ondina, foi interrompida na manhã desta quinta-feira (15) para homenagear a vereadora Marielle Franco (Psol), executada no Rio de Janeiro com quatro tiros na cabeça na noite de quarta-feira (14). 

"Um negro se vai, mas outros virão. Marielle já é um símbolo de luta", disse o presidente estadual do partido, Fábio Nogueira, sob forte comoção durante discurso feito para centenas de pessoas presentes na tenda Povo Sem Medo. Após o discurso, milhares de pessoas marcharam pelo campus da Ufba até o monumento As Meninas do Brasil (Gordinhas de Ondina). O bordão “Marielle Presente” era entoado pelas vozes embargadas de tristeza e revolta. “Esse  crime bárbaro mostra que o Brasil entrou numa rota de conservadorismo. Os movimentos sociais, como um todo, precisam reverter essa realidade, senão vão existir outros casos como o de Marielle. Não podemos permitir que isso aconteça”, disse Nogueira.De acordo com Nogueira, já existe uma comissão formada na Câmara Federal para apurar com rigor junto ao Ministério Público de Rio de Janeiro o que está por trás da morte da vereadora. “Dessa maneira podemos ter a resposta para a pergunta: 'quem matou Marielle?'”, informou. Para os presentes, Marielle era a inspiração do projeto mulher negra. Jovem, favelada e que tinha na própria trajetória a luta pelos direitos humanos e da mulher negra. 

Em entrevista ao CORREIO, Fábio informou que a própria coordenação do FSM liberou a paralisação das atividades em prol de uma grande marcha de todas as militâncias do fórum para dizer ao mundo o que está acontecendo no país.“Há um grande conservadorismo se instalando no Brasil. Esse caso repercute na imprensa internacional e nós estamos aqui para somar e aproveitar a oportunidade para reverberar e denunciar para os demais países a situação perigosa que o povo brasileiro está vivendo”, declarou. Presente no evento, o amigo de Marielle e parceiro em projetos sociais da vereadora, Gabriel da Maré, se diz indignado com tamanha violência. "Sou ator e faço parte do projeto Teatro Oprimido, no Rio. Eu e Marielle estávamos conversando sobre projetos voltados para jovens, negros, favelados e, de repente, acontece essa brutalidade. O militarismo do Rio é para matar ainda mais negros. A morte de Mariele não será em vão. A memória dela permanecerá viva dentro de quem luta por uma sociedade mais justa", desabafou Gabriel emocionado.Para a psicóloga capixaba, Naiara Oliveira Francisco, 23 anos, o assassinato de Marielle tem que ser um fator de mobilização contra tantas outras mortes de mulheres negras desde o pós-escravidão. 

“Por ela ser negra, lésbica e defensora das mulheres negras dentro das favelas do Rio, com todo contexto que existe, é preciso existir essa mobilização. Esse evento abre espaço para uma articulação internacional e dá visibilidade aos problemas que enfrentamos no nosso país, especialmente, ao que se refere à brutalidade contra a população”, disse. “Eu, como mulher negra e que trabalha com a população e o genocídio negro, afirmo que movimentos como esse abrem espaço para falar do que é velado cotidianamente”, lamenta. 

Os atos estão acontecendo em diversas cidades brasileiras. Em Salvador, além desta manifestação, outra está prevista para às 15h, no bairro de Pituaçu. 

Após a vereadora ter sido morta a tiros, o governo federal  anunciou ter colocado a Polícia Federal à disposição para apurar o caso. O assassinato ocorre em meio à intervenção federal no Rio de Janeiro, que completa um mês na sexta-feira (16).

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ter conversado com o interventor federal no estado, general Walter Braga Netto. O ministro disse que cuidará pessoalmente do caso junto às autoridades do Rio. Ele disse ter contatado o chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, que tomou posse do cargo na terça-feira (13). Foto: Clarissa Pacheco/CORREIO Partidos e políticos lamentaram o assassinato da vereadora. O Psol, partido de Marielle, exigiu, em nota, “apuração imediata e rigorosa” do crime, e afirmou que a atuação de Marielle “como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do Psol e será honrada na continuidade de sua luta”.

“Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!”, diz o texto.

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A vereadora e o motorista do carro em que estavam foram baleados e ambos morreram. Uma assessora que a acompanhava sobreviveu. Testemunhas dizem ter ouvido dez tiros. A morte da política de 38 anos ocorre dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro completar um mês. A vereadora era contrária à medida.

O partido convocou uma manifestação em homenagem à vereadora para esta quinta-feira (15), na Câmara dos Deputados, em Brasília.