Autoridades baianas pedem revisão no critério de distribuição das vacinas; entenda

Ministério fala em divisão igualitária, mas falta de transparência dificulta análises de dados; Na última pauta de distribuição, Bahia recebeu menos doses do que PR e RS

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  • Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2021 às 22:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Carol Garcia/GovBA

Os critérios de distribuição de doses de vacinas por parte do Ministério da Saúde tem recebido críticas de autoridades baianas ao longo desta semana. A reclamação que já havia ocorrido em outros estados desde o começo da campanha de imunização, ganhou força na Bahia por conta da disparidade cada vez mais evidente na medida em que a vacinação avança em outros estados, que apesar de terem populações menores que a da Bahia têm melhores desempenhos proporcionais.   Em nota enviada à imprensa, o Ministério da Saúde alega "que o cálculo de distribuição de vacinas é baseado na população-alvo da campanha da Covid-19, conforme estipulado pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO)", e diz que "as doses são enviadas de forma proporcional e igualitária para todos os estados e Distrito Federal".    No entanto, o ministério não deixa claro em quais números se baseia para alcançar a citada proporcionalidade. De acordo com a oitava edição do Plano Nacional de Vacinação, disponível no site do Ministério da Saúde, os dados são baseados em "estimativas preliminares elaboradas pelo Ministério da Saúde/SVS/DASNT/CGIAE, de 2020". O Ministério ainda informa que "para o cálculo do grupo pessoas com 18 a 59 anos, considerou-se o público-alvo não contemplado nos demais grupos prioritários da Campanha Nacional de Vacinação contra a covid-19".   De acordo com o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, os critérios não seriam os proporcionalidade. Segundo ele, o Ministério da Saúde tem seguido regras pactuadas nas reuniões tripartites, entre União, estados e municípios, que definem a estratégia de vacinação. Para Vilas-Boas esses critérios precisam ser revistos.   "Não é verdade que as doses sejam enviadas de forma proporcional e igualitária para todos os estados e Distrito Federal. Elas seguem de acordo com regras pactuadas, mas que não são mais adequadas. É preciso corrigir isso nas reuniões tripartite com @ConassOficial e @conasems", escreveu o secretário baiano no Twitter.   Ele afirmou que em uma reunião do Fórum de Governadores com o Ministro da Saúde, diversos governadores, além do Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o próprio Vilas-Boras solicitaram a mudança do critério de distribuição das vacinas para que este passe a ser proporcional à população dos estados.   "O critério atual gera iniquidades que só fazem se agravar mais a cada dia. O @ConassOficial já se manifestou e irá trabalhar pra mudar na próxima pauta", escreveu o secretário. Última pauta de distribuição mostra que Bahia recebe menos do que estados de população menor   De acordo com dados do último informe técnico com a 29ª pauta de distribuição de vacinas do Ministério da Saúde, datado de 8 de julho, nas distribuições de 2 milhões e 400 mil doses da vacina da Pfizer, a Bahia recebeu 111.150. No entanto, estados que têm menor população como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná receberam mais doses, respectivamente, 159.120, 122.850 e 173.169. A explicação estaria na soma do público alvo desta pauta de distribuição que, de acordo com o Ministério da Saúde, é da soma de Trabalhadores industriais mais pessoas de 59 a 55 anos.   Na mesma pauta, consta os dados da distribuição de 936 mil doses da vacina Coronavac. Neste caso, o Ministério indica como público alvo os trabalhadores da limpeza urbana e manejo de resíduos e pessoas entre 59 e 55 anos, com o destaque de que as doses seriam destinadas tanto para primeira, quanto para segunda dose. A Bahia recebeu 61.800 doses, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Exatamente os três estados de população maior do que a baiana.   No entanto, somadas as entregas totais desta pauta de distribuição, a Bahia recebeu 172.950 doses. Enquanto estados com população menor como o Paraná, que recebeu 220.960, o Rio Grande do Sul, que recebeu 210.320 ficaram com mais doses.  Bahia utiliza proporcionalidade. Salvador fica para trás entre as capitais   A diferença de critérios do Ministério da Saúde impacta as cidades. Na Bahia, por exemplo, a Sesa informou ao Correio que o Governo Estadual usa o critério populacional para distribuição. Com isso, Salvador, capital e maior cidade do estado, é quem recebe mais doses. No entanto, se o Ministério não adota o mesmo critério, a conta reflete em todas as cidades do estado, que recebem doses do que deveriam.   Nesta segunda-feira (12), o secretário municipal de Saúde de Salvador Leo Prates divulgou dados que apontam que Salvador é uma das capitais que menos receberam doses proporcionalmente.   Nos dados divulgados pelo secretário, apenas Brasília, Macapá e Recife receberam menos doses proporcionalmente do que Salvador. Nesta quarta-feira, com baixo estoque, Salvador só terá aplicação da 2ª dose da vacina.   "Em primeiro lugar, minha fala não será contra ninguém, mas sim a favor de Salvador e da sua gente! Como pode a 3 capital em população ser a 5ª que menos recebeu doses proporcionalmente? É preciso rever este critério de distribuição", pediu o secretário.   O governador Rui Costa fez coro na reclamação. "O problema é que as vacinas não estão sendo distribuídas proporcionalmente e isso causa uma distorção grande. Tem municípios que receberam proporcionalmente muito mais vacinas do que as cidades baianas. E o estado da Bahia recebeu menos vacina proporcional a outros estados. Já passou da hora do ministério corrigir essa distorção", disse Rui.   Ele ainda reforçou que os dados não refletem uma possível lentidão dos municípios baianos na aplicação e sim o problema na distribuição. "Eu vi uma matéria hoje que colocava Salvador com menor taxa de vacinação e isso também acontece em outras cidades da Bahia. No entanto, não é porque os municípios estão lentos, ao contrário, estamos com uma rapidez grande na aplicação de vacinas", disse.   Enquanto Salvador suspende mais uma vez a vacinação em primeira dose e ainda vacina pessoas com 40 anos, outras capitais avançam na imunização proporcional. Nesta terça (13), São Luís (MA) já vacina adolescentes com 16 anos. Neste caso, vale destacar que a capital maranhense conseguiu avançar na imunização da população com o envio de lote extra de vacinas, em uma estratégia para evitar a disseminação da variante indiana do coronavírus, identificada na capital em maio.  Falta de transparência dificuldade análises    A falta de transparência em relação aos números utilizados pelo Ministério da Saúde para chegar à divisão das doses causa outros problemas, como a divulgação de dados conflitantes.     A Bahia tem cerca de 14 milhões de habitantes e até esta terça, tem 5.4 milhões de imunizados ao menos com uma dose da vacina contra covid-19. No entanto, o percentual de vacinados leva em conta a população adulta, que é de cerca de 11 milhões no estado, com isso, a Bahia tem mais de 50,5% do público elegível para vacinação no estado já imunizado com ao menos uma dose.    Mas por conta da distorção dos dados, nesta terça-feira era possível encontrar em veículos de imprensa nacionais a informação que a Bahia teria hoje 36,62% da população do estado vacinado. Isso levando em conta todos os 14 milhões de habitantes.