Bahia terá mais de 800 casos de coronavírus até 8 de abril, estima boletim

Na mesma data, Rede Covida aponta que Brasil deve registrar 27.289 infectados e 1.099 mortes pela doença

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  • Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2020 às 21:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Em apenas cinco dias, o número de casos confirmados do novo coronavírus (Covid-19) pode ultrapassar a marca dos 800 na Bahia, dos quais mais de 400 seriam em Salvador. A estimativa dos dados até o dia 8 de abril é dos pesquisadores da “Rede CoVida - Ciência, Informação e Solidariedade”, que lançou o primeiro boletim sobre a pandemia da doença no Brasil nesta sexta-feira (3).

No Brasil, a rede aponta que deve haver cerca de 27.289 casos e 1.099 mortes pela doença em 8 de abril. Para prever os óbitos, os pesquisadores se baseiam na taxa de mortalidade atual do país, que é de 4,03%. 

Até às 17h desta sexta, a Bahia registrou 290 infectados e seis mortes em decorrência da doença. Nacionalmente, são 9.056 pacientes com coronavírus e 359 óbitos.

Ainda de acordo com o estudo, o pico da doença no Brasil deve começar na segunda quinzena de abril, aponta a matemática Juliane Fonseca, pesquisadora na CoVida. “É possível ver diferentes picos a depender do estado, mas, no momento, a epidemia está mais ou menos orientada pelo que acontece em São Paulo. Essas estimativas apontam que estaremos começando a ter um pico na segunda quinzena de abril. Daqui para lá, tem que levar em consideração as ações que já são feitas pois elas podem retardar o pico”, explica Fonseca.

As previsões são atingidas com a aplicação de dados da doença no modelo matemático SIR (Suscetíveis, Infectados e Recuperados). Os dados são coletados automaticamente a cada 15 minutos pelo sistema da rede e ainda não levam em consideração as medidas de mitigação da pandemia tomadas pelo governo. Para a primeira edição do boletim, foram usadas informações coletadas até a última quinta (2).

Os modelos podem apoiar a tomada de decisões sobre a pandemia.  “A modelagem matemática oferece uma janela de oportunidades para fazer previsões sobre o futuro da epidemia em nosso país, e permite que gestores executem as ações necessárias no presente para mitigar seus efeitos”, comenta o bioinformata Pablo Ramos, pesquisador na CoVida.

Cada estado possui uma intensidade e velocidade de disseminação diferente. De acordo com o boletim, o número de casos na Bahia deve sofrer uma elevação rápida em, pelo menos, 10 dia. Em geral, o mesmo vale para todas as unidades federativas que possuem mais de cinco confirmações da doença.

Medidas Apesar do governo da Bahia ter decretado medidas para restringir o contato entre as pessoas, ainda não é possível analisar os impactos destas ações no controle do número de casos. “Existe uma defasagem entre o momento da infecção e o aparecimento de sintomas (denominado tempo de incubação). O tempo mediano de incubação do Covid-19 é de 5,5 dias, podendo chegar a 14 dias”, apontam os pesquisadores em boletim.

Para analisar os possíveis cenários decorrentes das medidas de distanciamento social e conscientização acerca da doença, a rede elaborou três modelos distintos considerando ações de isolamento de 5, 14 e 21 dias.

“O cenário mais otimista é uma redução do contato para cinco dias. Neste cenário se vê um impacto realmente das medidas de restrição de contato, mas ainda assim tem um alto número de infectados. São medidas que podem reduzir o número de infectados, o que também alivia o sistema de saúde”, aponta Fonseca.

Segundo o boletim, uma restrição para cinco dias de circulação de pessoas infectadas reduz em até 260% o pico de casos simultâneos ante uma circulação de 14 dias. Já a comparação com a maior transmissão testada, de 21 dias, a possibilidade é de uma redução de até 327% deste pico. Entretanto, todos os cenários estimam um contágio superior à 50% da população da Bahia durante a epidemia de Covid-19.

“O ajuste dos dados reportados no modelo revela que, em todos os cenários avaliados, a epidemia de Covid-19 na Bahia ainda se encontra em fase intermediária, com avanço na quantidade de casos”, reportam os pesquisadores em boletim.

Recomendações Com base no cenário apontado pelo boletim, a Rede CoVida elencou ações para reduzir a disseminação da doença no Brasil. Dentre as medidas, a vice-coordenadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), Maria Yury Ichihara, ressalta o papel fundamental da disponibilização de informação sobre os casos no Brasil.

“Precisamos de uma disponibilização de informação de qualidade de forma ágil. Elas precisam estar articuladas entre os níveis de gestão do SUS para fortalecer o sistema de registro, fluxo, processamento e divulgação de dados e informações. Assim podemos fazer modelagens precisas com conhecimento da epidemia”, afirma Ichihara.

Sobre o isolamento, a rede aponta para a necessidade de manutenção das medidas de distanciamento social e restrição de viagens. Ainda é necessário estimular o isolamento dos pacientes com sintomas respiratórios recentes e fortalecer a proteção aos idosos e pessoas com doenças crônicas.

Os pesquisadores também recomendam a intensificação da preparação dos serviços de saúde com ênfase no aumento no número de leitos, equipamentos hospitalares e pessoal. Mesmo durante a pandemia, é preciso buscar manter a capacidade do sistema de saúde para atender as demandas de problemas graves, não relacionadas ao coronavírus, indica a rede.

Ainda no âmbito do atendimento, outro aspecto ressaltado é a garantia dos exames para o diagnóstico da doença para subsidiar a estratégia de proteção das equipes de assistência à saúde.

É necessária a conscientização da população para buscar o serviços de saúde em situações de urgência e emergência. O acesso a atendimentos essenciais também deve continuar.

O grupo ainda compreende que deve haver um esforço para que a população consiga manter o sustento durante a pandemia. Há ainda a recomendação de disseminar o uso do Tele Coronavírus na Bahia (155).

Rede CoVida Em um esforço de colaboração científica e multidisciplinar, a rede reúne mais de 150 pesquisadores e 30 profissionais de comunicação voluntários. O grupo tem como objetivo monitorar a pandemia do coronavírus no Brasil e elaborar modelos matemáticos da doença. Informar a população e o auxílio a tomada de decisão das autoridades é outro objetivo do grupo, para isso, há a produção de sínteses de evidências científicas.

A Rede é fruto de uma articulação entre o Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba).

“A Rede nasceu no meio que um grupo de pesquisadores tomou consciência do que seria a gravidade da pandemia no nosso contexto. Começamos a ver que era preciso juntar forças, inteligências e capacidades para se encontrar e se prepara para este enfrentamento. A rede visa colaborar nesse processo”, afirmou o coordenador do Cidacs, Mauricio Barreto.

Em cerca de duas semanas, a Rede construiu um painel de acompanhamento, com dados atuais de casos confirmados no Brasil e análises preditivas para o país até o dia 25 de abril.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro