Baiano de 10 anos faz vaquinha virtual para conseguir estudar na Escola do Bolshoi

Jonathan foi selecionado para o curso de oito anos, em Joinville

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  • Thais Borges

Publicado em 8 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho
Garoto mostra flexibilidade na sala de casa por Arisson Marinho

Quando Jonathan de Araújo, 10 anos, era bem novinho, o policial militar Josué dos Santos, 53, cansava de pedir para o filho tomar cuidado. O menino, cheio de flexibilidade, adorava fazer espacates – aquela tradicional abertura de pernas, conhecida como ‘escalar’. Josué tinha medo que o pequeno se machucasse.  Jonathan pede ajuda para realizar sonho de estudar na Escola do Teatro Bolshoi (Foto: Arisson Marinho) O que nenhum dos dois sabia é que a flexibilidade do corpo de Jonathan iria revelar, alguns anos mais tarde, um potencial do qual não faziam ideia. No próximo dia 21 de janeiro, o menino, a mãe e a irmã embarcam para Joinville, em Santa Catarina, para começar um curso com duração de oito anos na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Fundada em 2000, a instituição é a primeira e única extensão do famoso balé russo de Bolshoi e sua aclamada escola em Moscou, no mundo. 

Para viajar e bancar os primeiros custos por lá, a família do garoto precisa de ajuda financeira. A Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia (Aceb) se mobilizou para lançar uma campanha de financiamento coletivo – uma ‘vaquinha’ virtual, lançada nesta segunda-feira (7), que tem como meta arrecadar R$ 10 mil até o dia 21, data da viagem. Para fazer doações ou saber mais da campanha, visite o link da vaquinha. 

Primeiro contato com o balé Até agosto do ano passado, Jonathan nunca tinha sequer tido contato com o balé oficialmente. Naquele mês, porém, acompanhou os pais e a irmã de 14 anos, Samanta, numa seleção de canto que ela faria, no Hotel Fiesta. Na ocasião, acontecia também seleções para outras escolas, como a do Bolshoi. 

No segundo dia, fase seguinte da seleção de Samanta, a família chegou atrasada e a menina foi eliminada do processo seletivo. Mas a quantidade de crianças que estava ali para participar do Bolshoi chamou atenção dos pais. “Eram muitas crianças, Salvador em peso. Nosso objetivo inicial só era levar Jonathan para que ele não ficasse em casa, mas, ao chegar lá, vimos que ele tinha a idade e o corpo ideal. Decidimos tentar”, lembrou Josué. Jonathan entrou sozinho – os pais ficaram do lado de fora. Lá, encarou uma banca com cerca de dez professores do Bolshoi. “Eu fiz tudo certinho, como eles mandaram. Estou animado e aprendendo balé, não sabia nada antes”, contou, tímido. 

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Empréstimos O menino avançou para outras três seletivas, que aconteceram em dias seguidos, em Joinville. “Tomei empréstimo de banco, fiz um sacrifício para mandar ele e a mãe para Joinville, para poder competir. Tomei um empréstimo de R$ 6 mil”, revelou o pai, Josué, que é subtenente na PM.

Quando o resultado saiu, aproximadamente 15 dias depois, mais uma dificuldade. A família precisava de uma nova viagem a Santa Catarina, porque os filhos tinham que ser matriculados em escolas estaduais até novembro. Para cumprir a exigência, Josué conseguiu milhas emprestadas com uma amiga e parcelou o valor que faltava para pagar a viagem. “Ele sempre gostou de dançar, mas nunca explorou a arte. A dança foi uma descoberta do potencial de meu filho, que eu não sabia que ele tinha. Muitas vezes, só um profissional da área consegue enxergar, como conseguiu também em outras crianças”, comentou o pai.Agora, a família se organiza para se mudar de vez. Jonathan vai morar lá com a mãe e a irmã Samanta. Josué vai continuar na Bahia, por causa do trabalho, com a filha de 18 anos.

Nesta segunda-feira (7), a Aceb se reuniu com entidades representativas dos policiais militares do estado para ajudar a arrecadar fundos.

“Incentivamos outras entidades a colaborar com esta causa tão nobre e às pessoas de bom coração, estimulamos que participem da vaquinha virtual que estamos organizando”, afirmou a presidente da Aceb, Marinalva Nunes.