Baiano e universal

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  • Cesar Romero

Publicado em 3 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Foi premiado com o Premio Ânima, conferido pela Associação de Artes da Croácia, o artista baiano Waldomiro de Deus. É o prêmio mais importante do mundo na categoria naif. Sabe-se que a Croácia a França e o Brasil são os países onde mais prospera este tipo de arte. Waldomiro é um primitivo que cultiva os acontecimentos contemporâneos, fazendo uma arte engajada. 

Muitos críticos de arte se interessaram por Waldormiro, que aborda como exemplo o 11 de setembro, quando as torres gêmeas do World Trade Center foram destruídas, os imigrantes com seus destinos destroçados, os incêndios de grande porte como os do Ed. Andraus, Ed. Joelma em São Paulo, a guerra do Iraque, as destruições de Mariana e Brumadinho.

Waldomiro de Deus nasceu em Itagibá, na Bahia, em 1944, de família simples do interior, viveu sua infância na liberdade dos campos, no traçado dos rios, na intimidade com bichos.

Em 1959, transferiu-se com a família para São Paulo nas asas da fantasia para um mundo melhor. A cidade acolheu o menino que, aos 15 anos, começou a trabalhar como engraxate. Mais tarde, jardineiro. Nos anos 60, surgiram suas primeiras pinturas em papelão, na perseverança de achar um sentido para o deslocamento, para o êxodo. 

Sem opções de trabalho levou suas cartolinas para o Viaduto de Chá, lugar central de São Paulo. Muitos intelectuais que lá passavam ficaram entusiasmados, até que Waldomiro conheceu Américo Pelegrini, quando, de pronto, o incluiu na Primeira Feira de Água Branca, em 1962. 

A mostra foi vista pelo marquês italiano Terry Della Stuffa, que comprou 10 trabalhos. Este o questionou por que o artista não pintava à óleo, Waldomiro de logo respondeu “não tenho dinheiro”. Juntos, compraram cavalete, tintas, diluentes, vernizes, ainda roupas novas e o marquês cedeu uma casa na Av. Rebouças para seu atelier.

Definitivo em sua vida foi o encontro com o crítico de arte Mário Schenberg, que praticamente o “adotou”. Schenberg conversava longamente com o artista, estabelecia leituras cultas, incentivando a crítica social, o ser politizado, que foi incorporado visceralmente pelo pintor.  

Hoje, divide seu atelier entre Osasco (SP) e Goiânia (GO). Com exceção de Jesus que está sempre com um manto, as outras personagens são vestidas de forma atual. Trabalha perspectivas aéreas, sonhadas, levantadas e intenso vigor.

Prefere se dizer “um pintor autodidata”. Traz em si trabalho e audácia. Morou na Itália, Alemanha, França e Israel.

Nosso estado se rende ao talento de mais um filho notável. Waldomiro de Deus é resistência da pintura inventiva e das incontáveis revelações da Bahia.