Baiano Sergio Laurentino é premiado como melhor ator coadjuvante no Festival do Rio

Ele interpreta o personagem Chef em A Viagem de Pedro, da cineasta Laís Bodanzky, sobre Dom Pedro I

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 22 de dezembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Sergio Laurentino não escolheu ser negro, mas tem sorte de sê-lo. É essa a principal definição que o ator de 36 anos, 20 deles no Bando de Teatro Olodum, dá sobre si mesmo. Soteropolitano, cria de colégios públicos, ele foi um dos vencedores no Festival do Rio, que terminou no domingo (19) onde foi premiado como o melhor ator coadjuvante pela atuação no filme A Viagem de Pedro, da cineasta Laís Bodanzky.

A obra ainda foi premiada com a melhor direção, assinada pela paulistana. O filme fala sobre a vida privada de   Dom Pedro I, quando o ex-imperador retorna em fuga para Portugal, no ano de  1831. O filme, protagonizado por Cauã Reymond, foi selecionado para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreou no último mês de outubro.

O longa mostra uma reflexão do personagem a bordo da nau inglesa Warspite sobre sua vida no Brasil - desde a chegada de Portugal ao lado dos pais, em 1808, até sua abdicação, motivada por desdobramentos do seu exercício do Poder Moderador, pela rixa entre políticos conservadores e liberais, bem como pela rivalidade entre brasileiros e portugueses que estavam radicados no Brasil. O filme mostra Pedro em sua intimidade, tentando compreender a série de acontecimentos e o porquê de tudo dar errado . 

Sergio Laurentino interpreta o Chef, um homem viajado e poliglota que faz parte da rotina do protagonista. Chef é um homem de Ogum e isso foi motivo de felicitação para Laurentino, que é do candomblé. Durante as gravações, ele virou praticamente um consultor de rituais da religião, que foram retratados no filme.

“A gente é ator preto e não esquece nunca. Muitos atores e atrizes vieram antes para eu chegar a esse lugar. Quem veio antes é importante demais porque já vinha contando nossas histórias e tem papel importante para que hoje eu consiga avançar”, destaca.

Quando recebeu a ligação avisando do prêmio, ele confessa que não acreditou que era verdade. Saber que é o melhor ator coadjuvante do país era um sonho que não acreditava ser possível. A reação foi gritar, chorar e agradecer. Agora, ele quer usar esse reconhecimento para abrir caminhos para atrizes e atores negros que buscam uma oportunidade boa para mostrar seus trabalho. Sérgio Laurentino e Cauã Reymond no filme A Viagem de Pedro, que ganhou dois prêmios no Festival do Rio  (Foto: Fabio Braga/ Divulgação)  Trajetória

Sergio tem uma longa trajetória no teatro, que inclui trabalhos como o monólogo autoral Se Deus Fosse Preto, dirigido por Jean Pedro, e muitas peças com o Bando de Teatro Olodum, como Cabaré da RRRRRaça e Bença, dirigidas por Marcio Meirelles, Áfricas, dirigida por Chica Carelli, e Nô, dirigida por Tadashi Endo.

Na televisão, atuou nas séries O Caçador e Ó Paí, Ó, ambas na Rede Globo. No cinema, participou também do longa Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro, “Tropykaos, do diretor Daniel Lisboa, entre outros trabalhos.

Essa trajetória começou quando ele ainda era adolescente, aos 16 anos, na Juventude Espírita Celeiro de Paz, projeto do Centro Espírita que fica na Santa Mônica. Ali, o bichinho das artes cênicas mordeu o ator, que continuou em frente, mesmo precisando enfrentar problemas de invisibilização e escassez de oportunidades.

“Minha carreira é assim. O ator negro baiano sempre questiona se é para continuar, mas é tanta gente que me incentiva a não parar que a gente tenta continuar fazendo. São nesses momentos que saímos da invisibilidade que achamos que estamos no caminho certo”, diz Laurentino.

Depois do Centro Espírita, continuou sua caminhada teatral no Colégio Estadual Celina Pinho, no Curuzu; mais à frente no Colégio Estadual Luiz Navarro de Britto, na Liberdade, onde conheceu o grupo que mudaria sua vida. 

Marcio Meirelles era o diretor do Bando de Teatro Olodum. O ano era 1999, dois anos antes Lázaro Ramos interpretou o militante Wensley, na peça Cabaré da Rrrrraça. Meirelles convidou Laurentino para ocupar o lugar que Lázaro tinha deixado. Ele topou, e não saiu mais.