Bandeiras, firmeza e carinho

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Elas estão no front da educação pública na Bahia, são referências nos espaços onde atuam e mostram, na prática, que tem como dar certo, sim. Aqui, falam de caminhos trilhados, dos desafios contínuos e, de alguma maneira, nos dizem: faça a sua parte. Liliane Fonseca, diretora do Colégio Estadual Helena Matheus, São Cristóvão, Salvador. São cerca de 1515 alunos matriculados nos três turnos.

"Ao implementar as políticas de transformação, de acolhimento do ambiente escolar, das salas ambientes e a política da escuta, do olhar de cuidado, o colégio tomou outro rumo, voltou a ter o respeito como instituição de ensino dentro da comunidade. Dentro desses quatro anos de gestão, o números de turmas foram sendo ampliadas conforme as demandas de procura para estudar no Colégio. (...) Alguns alunos chegam sem uma referência familiar, hoje nós temos um índice muito alto em todas as redes de ensino (pública ou particular), de alunos com depressão, que se automutilam, e são demandas que chegam para sala de aula, para o professor, para a gestão escolar, por mais que percebamos que não somos formados para tentar resolver esses problemas, procuramos atenuar, fazendo a escuta acolhedora, os encaminhamentos necessários. (...) Hoje, um gestor escolar tem que ter múltiplas funções, digo que são quatro pilares para uma boa gestão. Trabalhar com o pedagógico pensando nas melhorias do ensino e aprendizado, sendo sempre criativo, inovador, estimulador de novas propostas. Trabalhar no administrativo, para que a equipe esteja toda envolvida para executar suas atividades inerentes às suas funções. Trabalhar no financeiro saber gerir as verbas da melhor forma, para atender as diversas demandas da unidade rscolar, e o novo pilar que é trabalhar com o emocional, é um acolhimento, é um abraço, uma escuta, é colocar amor em tudo que faz." Maria do Socorro, diretora do Colégio Estadual Alaor Coutinho, Litoral Norte, Mata de São João. O público é de aproximadamente 1200 estudantes.

"Quando vim trabalhar aqui, encontrei uma escola muito bonita e um grupo de professores engajados e preocupados com as transformações que estavam ocorrendo no local, por conta do turismo e do investimento em hotéis e resorts, como o Costa de Sauipe. (...) Com o aumento da população, que veio em busca dos postos de trabalho, e do fluxo de turistas, vieram junto problemas como o aumento de violência, desemprego, tráfico de drogas, entre outros. Esses problemas desaguaram na escola e tivemos que aprender a lidar com eles e buscar soluções. (...) Para tentar solucioná-los, começamos uma atividade significativa e valorosa para qualquer ação educativa: a escuta sensível (Barbier, 2004). A comunidade escolar se reuniu para escutar-se. Em diálogo, cada segmento explicitou o que desejava para nossa escola, as mudanças necessárias, o que gostaríamos de construir, principalmente, o que era importante para cada membro do colégio. Nesta escuta, ouvimos coisas inimagináveis e percebemos o potencial transformador do coletivo para pensar a escola dos sonhos.(...) precisamos estar atentos e preparados para qualquer coisa, pois acontece de tudo, das realizações mais fantásticas por professores e estudantes, até dramas humanos dos mais surpreendentes. Cada resultado traz um novo desafio, uma nova meta a alcançar. (...) A diferença em nossa escola está na participação de todos e todas, no engajamento das pessoas para tornar esse espaço diferente, apesar de todo o contexto. Apesar de tudo apontar para o fracasso, acreditamos em uma transformação coletiva." Lorena Bárbara, professora na escola municipal Gersino Coelho, Narandiba-Doron, em Salvador e coordenadora pedagógica da EJA, em Lauro de Freitas, no Parque São Paulo- Itinga.

"As questões mais desafiadoras que os alunos me trazem são as questões étnicos raciais na escola. A questão do racismo é algo muito desafiador ainda hoje em dia. Somos uma população multirracial e aqui mesmo sendo a cidade mais negra fora da África sofremos todos os dias com os impactos do racismo. É muito comum percebermos que alguns alunos negros não se identificam como pessoas negras ou afrodescendentes. A cultura africana na escola ainda é muito folclorizada. Não cabe mais hoje em dia deixarmos para discutir cultura africana nos meses de agosto por conta do folclore ou em novembro por causa da consciência negra. A consciência negra precisa ser celebrada todos os dias e é o que tenho feito através dos trabalhos que realizo. A intolerância religiosa tem sido outro agravante, pois algumas famílias têm tentado interferir nas ações da escola quando abordamos alguns temas referentes à cultura africana. Sempre tenho tentado o diálogo como o melhor caminho e tem dado muito certo. Apresentar as Leis 10.639 e a 11.645 que discutem sobre a obrigatoriedade do ensino das cultura africana e indígena na escola, fortalece o nosso trabalho. Apresentar o plano de trabalho, convidando a família para participar das ações e acompanhamento do trabalho tem sido muito positivo. A família precisa estar do lado da escola, apoiando, criticando, propondo soluções, participando." Cláudia Mattos, professora na escola municipal Cônsul Schindler, São Caetano, Salvador.

"Iniciei minha caminhada a favor da valorização da cultura afro-brasileira e do trabalho com a história dos africanos e dos seus descendentes no currículo escolar, a partir do momento que coloquei meus pés numa sala de aula pela primeira vez. Nesse instante selei comigo o compromisso de mudar a realidade de crianças, mesmo que em menor escala, imposta por uma sociedade dura e preconceituosa. Crianças que, como eu, passam por situações infelizes e cruéis de racismo. (...) Na escola, criei alguns projetos, entre eles o Matemática Fest, o Soletra Aí, o Big Brother Escola e o projeto Rei e Rainha Azeviche, que já tem oito anos. Este - subdividido em “Datas que falam”, “Desfile de turbante”, “Palco Literário”, “Mulheres Negras de ontem e de hoje” e "Concurso Azeviche" - tem como objetivo acabar com aqueles estereótipos que durante muito tempo nos perseguiram, nos machucaram e hoje machucam as nossas crianças por terem o cabelo crespo ou a cor da sua pele não ser “compatível” para representar príncipes e princesas, reis e rainhas das histórias e contos de fada. Ter como meta o trabalho aprofundado na lei 10.639/03, visando uma sociedade mais justa e igualitária, significa para mim a necessidade inquestionável de elevar a autoestima das crianças, preservar os seus valores culturais, pessoais, estéticos, fortalecer o exercício do respeito e se afirmar enquanto negros, sendo descendentes de povos que foram escravizados."