BBB ou 'o coach mandou surtar'

Não sei se passaram 48h desde a entrada desse povo na casa até a primeira confusão chegar ao meu Whatsapp

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 11:10

- Atualizado há um ano

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Não tem nada de "superior" em não gostar do Big Brother. Não é sinal de inteligência nem de sofisticação nem presta pra nada afirmar que "não suporto esse programa" e coisas assim. No meu caso, inclusive, não assisto Big Brother, mas ligo a tevê, todo dia, para ver REPRISE de novela (racista, machista, elitista) de Manoel Carlos com Leblons, Helenas e tudo mais. Já a professora de filosofia disse que não só assiste, como também usa o programa como instrumento para as aulas. Então, tá explicado, né? Começar aqui dizendo que não assisto BBB tá longe de ser uma tentativa ridícula de sugerir que tenho mais tutano do que quem assiste, adora, ama e tal.

(Só informo pra você não me cobrar certos detalhes e entender um negócio que vou falar no final.)

Mesmo sem assistir, dá pra acompanhar. Amigos/as comentam, notícias aparecem e me fazem descobrir que, junto com o programa, surgiu a profissão "coach de Big Brother". Ou seja, com as "formações" (nessas aspas há conversa pra mais de metro) mais diversas, pessoas treinam outras pessoas para que estas pessoas atuem da melhor forma possível durante o tempo em que estarão expostas, durante todas as horas do dia. O que significa "melhor forma possível"? Equilíbrio, tranquilidade, maturidade, respeito ao próximo, senso de coletividade, certo? É não. Pelos vídeos que tenho assistido, notícias que tenho lido e comentários dos/as amigos/as, a "melhor forma possível" é tiro porrada e bomba. É surtar. 

Há a possibilidade de não ter dado certo, claro. Nessa hipótese, o trabalho dos/as "coaches" foi perdido quando, logo na primeira semana, os/as clientes esqueceram o treinamento e deixaram que a espontaneidade definisse o rumo da prosa. Aí, espontaneamente, demonstraram o quanto são desgraçados das cabeças principalmente ao, logo nos primeiros dias, estabelecerem intimidade suficiente para grandes brigas e intensas agressões em um tempo que, na vida de gente saudável, ainda seria reconhecimento de área. 

(Não sei se passaram 48 horas desde a entrada desse povo na casa até a primeira confusão chegar ao meu Whatsapp.)

Só que espontaneidade é o tipo da coisa que, nestes tempos, ficou rara. Muito dificilmente se acha quem ainda atue do jeito que é, quer e gosta. Mesmo em casa, cuidando de filho, segue-se as "encantadoras de bebês" ou "a nutri" que manda rasgar tradições familiares. Na condução da vida todinha tem terceiros apitando, mandando prender e soltar. Agora imagine se não seria "do jeito que o coach mandou" em uma competição valendo grana, emprego futuro e popularidade. 

É tudo combinado, binha. O coach mandou surtar. Ao vivo, no ar. Você tá aí procurando entender e falar de conteúdo quando eles/as estão voltando com as castanhas sabendo que "cancelamento" também é campanha e que, quanto mais "bicho" a criatura for, mais Bial vai querer entrevistar depois. Entre essas pessoas, o objeto de disputa é "que conheçam meu nome" e não representatividade, discurso coerente e outras coisas mais. Antes de dormir, devem pensar "chora, militância, posso fazer nada". Deixe de ingenuidade, ali é a hora da viagem egóica e individual. 

O coach foi contratado pra me fazer conhecer a (famosa quem?) Karol Conka, por exemplo. Que agora sei quem é, mesmo sem assistir o programa, de tanto que falam dela e para ela, de tanto que discordam dessa pessoa, de tanto que "cancelaram". Dos/as outros/as, ainda não lembro nomes. Significa o que? Que precisam surtar mais. Esses são os valores da maioria, neste momento. Ao revelar isso, o Big Brother Brasil é nada menos do que genial.

(Tá esquisito. Vigia a sua vida, a sua condução das coisas, o seu lar.)