Bike preta: coletivo de mulheres negras cria centro cultural que ensina até mecânica

Casa La Frida, em Santo Antônio Além do Carmo, reúne café, poesia, bike e formação cultural

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Caique Santana/ Divulgação

Há quem defenda e há quem discorde, mas não é exagero afirmar que o Santo Antônio Além do Carmo é um dos lugares mais charmosos da capital baiana. O chão de pedras ladrilhadas desde o Pelourinho, as casinhas coloridas que viram cenário para fotografias e a vista para a Baía de Todos os Santos se misturam à boemia da Cruz do Pascoal e tudo isso junto dá o tom do bairro.

É nesse lugar tão cheio de vida e cara de interior que fica a Casa La Frida. Um lugar tão cheio de coisas que é até difícil de definir. Lívia Suarez é uma das gestoras do local, que é oficina de bicicleta, centro cultural e profissionalizante.

Começou lá em 2015, quando Lívia, estudante de Letras na Universidade Federal da Bahia (Ufba), e Maylu Isabel, graduanda em Urbanismo na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), decidiram colocar um projeto na rua. A estudante e empreeendora Lívia Suarez é uma das idealizadoras do projeto (Foto: Helen Salomão/ Divulgação) A bicicleta era parceira na empreitada e, assim, nasceu o “La Frida Bike Café”, uma cafeteria itinerante e poética que atuava no campus de Ondina, na Ufba. As duas amigas recitavam poesias e vendiam café. O projeto logo ficou conhecido na Praça das Artes, local de convivência da Ufba, e as duas ficaram ‘encucadas’ com a quantidade de colegas, especialmente negras, que afirmavam também querer andar de bicicleta e que admiravam o fato de elas andarem para cima e para baixo em uma magrela ou camelo, como também chamam a bike na Bahia.“A gente sempre quis empreender de forma autônoma e decidimos juntar café, poesia e bicicleta. Eu já pedalava na cidade, Maylu começou a pedalar logo depois e criamos o projeto. Frida é uma forma de ressignificar a imagem de Frida Kahlo. Uma mulher miscigenada, com descendências indígenas, e queríamos trazer essa imagem de duas mulheres negras com essas imagens de Frida”, contou Lívia.A cafeteria itinerante rendeu convites para Lívia, Maylu e Jamile - idealizadoras do La Frida - participarem de eventos ligados à temática de mobilidade. Em um deles, o Bicicultura, uma inquietação começou a mexer com a cabeça das meninas: elas eram as únicas mulheres negras participando de atividades como aquela. Somou-se com as lembranças de outras mulheres querendo aprender a andar de bicicleta e pronto: nasceu o segundo projeto do La Frida. Batizado de “Preta, vem de Bike!”, a iniciativa já ensinou mais de 150 mulheres a pedalar por todo o Brasil.

A ideia ganhou admiradoras longe de Salvador, o que facilitou a sua expansão. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Aracaju-SE, Recife, Florianópolis e Porto Alegre são municípios que já receberam o projeto.

Prêmio  Em entrevista ao CORREIO, Lívia fez questão de deixar claro o quanto é importante o empreendedorismo social e a criatividade para mover o La Frida. Essa gana rendeu premiações, que fizeram o projeto se expandir. A principal delas foi internacional e rendeu uma casa para a iniciativa.

A Casa La Frida é fruto de um fundo obtido junto à Frida Kahlo Foundation, instituição que fornece investimento a ações feministas e de impacto social.

Com a casa, vieram novas ideias: hoje o La Frida tem oficina própria, já ofereceu cursos de mecânica para mulheres e tem até invenções próprias. A mais famosa delas é o capacete projetado para cabelos afro, qualquer que seja ele, do black power ao dread.

A La Frida também tem sua linha própria de bicicletas, que podem ser compradas a partir de R$ 450, com opções de personalização.

* Com supervisão da subeditora Tharsila Prates