Blitze de testes rápidos para a covid-19 começam a ser feitas em Salvador

Funcionamento será parecido com Lei Seca, com motoristas aleatórios parados; hoje foi na Pituba

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  • Eduardo Dias

Publicado em 7 de abril de 2020 às 12:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

De longe, a fila de carros e a presença dos agentes da Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador) assustava: dava impressão de que na Orla da Pituba, às 9h30 da manhã de uma terça-feira (7) ensolarada, estava acontecendo uma blitz de trânsito, com direito a testes de bafômetro. No entanto, o que de fato estava ocorrendo no local era o esquema especial de testagem rápida da covid-19, montado pela prefeitura como reforço às ações de enfrentamento à pandemia na capital baiana.   Um stand da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) foi montado em frente à Igreja da Nossa Senhora da Luz para a realização dos testes. De um a um, os carros enfileirados pela Transalvador seguiam até o local onde todos os ocupantes eram submetidos à medição de temperatura. Caso alguém testasse acima dos 37,8 °C, passava pelo teste rápido, caso quisessem. Segundo a prefeitura, o teste não é obrigatório, mas quem se recusar a fazer, automaticamente entrará no monitoramento da SMS.

O bairro escolhido, a Pituba, possui hoje o maior número de casos de coronavírus em Salvador: são 25 já registrados até a segunda-feira (6). O primeiro a passar pelo procedimento foi um morador do bairro, o engenheiro agrônomo Francisco Pereira, 56 anos, que ao saber pela TV que ocorreria a ação de testes rápidos no bairro, decidiu ir logo cedo para garantir o teste. “Eu estava me sentindo um pouco indisposto, e por estar próximo do grupo de risco resolvi ir lá. Minha temperatura deu acima dos 37°C, isso me deixou apreensivo. Me falaram que o resultado chegaria pelo celular e fui para casa. Mas, achei que demorou um pouco e resolvi ir lá saber o resultado: mas tinha dado negativo”, contou. Francisco disse que o resultado do teste rápido serviu para lhe tirar uma pressão que sentia sem saber se estava com a doença. Ele aproveitou para lembrar da importância de ficar em casa nesse momento. “Foi bom ter ido, eliminou a pressão que eu estava sentindo de saber se estava ou não com a doença. Eu acho que esse processo deveria ser para que todas as pessoas fizessem, independente dos sintomas, mas sei que ainda está no início. O importante nesse momento é que a população se conscientize e fique em casa, pois temos que continuar mantendo todo o cuidado possível. Acho que com essa medida, a prefeitura sai na frente atuando dessa forma, é uma ação positiva. Estou vendo que as autoridades baianas estão empenhadas em trazer mecanismos que tragam tranquilidade para a população nesse momento”, afirmou o morador. 

Morador de Patamares, Jackson Lima, 63, estava acompanhado da esposa Nair, da mesma idade, que apresentava sintomas como febre e falta de ar desde a madrugada. Enquanto aguardava o resultado do teste rápido, ele ressaltou a necessidade da ação. 

“Com certeza absoluta essa iniciativa é importante e dá mais segurança à população. A gente fica preocupado com a situação, principalmente com essas medidas sendo tomadas pela prefeitura, mas é o que tem que ser feito”, pontuou Jackson, após o resultado de dona Nair dar negativo para o coronavírus. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Funcionamento De acordo com a prefeitura, ao todo, serão 100 mil testes realizados em diferentes pontos da cidade, sem aviso prévio e espalhados aleatoriamente. A operação funciona da seguinte forma: as pessoas são abordadas de forma aleatória e, sem precisar sair de seus veículos, são submetidas a aferição e quem estiver com temperatura acima de 37,8 °C, será encaminhado para o teste rápido.

O resultado é informado através de mensagem de celular, em prazo de 8 a 10 minutos. Quem tiver resultado positivo terá a contraprova feita pela prefeitura. Vale lembrar ainda que os testes rápidos possuem 80% de confiabilidade. Já a contraprova possui 98%.

O prefeito ACM Neto acompanhou de perto o início dos testes rápidos. Para ele, a operação possui estratégia e objetivo específico. Ele lembrou que o processo de testagem não é obrigatório, mas quem estiver febril e se recusar, já entra para a lista de acompanhamento da secretária de saúde.

"O teste não é obrigatório. No entanto, aquelas que se recusarem vão servir de controle para os nossos índices de avaliação. Organizamos um procedimento muito parecido com o teste alcoolemia. As pessoas serão paradas no trânsito, aleatoriamente, sem aviso prévio. Serão blitze rotatórias, volantes. Cada dia será numa região da cidade. A pessoa vai passar de carro, vai ser selecionada e feita a medição. A ideia é que a gente possa fazer a medição de todas as pessoas durante as blitze. Para não haver ou não gerar um caos no trânsito da cidade, vamos pegar os dados dela, preservando a identidade, tudo sob sigilo, vamos mandar um SMS com o resultado, isso vai fazer com que haja uma boa fluidez. Não vamos parar o trânsito para que aguarde o resultado. É um procedimento simples, ágil e fácil", explicou Neto.

Neto revelou que o modelo de testagem na rua é inspirado em exemplos bem-sucedidos de países asiáticos, que tiveram bom êxito no processo de contenção da proliferação do coronavírus."Colocamos como meta para a Secretaria de Saúde, organizar um processo nas ruas da cidade que pudesse, de maneira aleatória, parar as pessoas em seus veículos e fazer a medição da temperatura. A partir daí, aplicar o teste rápido", completou.De acordo com o prefeito, é uma medida de prevenção. Ele alerta que com a ampliação das testagens, os casos suspeitos e confirmados devem aumentar na capital, mas é importante ter a informação mais próxima da realidade. 

"O número de casos suspeitos vai aumentar, quanto mais se testa, mais aumenta a suspeita. Foi a opção que fizemos, os índices vão subir. No que depender da gente, vamos iniciar esse processo hoje e dar seguimento o quanto for necessário. Eu acho que quanto mais informação a gente disponha, melhor. Quanto maior for o nosso compromisso com a prevenção, com as medidas cautelatórias, melhor", diz.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro