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Paulo Sales
Publicado em 17 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Entre tantas implicações graves para o país, as reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil, na semana passada, serviram também para comprovar que o jornalismo investigativo, como diria Nelson Sargento, pode até agonizar, mas não morre. Quem desta vez o socorreu antes do suspiro derradeiro foi o norte-americano Glenn Greenwald, fundador do site e autor das reportagens. Ganhador de um Pulitzer, Greenwald dá prosseguimento a uma linhagem de repórteres com faro e instinto de detetives, sempre em busca da centelha capaz de incomodar autoridades e implodir instituições aparentemente indestrutíveis.
Sua escola é a de Julian Assange, fundador do WikiLeaks. Ambos se beneficiam de informações obtidas com auxílio de hacking e interceptação cibernética, mas o que fazem, guardadas as proporções e diferenças de estilo, é o velho e bom jornalismo investigativo praticado pelos mestres do ramo. Nomes como Carl Bernstein, Bob Woodward (que revelaram o Watergate) e Seymour Hersh. É deste último um livro sobre jornalismo que já nasce clássico: Repórter - Memórias, lançado recentemente no Brasil pela Todavia.
Hersh é repórter no sentido pleno do termo, cuja carreira, nas próprias palavras, “sempre girou em torno da importância de falar verdades relevantes e que ninguém queria ouvir”. Cada parágrafo é um prazer, tanto pela qualidade do texto quanto pelas histórias saborosas contadas por esse decano da imprensa norte-americana, autor de reportagens que abalaram a República em diferentes momentos da história recente.
Sua lista de serviços prestados ao jornalismo e, por consequência, à sociedade é extensa: revelou desde o massacre de My Lai, no Vietnã, promovido por um batalhão do exército norte-americano contra civis (basicamente mulheres e crianças), até as torturas na prisão de Abu Graib, no Iraque. São trabalhos de fôlego, que exigiram doses generosas de impetuosidade e destemor. Forjado na era de ouro da imprensa, Hersh nos lança dentro do centro nervoso das investigações, entrevistas, discussões com editores e por fim a publicação. Sua receita? Ler exaustivamente. “Nunca fiz uma entrevista sem descobrir tudo que pude sobre quem eu encontraria”.
A leitura provoca entusiasmo, nos fazendo lembrar de outras histórias emblemáticas do jornalismo investigativo. Muitas viraram grandes filmes, como O Informante (Michael Mann), Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula) e o recente Spotlight (Thomas McCarthy), para ficar em apenas três. Por outro lado, o livro deixa claro o quanto o ofício, paralisado pelo pasmo diante da revolução tecnológica em curso, vem sendo desmantelado por crises consecutivas nos últimos anos. É desolador. Mas ao menos nos consola o fato de que botes contra a corrente, como Hersh e Greenwald, estão aí para provar que a melhor profissão do mundo - mesmo com todos os percalços - permanece à tona. Eles nos redimem.