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Da Redação
Publicado em 31 de dezembro de 2021 às 09:48
- Atualizado há 2 anos
Hoje, o Brasil entra em 2022. É o ano do bicentenário deste país e que traduz o pouco ânimo destes tempos, já que são raríssimas as menções ao assunto. Se a vida é feita de escolhas, estamos diante de três escolhas: não celebrar; só nos flagelarmos com os nossos enormes erros; celebrar o que somos de forma a denunciar o que não somos.>
Note que nenhuma emissora de TV até agora lançou pacote de patrocínio em torno da data, nenhuma grande marca fez campanha celebrando, em jornais, sites e revistas não há programação de seminário para debater, celebrar, refletir a data. Nada.>
O aniversário é nosso e é coletivo. Cada um que escolha como quiser desde que respeite democraticamente a forma de o outro celebrar. Eu vou celebrar como sendo uma jaboticaba, como diz Caetano. Sempre usamos a jabuticaba no sentido colonizado e negativo: uma coisa que só o Brasil tem e que é ruim. Mas o Brasil tem um monte de coisas maravilhosas que só o Brasil tem, como a jabuticaba, como ressaltou Caetano. Isto não é um álibi para transformar o ano de 2022 num ano de amnésia. Tive que sair do Brasil com a minha família em 1968 porque senão minha mãe, que era comunista, seria presa. Fomos para Londres, e em Londres aconteceu uma coisa muito interessante: eu virei definitivamente brasileiro, compreendi quantas coisas bonitas tinham só no meu país.>
Eu nasci no estado mais jabuticaba do Brasil, a Bahia. Na Bahia, com a capoeira, até bater nos outros é lindo, e o Ilê quando desce a avenida denuncia com sua beleza, seu talento e sua voz. Este é o Brasil, um país hoje exausto e cego de tanto ver suas belezas como a poluída Baía da Guanabara. Quando eu fiz 60 anos, parei dois dias antes numa praia, listei meus inúmeros descaminhos, agradeci o que eles me ensinaram, celebrei ter sobrevivido e ter aprendido com eles e depois fui celebrar com a Donata.>
Faltam 9 meses para o 7 de Setembro, a data exata dos 200 anos em que Dom Pedro I declarou a independência desta nação, fazendo dela um país, e você individualmente tem 9 meses para escolher como celebrar ou não. Optar por não celebrar é melhor do que ignorar pois é uma escolha, é uma decisão. Mas se você decidir celebrar, aqui vão alguns motivos muito bons de 22: 100 anos da Semana de Arte Moderna, 80 anos de Caetano, 80 anos de Gil, 80 anos de Milton, 90 anos do voto feminino no Brasil.>
Tenho certeza e é obvio que temos milhões de coisas para não celebrar, mas duvido que você só celebre os seus erros no seu aniversário. Saudade é uma palavra que é uma jabuticaba porque só existe em português, e eu ando morrendo de saudades do Brasil. Da beleza e da ambição da Bossa Nova, da ambição que fez Brasília um acerto e um equívoco, do talento global de Machado de Assis, Glauber Rocha, Guimarães Rosa e tantas coisas incríveis que o Brasil já produziu para o mundo. Um país que acertou grande, um país que errou grande, mas sempre se movimentou com a grandeza do seu tamanho.>
Então, hoje à noite, escolha a forma com que você quer celebrar o aniversário do seu país. Aproveitando a lua minguante, que é uma lua de banimento (pois nada cresce na lua minguante), peça tudo o que você não quer para você e para o Brasil. No meu país pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si.>
Feliz Ano Novo com lágrimas nos olhos por todos aqueles que não têm quase nada a celebrar e com gratidão a todos que deram a vida, o talento, o trabalho para que chegássemos, bem ou mal, até aqui.>
Celebro-te, minha jabuticaba linda chamada Brasil.>
*Nizan Guanaes é estrategista da N ideias, consultoria das principais empresas do Brasil. Investidor em start-ups. Embaixador da Unesco. Conselheiro da Neojiba.>
*texto publicado originalmente no Instagram>