Cabeleireiro esfaqueado e apedrejado havia marcado encontro com possíveis criminosos

Testemunhas viram dois homens brancos, altos e fortes entrando na casa da vítima, que segue internada em estado grave

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  • Bruno Wendel

Publicado em 24 de outubro de 2020 às 12:38

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução/Redes Sociais No dia em que foi esfaqueado e apredrejado, o cabeleireiro Rauan Pereira dos Santos, 29 anos, havia marcado um encontro em sua casa com dois homens, com quem vinha mantendo contato durante a semana do crime,. A polícia descobriu que diálogos encontrados no celular de Rauan mostram que ele esperava os rapazes. Segundo os vizinhos, no dia do ataque, ocorrido na terça-feira (20) na Vila Rui Barbosa, dois homens brancos, fortes e altos foram vistos entrando na casa de  Rauan. Após as agressões, Rauan teve os dois pulmões perfurados e continua internado em estado grave na UTI do Hospital Geral do Estado (HGE).  As conversas aconteram mais de uma de uma vez, em dias distintos.  O CORREIO conversou com uma fonte da 3ª Delegacia (Dendezeiros), unidade responsávelo pela investrigação.  “A vítima manteve contato recente com um rapaz na semana do ataque. Nos diálogos, o rapaz marca um encontro com a vítima e diz que vai levar um amigo e a vitima concorda. Pela conversa, a vítima já tinha intimidade com um dos autores. Estamos também com imagens de câmaras”, disse a fonte, que preferiu não falar mais nada. 

O aparelho de Rauan foi encontrado no dia seguinte no local do crime por parentes e entregue à polícia nesta sexta-feira (23).  A irmã da vítima, a motorista Naiara Pereira, 39, disse que o aparelho tinha sido resetado –  maneira mais correta de limpar todos os dados de um celular, apagando todas as configurações e dados. 

“Mas o procedimento não finalizou. No entanto, o celular estava bloqueado, mas aí fui tentando várias senhas até conseguir com a data de aniversário dele (Rauan) acessar o aparelho. Vi algumas conversas, mas estava tão nervosa, que nem li e fui logo à delegacia e entreguei o celular aos policiais”, disse a irmã do cabeleireiro, que levou também o notebook do irmão para a 3ª DP., onde o caso é apurado como tentativa de latrocínio.  Em nota, a Polícia Civil informou que o “celular foi entregue e está sendo analisado pela investigação”. O CORREIO perguntou se já há suspeitos e a PC respondeu: “Ainda não há indicativo de autoria do crime”.  No entanto, os vizinhos de Rauan contaram a Naiara que dois homens brancos, fortes e altos (aproximadamente 1,80m) foram vistos entrando na casa do irmão dela horas antes do crime. Ela acredita que o irmão foi vítima de homofobia.  “Com certeza Rauan foi vítima de homofobia. Porque as pessoas eram brancas, malhadas e que tiveram uma relação (sexual) para depois espancar meu irmão”, disse ela. Naiara disse que peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) recolheram preservativos usados. O estudo dos fluidos seminais em uma investigação criminal visa, entre outros objetivos, a identificação do agressor. Na manhã deste sábado, Rauan passou por uma transfusão de sangue. “Ele ainda está entubado e o estado de saúde dele é muito grave”, contou Naiara. Ela disse que a família está arrasada. “Somos todos mineiros e a maioria da família está em Minas ou fora do Brasil, mas todo mundo está arrasado. Está todo mundo querendo justiça. Meu irmão é um menino incrível e não entendo, até agora, porque esses miseráveis fizeram isso”, desabafou Naiara.  Ela disse ainda que em breve fará uma campanha nas redes sociais pedido ajuda a órgãos e entidades ligadas ao movimento LGBTQIA+. “Precisamos que todos nos ajudem a localizar esses criminosos e que eles não fiquem impunes. Essas pessoas que fizerem isso com o meu irmão não têm amor à vida, agem pelo ódio. Independente da condição sexual de cada um, todos somos seres humanos. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas é preciso respeitar o próximo. Nosso mundo é imenso e tem espaço para todos”, declarou Naiara. 

Em nota, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) lamentou o crime e desejou força para a família da vítima. Confira a nota na íntegra:

A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) repudia a agressão brutal sofrida pelo cabelereiro Rauan Pereira dos Santos, de 29 anos. As autoridades policiais estão investigando o caso, mas a família acredita que o crime seja de homofobia.

Rauan foi esfaqueado e apedrejado dentro do próprio apartamento na última terça-feira (21). O jovem está internado em estado grave no Hospital Geral do Estado (HGE).

A Coordenação LGBT da Superintendência de Direitos Humanos da SJDHDS tomou conhecimento do caso na quinta-feira (22), estabelecendo contato com a família por meia da irmã da vítima. A secretaria está acompanhando a família e colocou a equipe à disposição para dar auxílio neste momento. A SJDHDS também está em contato com a Superintendência de Prevenção à Violência da SSP-BA e com o gabinete do Delegado Geral para acompanhar o caso, além de ter mantido contato com a 3ª Delegacia do Bonfim, onde o caso é investigado.

A SJDHDS reafirma o compromisso do Governo do Estado com uma Bahia livre de preconceitos e violência de gênero ou orientação sexual. Em pleno século XXI, alguns indivíduos ainda buscam orientar suas ações com atitudes atrasadas e movidas à violência.

É importante ressaltar que desde junho de 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal, homofobia e transfobia são considerados crimes. Os ministros do Supremo determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito.

A SJDHDS manifesta à família o desejo para que o jovem se recupere e possa voltar ao convívio familiar o quanto antes.