Caridade que inspira: Santa Dulce dos Pobres vai dar nome a abrigo na Federação

Estudante de Direito começou a fazer caridade ainda na adolescência

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  • Fernanda Santana

Publicado em 20 de outubro de 2019 às 06:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A história da caridade se mistura com a de uma busca por justiça. Foi por não se conformar com a fome, a pobreza, a miséria que a Santa Dulce dos Pobres, quando ainda era uma freira percorrendo as ruas da cidade, dedicou sua vida a auxiliar os mais pobres. É esse ideal, representado na imagem da agora santa que carrega nos braços uma criança - como as tantas que ajudou - que move, hoje, ‘outras Dulces’.“Você pode pensar a caridade como um ato misericordioso e como estilo de vida, de visão do mundo. Podemos olhar como resposta a uma sociedade injusta. Quem olha para os pobres? Nesse sentido, a caridade até extrapola a religião”, afirma teólogo e professor Antônio Carlos de Melo Magalhães.No caso do estudante de Direito Victor Rodrigues, 23 anos, extrapolou mesmo. Desde pequeno, ver o abandono de outras crianças, como ele, causava até dor física. A caridade voltada para os pequenos começou já na adolescência. Agora, o novo projeto de Victor é um abrigo que funcionará, até o final do próximo ano, no bairro da Federação, em Salvador. A Casa Santa Dulce dos Pobres será a primeira a receber o nome da santa baiana.

Hoje, Victor participará do evento na Arena Fonte Nova em comemoração à canonização de Dulce, a partir das 12h. São esperadas 55 mil pessoas de todo o país. Para ele, Santa Dulce é o próprio exemplo de que fazer o bem vale a pena.“Ela, uma freira pequenininha, frágil, é o exemplo de que não existe isso de ‘eu não posso fazer nada’”, afirma Victor, que nos recebeu na área que será espaço de convivência para as 35 pessoas que devem ser atendidas no futuro abrigo.A Casa começou a ser pensada no final do ano passado. Em julho, Victor, coordenador do Obra Lumen - comunidade católica de evangelização fundada em 1989 -, e os voluntários do projeto assumiram as contas do espaço. O grupo de filiação católica já coordena outra casa de atendimento, na Avenida Vasco da Gama. As duas são dependentes de doações para sobreviver.

O bem em números Doações que também fazem andar o trabalho de caridade de Santa Dulce, que começou num galinheiro. O espaço na Avenida Dendezeiros, na Cidade Baixa, se transformou no Hospital Santo Antônio, e dali nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), que só no ano passado, fez 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais de graça.

As obras de Santa Dulce não se resumem ao trabalho em Salvador. A criança que a santa carrega nos braços, na imagem oficial após a canonização, pode ser relacionada ao Menino Jesus. Mas, também, representa as tantas crianças ajudadas por ela, por exemplo, no Centro Educacional Santo Antônio (Cesa), em Simões Filho.

A unidade foi fundada em 1964 e nasceu como um orfanato. Em 1994, tornou-se uma escola de tempo integral. Hoje, junto com Estado e Município, atende a 787 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Trajetórias de vida Não foi só a Santa Dulce que se dedicou às crianças. E as histórias de quem dedica sua vida ao próximo costumam começar cedo, como a de Victor. Nas próximas páginas, você conhecerá as trajetórias de Irmã Violeta e de Estelita Candeias Fonseca, a Ester.

A primeira abriu as portas de casa para receber crianças, mulheres e homens que precisam desde alimento a um teto para descansar longe dos perigos das ruas. A segunda, aos 45 anos, mantém um asilo em Lauro de Freitas há uma década - e tudo começou com uma promessa feita a Irmã Dulce e ao Papa João Paulo II, em 1990.

Há quem diga até que fazer caridade faz bem à saúde, explica o psicólogo Adriano Cysneiros. “Quem de nós ousaria dizer que o amor não faz bem, não é verdade? Os estudos mostram que a prática ou o exercício da caridade reduz os níveis de estresse”, declara.

*Com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco