Carnaval vai movimentar R$ 1,8 bilhão: como ganhar dinheiro na folia?

Secult estima que 215 mil novas vagas temporárias serão criadas

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  • Thais Borges

Publicado em 13 de fevereiro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Por trás dos trios, artistas, músicas e fantasias do Carnaval de Salvador, existe uma movimentação econômica que chega a R$ 1,8 bilhão. Só que, para chegar à cifra bilionária, há uma cadeia que movimenta mais de 50 setores diferentes – da maquiagem aos restaurantes, dos taxistas à rede hoteleira. 

A expectativa da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) é de que a folia de 2020 gere até 215 mil postos de trabalho em até 40 áreas de atuação. Algumas das principais oportunidades estão no segmento de segurança e apoio a festas, que deve contratar 30 mil trabalhadores temporários até o último dia de Carnaval. 

Mas a lista é ampla: inclui, ainda, montagem e desmontagem de estruturas (20 mil vagas), técnicos de luz e som (3,5 mil) e até mesmo os próprios artistas (10 mil). Só no SineBahia, mais de duas mil vagas temporárias para o período momesco foram preenchidas entre a segunda semana de janeiro e a última terça-feira (11) – a previsão é de que novas sejam abertas até o início da festa. 

Alguns trabalham nas vagas temporárias e ainda prestam serviço direto aos clientes. É o caso da designer Gabriela Saraceni (instagram: @saracenigabriela), 32 anos, que há três anos faz parte da equipe de customização de abadás do Camarote Salvador. Este ano, porém, além do trabalho no camarote, que vai das 19h às 3h, ela deve ter outro ponto de atendimento – o Blue Praia Bar, onde fará customização com a sócia, a designer de moda Camila de Oliveira (@camideoliver). “Me formei em Artes na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e, nessa época do ano, as amigas pediam para fazer adereços, acessórios. E como acabei fazendo uma pós-graduação em Moda, uma professora indicou para o trabalho no camarote”, explica ela, que também produz acessórios como brincos e pulseiras carnavalescas.  Há três anos, Gabriela trabalha na customização de abadás do Camarote Salvador (Foto: Divulgação) Tanto no camarote quanto o Blue Praia Bar, ela deve trabalhar da quinta-feira (20) à terça-feira de Carnaval (25). Com preços de customização abadás que vão de R$ 50 a R$ 100, a depender da escolha do freguês, além dos acessórios (que podem custar até R$ 50), Gabriela estima faturar até R$ 3 mil em cinco dias. 

“O verão, em si, é uma grande oportunidade para quem está querendo uma grana extra e que trabalha com acessórios. Existe uma procura muito grande, porque aqui tem muito ensaio, muitas festas, bloquinhos. Salvador mudou de uns três anos para cá. As clientes estão mais exigentes”, explica. 

Transporte A partir deste sábado (15), quando começa o pré-Carnaval, com o Fuzuê, e até o último dia oficial da folia, o taxista João Adorno, porta-voz da Comissão de Taxistas da Bahia, estima que deve faturar até R$ 2 mil. Em qualquer outro período do ano, diz o faturamento ao longo de 10 dias chegaria a apenas 30% disso.“No Carnaval, eu começo 10h e vou até 2h da madrugada. Mas considerando as dificuldades que o país vem atravessando, o Carnaval é uma forma de a gente conseguir incrementar a nossa renda”, explica. Para atrair passageiros, ele tem estratégias próprias para o período da folia. Além do álcool gel, das balinhas e da água que já costuma levar no carro, em alguns dias, oferece até cerveja aos clientes. Além disso, algumas corridas têm preço fixo: qualquer corrida que vá do aeroporto a algum hotel de Salvador (ou o contrário) paga, no máximo, R$ 65, independente da região da cidade. 

Assim, um passageiro que estiver hospedado em um hotel ou pousada da Barra pode sair do aeroporto pagando o mesmo que alguém que estiver hospedado na Avenida da Tancredo Neves, por exemplo.  Ele também prefere rodar com a bandeira 1, ainda que a bandeira 2 esteja autorizada pela prefeitura no período. 

“É uma coisa que faço para movimentar. Às vezes, a pessoa já está em Salvador há uns três, quatro dias, e já com uma grana curta. Eu entro com a solução porque mantenho o preço”. É assim que consegue a maior parte dos clientes – hoje, a cada dez corridas, seis são previamente agendadas. 

O presidente da Associação Geral dos Taxistas, Dênis Paim, explicou que, no passado, os taxistas chegavam a faturar R$ 900 por dia, no Carnaval.“Hoje, reduziu bastante. Mas mesmo com a chegada dos aplicativos e da concorrência, o Carnaval ainda é o evento que temos mais expectativas, por ser uma festa elástica, que dura 10 dias. É o momento que a gente aguarda”, diz. Aumento Desde o ano passado, a maquiadora Daniela Silva, 26, consultora de make do Instituto BetoBita, passou a atender com mais frequência no Carnaval. Para as clientes, opções de maquiagem com brilho, neon e cílios postiços, além de penteados descolados.  Daniela acredita que ter divulgado seu Instagram (@makedanii) ajudou a encontrar mais clientes (Foto: Divulgação) “Acredito que, em 2018, eu tenha faturado entre R$ 600 a R$ 700 porque não atendi todos os dias. Esse ano, mudou totalmente. Já tenho clientes agendadas que já fizeram até pagamento. Pelas minhas contas, (o faturamento) deve aumentar de quatro a cinco vezes, porque trabalhei muito o Instagram e está bombando de cliente”, comemora. A maquiagem pode custar entre R$ 100 e R$ 120, enquanto os penteados – mais simples do que os formais para casamentos e formaturas – ficam em torno de R$ 80. Atendendo tanto no estúdio próprio quanto no Instituto BetoBita, ela deve ganhar, em uma semana, o que recebe em um mês inteiro. 

“Para mim, é o momento de grande aumento de renda, porque tem uma procura forte de maquiagens diferenciadas. No resto do ano, a gente faz aquelas maquiagens mais formais. Agora, a gente pode abusar do brilho”. 

Até franquia Algumas empresas têm operações específicas para o Carnaval. É o caso do Coxa Coxinha, que entrou em operação justamente em um ensaio de um bloco na Praia do Forte, há cinco anos. Durante a folia, além das lojas em três shoppings (Barra, Bela Vista e Paralela), que vão funcionar de acordo com o horário dos estabelecimentos, a marca estará presente em cinco camarotes do circuito Barra-Ondina – Nana, Club, VillaMix, Skol e Expresso 2222.  Coxa Coxinha estará em cinco camarotes (Foto: Divulgação) Em alguns dos camarotes, a quantidade de coxinhas encomendada para a folia chega a 1,5 tonelada.“Desde que a gente abriu a empresa, a gente apostou bastante no Coxa Coxinha para eventos. A coxinha é um produto muito competitivo no Carnaval porque tem uma aceitação muito boa. As pessoas gostam tanto de coxinha que o retorno de marca é muito importante”, diz a proprietária do Coxa Coxinha, Renata Masser.Para dar conta do serviço, a operação carnavalesca conta com uma equipe com cerca de 40 pessoas, entre motoristas, repositores, responsáveis pela fritura, atendimento e coordenadoras. Geralmente, há pelo menos algum funcionário de cada loja fixa na equipe – os mais acostumados e que gostam de trabalhar no Carnaval. 

Do restante, mais da metade dos temporários desse ano fez parte da equipe no ano passado. “O Carnaval é o evento mais rentável do ano, porque os outros são mais pontuais. No Carnaval, tudo se concentra ali naqueles dias. O faturamento é o dobro do que normalmente seria”, explica Renata. 

A relação com o Carnaval é tão forte que chegou a outros desdobramentos. Em 2016, uma foliã conheceu a empresa no camarote do Nana. Ela se interessou tanto que, em julho do ano passado, abriu a primeira franquia do Coxa Coxinha em Belo Horizonte (MG). 

“Ela se apaixonou, disse que queria levar para lá. Na época, a gente nem tinha o projeto de franquia formatado”, revela a proprietária. A mesma franqueada deve abrir uma segunda loja em abril, na mesma cidade. 

Abertura Mesmo lojas e centros comerciais que querem faturar na folia podem funcionar. Nesta terça-feira (11), a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-BA) e o Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas) divulgaram uma nota pública informando que não existe nenhum impedimento legal para abrir os estabelecimentos comerciais. 

"Isto se deve a dois motivos. Primeiro, legalmente não existe feriado durante o Carnaval, no município de Salvador e, em segundo, o trabalho aos domingos e aos feriados está devidamente autorizado pela Medida Provisória n.º 905, do Governo Federal, de novembro de 2019 (art. 28), devendo ser assegurados, ao empregado, todos os direitos trabalhistas previstos em lei", dizem. 

Na rede hoteleira, de acordo com a Secult, serão gerados 1,7 mil novos postos de trabalho. A estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Bahia (Abih-BA) é de que essas contratações representem um acréscimo de 15% a 20% no número de funcionários, entre governança, limpeza e recepção. 

A expectativa é de que a ocupação chegue a 95% da capacidade, alcançando 100% em alguns dias. Ainda que o número de leitos não varie, o presidente da entidade, Luciano Lopes, prevê um crescimento de 30% no faturamento. “A diária média é de R$ 900 no Carnaval, enquanto a média no restante do ano é de R$ 280, R$ 260 por dia. É um reflexo do verão que é o período de maior movimento”. 

Quer ganhar dinheiro no Carnaval? Confira opções para a folia 

1) Customização de abadás 

2) Venda de acessórios e fantasias 

3) Transporte de passageiros (Uber, táxi...)

4) Fotografia 

5) Segurança e apoio de eventos 

6) Maquiagem e penteado 

7) Aluguel de banheiro domiciliar 

8) Aluguel casa/quarto

9) Pinturas artesanais no corpo 

10) Pet sitter para donos de animais que viajam na folia 

O CORREIO Folia tem o patrocínio do Hapvida, Sotero Ambiental e apoio do Salvador Bahia Airports e Claro.