Carro com câmeras fiscaliza veículos que não pagaram para estacionar na Zona Azul

Scancar está em fase de testes na capital e pode ser utilizado pela Transalvador após licitação

  • D
  • Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Qualquer paradinha rápida em uma das 12.843 vagas de Zona Azul de Salvador sem pagar a tarifa pode render uma multa para o motorista. Mesmo assim, os condutores de Salvador ainda tentam dar um jeitinho e fugir da fiscalização para não desembolsar os R$ 3 por duas horas de estacionamento.

Quem tem esse hábito, é bom ficar atento, porque uma nova tecnologia de inspeção pretende acabar com essas fraudes em Salvador. Trata-se do Scancar, uma espécie de fiscal dos infratores que está em teste na capital baiana e promete auxiliar o trabalho dos agentes de trânsito. É uma espécie de dedo-duro mesmo.

Com 20 câmeras com infravermelho, um sistema de GPS, conexão 4G e antenas, a empresa de engenharia Egis Brasil transforma um carro de passeio em um fiscal de trânsito capaz de verificar quais carros estão parados de forma irregular. Até agora, a possibilidade de colocar o Scancar para aplicar multas ainda é incerta, já que a Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador) só vai decidir sobre a inclusão da tecnologia na rotina de trabalho após os testes, que devem acabar no final de setembro.

Apesar de serem criticadas por quem as recebe, as multas de trânsito buscam educar os motoristas. Quem estaciona na Zona Azul sem pagar ou excede o tempo da cartela recebe uma multa grave. Aí o motorista soma cinco pontos na carteira de habilitação e ainda tem que pagar R$ 195,23. De janeiro a julho de 2019, foram emitidas 19.795 penalidades do tipo na capital. Para o superintendente Fabrizzio Müller, o equipamento pode otimizar a fiscalização e também beneficiar os condutores.

“O carro consegue fiscalizar mais do que um agente. Tem os guardadores clandestinos, que ficam parados e extorquindo as pessoas. Com o equipamento, aumenta a respeitabilidade do usuário para a Zona Azul e desestimula o cartelinha clandestino. Se o motorista paga a tarifa, acaba eliminando esse problema”, pontuou.

Com o processo de educar os condutores, a expectativa é de que haja uma maior rotatividade das vagas em Zona Azul, o que reflete em um menor tempo de procura pelo estacionamento livre por parte de quem precisa estacionar, como afirma o diretor adjunto de Rodovias e Aeroportos da Egis no Brasil, Celso Keppe. 

“A tecnologia pode aumentar o respeito dos motoristas no uso das vagas. Reduz o tempo de busca e o deslocamento improdutivo, além de aumentar a rotatividade das vagas e  a democratização o espaço público. Com esses fatores, o impacto ambiental pela emissão de gases poluentes também reduz”, afirmou o gestor. Carro já circula por Salvador (Foto: Marina Silva/CORREIO) Benefícios para a população A estudante Lara Araújo, 21 anos, tem hábito de usar as vagas de rua e reclama do valor cobrado pelos guardadores clandestinos, além da impossibilidade de escapar da cobrança deles. “É muito mais caro. Às vezes, eles cobram dez reais em um lugar que seria R$ 3 na Zona Azul. Se você não paga, corre o risco de ter algum dano no seu carro. Isso acontece muito. Tem lugar que os guardadores cobram R$ 20 em dia de festa. Eles ainda somem e não cuidam do carro”, reclamou.

Outros avanços tecnológicos, como o uso do aplicativo Zona Azul Digital para efetuar o pagamento, é comemorado por quem usa o serviço. “O aplicativo trouxe vantagens. Tem maior independência porque já pode parar sem fiscal próximo”, comentou o bancário Alberto Luiz Baldini, 38.

Do lado de quem trabalha nas ruas emitindo as cartelas físicas, o aplicativo torna o estacionamento mais confuso, já que eles não conseguem saber se o condutor pagou ou não pelo serviço. É nesse cenário que os profissionais acreditam que o Scancar, se adotado, pode trazer menos fraudes para o sistema, o que promete gerar mais clientes pagantes e mais vagas livres.

A guardadora Cláudia Santos, por exemplo, diz que sofre com isso diariamente. Ela não tem como checar se o motorista pagou pelo estacionamento e depende da Transalvador para checar a situação dos carros. “Muitos dos motoristas usam o aplicativo e a gente só vê quem pagou ou não quando a Transalvador faz a vistoria”, disse.

Ciente das queixas, Fabrizzio Müller reforçou que o guardador não deve fiscalizar o estacionamento e que o uso do aplicativo é uma opção do cliente. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Realização dos testes Até o momento, o Scancar está na primeira fase de testes em Salvador. Fabrício Alves Gomes, engenheiro civil especialista em geotecnologia e responsável pelas experimentações com o equipamento na capital, explicou que é testada a eficácia da leitura das placas e do acerto dos alfanuméricos - a combinação entre os números e as letras nas chapa.

Na primeira etapa, os funcionários da Egis Brasil passam nas ruas escolhidas para anotar as placas do carro e, depois, o equipamento escaneia as chapas. Por fim, as informações são comparadas.

Nas próximas fases vai ser criado um banco de dados para simular a reação do equipamento aos carros que não pagaram a Zona Azul, com objetivo de checar a eficácia da seleção dos carros e do envio dos dados dos infratores. Por fim, vai ser posta à prova a implantação no sistema na base de dados da Transalvador de forma isolada para não atrapalhar o sistema já existente.

Antes de enviar as imagens e checar se o motorista cometeu ou não uma infração, o carro tira fotos em 360º da rua e envia para o Centro de Controle de Operações da Transalvador. Com as imagens, um agente de fiscalização pode verificar se o condutor cometeu ou não uma infração diretamente do local, sem precisar ir até a rua para atestar a situação.

De acordo com o engenheiro responsável pela testagem do Scancar, a primeira fase de testes é realizada nas seguintes ruas: Av. Estados Unidos e Av. França, no Comércio; Av. Almirante Marques de Leão, na Barra; Rua Fonte de Bio, no Rio Vermelho; e Na Av. Magalhães Neto, na Pituba.

Ao fim dos testes, os resultados vão ser enviados para a Transalvador, para que seja decidido se o serviço deve ser implantado pela prefeitura. Se for aceito, a gestão municipal deve consultar o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para que seja criada uma resolução para o equipamento. Por fim, é aberto um processo de licitação. A Egis Brasil pode não ser, inclusive, a empresa escolhida para operar o serviço em Salvador.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro