Carro popular zero km chega a custar R$ 67,5 mil em Salvador

Montadoras têm menor estoque de novos desde 1999; preços sobem até 44%

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  • Marcela Vilar

Publicado em 27 de setembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Volkswagem/Divulgação

Se você pensa em comprar um carro novo, prepare o bolso. Os preços dos modelos zero km, incluindo aí os veículos populares,  dispararam  desde o início da pandemia há 18 meses. Os reajustes, em alguns modelos, passam de 40%. E tem mais: apesar do forte aumento, a maioria das concessionárias de Salvador não dispõe hoje de produtos para a entrega imediata e é preciso esperar até  inacreditáveis   seis meses para levar o carro para casa. O Gol 1.0, da Volks, por exemplo, não sai hoje por menos de  R$ 67.500. Já o HB20, da Hyundai, custa a partir  R$ 61.890 mil, em Salvador, "na promoção". Há 18 meses, este mesmo modelo, com o  motor 1.0, saía por R$ 42.990, ou seja, 44% a menos. Já o Mobi, carro mais barato da Fiat, custa a partir de R$ 55.900, quase 20% a mais que em 2020.  O motivo para a alta nos preços, de acordo com seis concessionárias ouvidas pelo CORREIO, é a falta de insumos para a produção de veículos,   como o aço e, principalmente,  semicondutores -  material que conduz correntes elétricas. Eles são os responsáveis pela produção de chips usados nos mais diversos aparelhos eletrônicos, como smartphones, videogames e computadores. Como não há material suficiente para fabricar os  veículos, a produção nas montadoras chegou a parar. Na Chevrolet, a queda na produção foi de 80%, segundo Kennedy Caduda, gerente de vendas da Columbia Veículos, unidade do Cabula. “A produção reduziu até 80%, mas, hoje, está em 50%. A tendência é diminuir, até normalizar a falta de matéria-prima”, afirma Caduda. O Onix, principal carro de entrada da marca, está sendo vendido a partir de R$ 67.050. Há alguns meses, custava R$ 54.900. “A tendência é aumentar mais, por isso que orientamos o cliente a não prorrogar a compra. Como está faltando insumos, aumenta o preço do carro. E, como estamos vendendo menos, devido a baixa  disponibilidade de veículo, é preciso aumentar o preço, para manter a margem de lucro da montadora”, explica. Além de comprar  os veículos mais caros, o consumidores estão tendo que esperar muito  mais para pegar a chave do carro zero, porque não há pronta-entrega de nenhum modelo. Nos cinco anos em que Kennedy Caduda trabalha na empresa, nunca presenciou fila de espera. Agora, a média de tempo chega a 45 dias.  Na Fiat, existem modelos que demoram até seis meses para chegar na garagem do cliente, como é caso do Strada. A falta de peças também fez com que a produção de alguns veículos da marca  parasse desde janeiro, a exemplo do Uno. Ainda não há previsão de quando a produção do modelo voltará  ao normal, segundo o gerente comercial da Fiori Diogo Cardoso. Por enquanto, o modelo mais barato da marca é o Mobi Like, por R$ 55.900. Há um ano e meio, ele custava R$ 46.900. “A gente está com lista de espera, porque está muito difícil ter carro para pronta-entrega. O estoque, hoje, é muito baixo. As pessoas querem carro novo, mas a gente não tem como entregar, porque não tem como produzir. Dizem que só vai voltar ao normal no segundo semestre de 2022”, comenta Cardoso. Vendas dobram

Na Hyundai e na Caoa Chery da Paralela, mesmo com os altos preços, as vendas dispararam. “A procura aumentou bastante, estamos vendendo mais do que antes da pandemia. Chegamos a vender 200 carros, em maio, e 145 em agosto, e só não vendemos mais pela falta de produtos. Temos 20 pessoas na espera para o HB20. Antes, não faltava carro, hoje, a fábrica se divide na produção dos modelos entre as 300 concessionárias do país. Então uma semana falta o modelo intermediário, na outra, o de entrada”, diz Gleidemilton Campos, gerente de vendas da Hyundai da Avenida Paralela.  Assim como a Fiat, a Hyundai enfrenta problemas de veículos que não podem continuar a entrar no mercado por falta de matéria-prima. Campos afirma que a montadora não tem condição de atender a demanda pelo  Creta e que existem 40 pessoas na fila de espera. Como os produtos estão escassos, o poder de barganha do cliente caiu.  “Por conta da produção limitada, a gente acaba não podendo dar bônus para o cliente, porque a fábrica está vendendo tudo que está produzindo, então não tem como ceder nos descontos. O cliente não tem mais aquele poder de barganha que tinha antes. Como tem pouco veículo, o preço não pode ser baixo”, acrescenta Campos.  A Caoa Chery está vendendo o dobro de carros, quando comparado ao início da pandemia. A marca não tem modelos populares. O veículo mais barato é o Tiggo 2, por R$ 82 mil. Em março de 2020, ele custava R$ 57 mil, ou seja, está 44% mais caro. “O aumento foi geral, em todas as montadoras. A tabela de preço sobe todos os meses”, relata a gerente de vendas da Caoa Chery da Paralela, Paula Cardoso.  A Associação Nacional dos Fabricante de Veículos Automotores (Anfavea) não vê motivos para a subida de preços. ”Não vemos nada que justifique uma disparada nos preços dos carros novos. Usados sim, subiram muito acima do IPCA, pela falta de oferta de modelos 0km na rede”, comenta a Anfavea.  A associação diz que o Brasil tem, hoje, o menor estoque de veículos novos desde 1999. “Temos o estoque mais baixo de veículos novos desde que começamos a aferir esse índice, em dezembro de 1999, por conta da crise global dos semicondutores, que tem provocado paralisações de fábricas nos últimos meses e uma queda drástica no volume de produção de automóveis”, comenta a entidade.  “Essa crise só deve ser resolvida no segundo semestre de 2022. Infelizmente, a escalada inflacionária não sugere nenhum alívio a curto e médio prazos nos preços gerais da economia, não só no dos carros”, completa a associação, citando o relatório Focus e outros índices que apontam para a inflação futura. Procurada, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.

Preços de carros novos modelo 2021/22 (fonte: Kbb e concessionárias)Volkswagem  - Gol 1.0: a partir de R$67.500 - Polo 1.0: a partir de R$69.990

Chevrolet - Onix: a partir de R$ 75.290 - Onix Plus: R$ 80.550 - Joy: a partir de R$ 62.190 - Joy Plus: R$ 66.790

Hyundai - HB20: a partir de R$ 63.990

Citroen  - C3: a partir de R$ 62.090

Fiat - Uno: a partir de R$ 59.028 - Mobi: a partir de R$ 48.448 - Argo: a partir de R$ 67.829

Honda - Honda Fit: a partir de R$ 90 mil

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro