Carta aberta de uma mãe usuária do serviço de home care, aos técnicos de enfermagem

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  • Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2021 às 22:53

- Atualizado há um ano

Começo falando que, se você exerce o seu trabalho com profissionalismo, respeito e humanidade, essa carta NÃO é para você.

Façamos uma reflexão: o que motivou vocês a se formarem em técnicos de enfermagem? Por que optaram por trabalhar em home care?

Acredito que os motivos foram vários, e inúmeras foram as circunstâncias que conduziram vocês até aqui. Inclusive, acredito eu, que algumas dessas circunstâncias foram traçadas com dificuldades, porque todo caminho tem os seus percalços e as suas dores. Mas eu quero acreditar que muitos de vocês também tenham chegado até aqui por amor. Pelo genuíno desejo de servir e ajudar. Para fazer a diferença na vida das pessoas. Porém, confesso que é esse amor à profissão, que busco exaustivamente enxergar em algumas das minhas experiências.

Com três anos tendo assistência de home care para minha filha, posso dizer que já passei por diversas situações, e ter um profissional 24h dentro da nossa casa, tirando nossa privacidade, não é uma coisa fácil e exige do núcleo familiar uma administração de todo o processo.

A família que precisa desse cuidado, na maioria das vezes, é uma família fragilizada, cansada, que necessita da ajuda de um profissional no real sentido da palavra. No momento que esse técnico chega e não consegue ter essa visão da família, ele chega para atrapalhar e não para ajudar.

Então eu peço agora, escuta com atenção o que eu tenho para dizer. Talvez vocês precisem relembrar algumas coisas:

Se o paciente tem assistência de home care, significa que ele está em internamento domiciliar. Então:

1: A casa do paciente é o seu local de trabalho, onde se deve manter o profissionalismo e a melhor relação possível com a família. Não se envolva em questões e conversas familiares. A privacidade já é difícil, então tente ser o mais discreto (a) possível. As casas e os locais de trabalho têm suas próprias regras.

2: O que não souber fazer, assuma. Seja humilde. Existem famílias sem nenhum conhecimento técnico confiando em você. E existem ainda famílias com muito conhecimento, que vão perceber que você não sabe o que deveria saber, e a confiança será perdida. Lembre-se: O paciente é sua responsabilidade. É sua razão de estar ali.

3: Se o seu plantão é de 24h, teoricamente, você irá descansar 48h ou 72h. Sei que nem sempre é possível. Que é preciso ter mais de uma escala pra sobreviver, mas combine com a família as suas 2h de descanso, e não durma pesado, principalmente à noite. Inúmeras situações acontecem com o paciente e você precisa estar atento. Ele é sua responsabilidade, lembra?

4: Trate bem o paciente. Cuide dele com amor. A situação dele poderia ser a de qualquer um da sua família, ou até mesmo a sua. Dar qualidade de vida a ele é a premissa da sua profissão. Se você não é capaz de dar o mínimo de conforto e atenção, você está na profissão errada.

5: Escute a família. Ninguém conhece melhor o paciente do que a família, principalmente se esse paciente for uma criança. Escute a mãe, observe e aprenda o jeito dela de fazer as coisas. Sugira o que você acha correto e melhor, mas não imponha a sua teoria.

6: Você e suas colegas de escala não precisam ser melhores amigas. Se forem, ótimo! Todo mundo sai ganhando. Mas se não forem, mantenham o respeito e lembrem- se: esse é seu ambiente de trabalho, a família e o paciente não têm nada a ver com seus problemas pessoais. Seja profissional!!

7: Não faça complôs, pré-julgamentos da família e nem insultos com palavras chulas nos seus grupos de WhatsApp. Essas mensagens, com certeza, chegarão até o familiar e medidas cabíveis serão tomadas contra vocês. O profissional que faz esse tipo de coisa está na profissão errada.

8: Essa vai para as cooperativas e as empresas de home care. Treinem os seus profissionais! Façam diversos testes, capacitem e paguem bem. Profissional capacitado e bem remunerado trabalha melhor. Não mande para casa do paciente profissional que vocês não conhecem o trabalho porque, dessa maneira, vocês não podem garantir a qualidade na oferta do serviço. Inúmeros deles não sabem absolutamente nada, às vezes me pergunto como se formaram. É triste, mas é realidade sentida nas horas amargas de diversas experiências negativas. Tenham, antes de tudo, responsabilidade e compaixão.

E, por último, um recado bem pessoal:

Não existe paciente “bomba”. O que existe é uma pessoa precisando de cuidados, e uma família precisando de ajuda. Trabalhe a empatia em você. Uma vez eu escutei a Lau Patron, escritora e mãe ativista, falando algo que fez bastante sentido para mim. “Empatia não é se colocar no lugar do outro, se colocar no lugar do outro é algo inalcançável. Empatia é enxergar a situação do outro e escolher se importar.” Escolha se importar, se importe com esse paciente. Eu ressiguinifiquei toda minha caminhada para oferecer a minha filha o máximo de qualidade de vida, então eu não aceito nada que fuja desse objetivo. Se você vem para somar, e fazer valer a sua profissão, aqui você será sempre muito bem vindo(a)!!

Bárbara Padre* Mãe de Iza Padre Normando, 4 anos Usuária do serviço de home care em Salvador