‘Cerveja me f*de’: hétero fraco pra bebida, Zói Pucu é tipo típico na folia; leia relatos

Criador de fenômeno da web, Dum Ice comenta casos de machões que viram a chave no Carnaval: ‘se tá se divertindo, não tem problema’

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  • Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Personagem criado por Dum Ice há apenas dois meses, Zói Pucu bomba na avenida (Foto: Reprodução) “Eu sou do movimento, rapaz! Já furei pneu da Rondesp”, avisa Zói Pucu, personagem criado pelo humorista Everton de Almeida Barbosa Santos, 27 anos, mais conhecido como Dum Ice, ao tentar demonstrar via brabeza fake que não estava dando em cima de um coleguinha.

Nascido há dois meses (na boca da folia), Zói Pucu foi o maior fenômeno desse Carnaval, com música-homenagem da La Fúria e centenas de plaquinhas pela avenida levando o principal bordão do personagem: “Cerveja me fode”.

Em seu Instagram, usando o filtro Sid Blink (que deixa os olhos mais separados), Dum satiriza, segundo ele, um tipo muito comum nos bairros populares e, segundo uma consulta informal que fiz a amigos e conhecidos gays, na avenida. A propósito, há alguns relatos lá embaixo. Até vendedor(a) de Príncipe Maluco aderiu ao hit (Foto: Reprodução/Instagram) Cá em cima, Dum também indica que os chamados “encubados”, termo recém-ressuscitado pela banda A Travestis, são tipos muito comuns e, digamos, dissimulados.“Conheço homens que no Carnaval fazem de tudo um pouco e depois que passa (a festa) não lembram de nada. Mas se tá se divertindo, sendo feliz, não tem problema nenhum”, aprova o humorista, que desde o advento de Zói Pucu saltou de 900 mil seguidores para 1,2 milhão. No embalo desse sucesso todo, Zói convocou os seguidores a levar o bordão pra avenida, e deu certo, inclusive entre os héteros-no-bom-sentido, como diz um conhecido. Ian Galvão foi um dos fãs de Dum Ice que aderiram a Zói Pucu: 'Muita gente interagiu comigo' (Foto: Marina Hortélio/CORREIO) O universitário Ian Galvão, 24, foi um dos que se alistou no batalhão do “cerveja me fode”, embora garanta que a conduta não mude nem com um engradado no juízo.

“Um bróder me apresentou uns vídeos dele (Zói). De início, achei bem besta, mas acabei me rendendo. Dou altas risadas. E Carnaval é alegria, né. Nada melhor do que usar uma fantasia engraçada”, diz Ian, que comemorou o sucesso da fantasia: “Muita gente interagiu comigo e em diversos momentos quando eu passava ouvia frases do Dum Ice. Eu respondia com uma frase dele também, claro”.

Veja vídeo do personagem em ação.

Mas, digaí Dum, como foi mesmo que surgiu Zói Pucu e por que você acha que ele é tão bombado?“Em todo bairro tem um cara que bebe e aí liberta um outro lado que tem. Uns gostam de beijar, outros gostam de apalpar o outro, só que ali é por causa da bebida. Sem beber já não é assim, então, isso que tornou o personagem forte porque acontece em todo lugar. Eles acabam falando que é sempre na brincadeira, característica do meu personagem também”, complementa. Dum Ice, fora do personagem: humorista, que é agenciado pela Vox, saltou de 900 mil seguidores para 1,2 milhão após Zói Pucu (Foto: Reprodução/Instagram) Sem querer dar um tom mais sisudo ao assunto, mas já dando (ui!), perguntei ao sociólogo Leonardo Nascimento, do ICTI/UFBA (também hétero e fã de Carnaval), o que acontece nesse período que faz com que alguns machões se sintam à vontade de paquerar e até dar uns pegas em outros homens. A resposta foi tão bacana que eu resolvi colocar na íntegra, sem cortes, como uma nota de esclarecimento ao assunto. Segue em três atos:"Essa ideia de que haveriam duas identidades claramente definidas e separadas relacionadas à escolha de objeto de desejo e também ao alvo - porque Freud faz essa distinção -, a ideia de que existiria uma identidade absolutamente hétero e uma absolutamente homossexual é muito frágil. De fato, os limites do exercício da sexualidade são muito fluídos. São assim ao longo da vida, se alteram o tempo todo, e obviamente, no Carnaval, há uma dimensão subversiva de exercício da liberdade, de subversão das normas." "Obviamente, se a gente pega essa fluidez entre as identidades, entre os papéis homo e heterossexuais, conjugado com um ambiente fértil para o exercício da sexualidade, do desejo, então, é muito comum isso acontecer. É comum aquele cidadão tradicional, casado, religioso, que se diz 100% heterossexual, no Carnaval possa se permitir dançar, brincar, deixar-se abraçar, enfim." "Não apenas o Carnaval é esse momento de subversão de alguns aspectos, ou de alguns papéis, mas também isso vem com o álcool, o som, a música, a dança... São fatores que estão presentes e vão trabalhar juntos para, digamos, essa fluidez das orientações de gênero." Feita a ligeira análise sob encomenda, seguem algumas histórias curiosas de homens gays que pegaram uns héteros-Zói-Pucu na avenida. Os relatos, sem identificar ou dar pistas concretas sobre nenhum envolvido, servem apenas como 'anotações sociológicas', e não para julgamento da vida de Quelé, viu, seu sacana?

***Estudante, 23 anos, Pernambués: “Já fiquei com homens que se apresentam como héteros no carnaval. O engraçado é que sempre parece que estão dando em cima de alguma amiga minha (sempre ando em grupo de amigos) e como muitas vezes não apresento os estereótipos de um homem gay, eles acham que sou namorado delas ou algo do tipo. O último que fiquei foi no Furdunço e foi muito engraçado. Ele estava com uma placa que achei hilária e criativa, e ele estava caçando (paquerando freneticamente as garotas no meio da folia). Eu estava abraçando minha amiga para não se perder no meio da muvuca e ele chegou falando com ela perguntando se eu era seu namorado. Ela disse: “Oxe, esse é meu amigo viado”, aí ele não acreditou, virou para mim e falou: “você é gay? Não parece, fale a verdade, vocês se pegam?” Aí falei: “Não, bebê. Eu e ela gostamos da mesma fruta”. Ele pegou e falou “posso ficar com ela então?” Eu respondi “se ela quiser...” Ela rapidamente disse “eu não quero, mas meu amigo aqui tem interesse (era eu)”. Na hora, olhei para ela com uma cara “viada, jogando o barril para mim”. Só que era um negro malhadinho e realmente ele era gostoso. Ele pegou e falou “ele não tem cara de gay, me prove que tu é”. Resultado: começamos a nos pegar ali. Ele toda hora no meu ouvido dizia “não se empolga que eu gosto de meninas”. Mal sabia ela que eu tava nem aí para isso. Só queria a pegação mesmo. Dali ele pegou meu número e disse que a gente ia marcar uma cervejinha, que ele gostou de um cara “desbloqueado como eu”. Segui meu Carnaval, 3h da manhã ele me manda mensagem falando que tava saindo do circuito e perguntando onde eu tava. Resultado: ele dormiu aqui em casa. A gente ainda está se falando, ele diz que tem uma mina (acho que é uma peguete/namorada), mas que quer continuar se pegando comigo. Ainda não respondi a última mensagem dele. Comecei a namorar com um cara no outro dia (acredite, Deus que meu boy nunca saiba), mas não nego: um cara que se diz hétero tem uma pegada muito massa.” ***Estudante, 23, Vitória da Conquista (BA): "Foi há três anos no bloco Mascarados. Aí eu fui fantasiado. Fui com uma fantasia de nuvem, combinando com minhas amigas, e lá a gente tava curtindo e veio um cara falar com minha amiga. E aí eu falei 'pronto, minha amiga achou um paquera'. Mas aí daqui a pouco ela falou que o cara queria falar comigo, perguntando se eu era gay, se eu podia dar uma chance de bater um papo com ele. Só que ele tava fantasiado de banheiro, tipo um box de plástico, cortina. Então, ele tava coberto, era fechado, então ninguém conseguia ver quem tava dentro do box. Aí tinha que entrar no box pra conversar, e eu achei super engraçado e misterioso. E aí eu entrei no box e o cara num papinho de que me achou lindo e tal, e eu achei muito estranho aquele xaveco. Achei aquela choriçagem péssima. Aquelas cantadas meio 'hétero-top'. Eu disse 'não, amigo, não vai dar'. E aí, se Deus for brasileiro, provavelemente ele é soteropolitano, porque ele não deixa as coisas baratas. Outro dia a gente foi pra pipoca e olha quem me aparece no bloco X: o cara do banheiro tava com a mulher de mão dada, com aliança. A gente depois confirmou que os dois eram casados. E aí a gente entendeu, né? Carnaval de Salvador ninguém é de ninguém, cada um segure o seu porque é barril. ***Publicitário, 26, Amaralina: “Há alguns anos fui a um camarote onde as pessoas eram bastante heteronormativas. Em determinado momento, fui paquerado por um cara mais velho quando saía do banheiro. Ele começou a me encarar e ficamos nessa troca de olhares por muito tempo, ainda que muito discretamente. Quando me aproximei, ele esquivou e eu entendi que era para segui-lo, e assim ele me levou até a saída do camarote. Lá do lado de fora, ele deixou que eu me aproximasse e trocamos poucas palavras. Ele disse que tava com uns amigos que não sabiam que ele “pegava homens”, que ele tinha “começado a pegar caras recendente”. Nos beijamos lá embaixo mas ele não deixou que eu pegasse o celular dele pra nos encontrarmos depois. Ele tinha receio de alguém pegar. Para isso, ele me passou um e-mail e, pior, um e-mail fake, tipo: “[email protected]”. Eu não acreditei. Fiquei muito curioso, mas não acreditei. Anotei e mandei um e-mail no outro dia só pra ver se era real porque aquilo era demais pra mim. E não é que ele respondeu?! Dias depois, ele já estava na cidade dele e nunca mais deu em nada.” ***Pedagogo, 35, São Caetano: “Já fiquei com uma pessoa que se diz hétero que conheci no Carnaval. No início, foi amizade e muita cerveja. Depois foi deixando acontecer e aí rolou o vamos ver. Ele era amigo de um outro amigo. Eu cheguei depois da cerveja. Dei em cima (aquele vai que cola), aí ele cedeu e rolou. Porém, nem meu amigo ficou sabendo depois. ***Estudante, 23, Rio Vermelho: "Já fiquei com alguns homens héteros no Carnaval, mas a maioria foi por beijo triplo e etc. Coisa de Carnaval mesmo. Não sei o nome de nenhum. No meu caso, na maioria das vezes, que eu me lembre, eles se interessaram por alguma amiga minha, conversaram e surgiu a ideia de dar um beijo triplo. Aí rolou, mas nunca mantive contato com nenhum depois que aconteceu. Foi maluquice de Carnaval mesmo."