Cidade perdida repleta de prata na Bahia inspirou Indiana Jones e outras obras

Documento misterioso de 1754, Manuscrito 512 relata ruína de cidade abandonada por civilização antiga que motivou expedições e livros, e é objeto de estudo até hoje

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  • Da Redação

Publicado em 8 de março de 2021 às 07:20

- Atualizado há um ano

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Duas das dez páginas do manuscrito (Foto: Reprodução) Quando Pero Vaz de Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis e verdejantes, escreveu uma carta ao rei: “tudo que nela se planta, tudo cresce e floresce”, e o coroa na época acreditou. Também, pudera: o relato sobre o novo mundo era bem (d)escrito demais para ser inventado, o que fez o escrivão da armada de Cabral ficar com moral na realeza, falando um monte sobre as cercanias do Monte Pascoal.

Mas você sabia que há um outro texto descritivo sobre um cantinho desconhecido da Bahia que, para muitos, é ainda mais fantástico que o traçado por Caminha?

Dá conta de uma “cidade perdida” que, segundo o relato, escrito a mão em 1754, está localizada em algum ponto entre os rios Una e Paraguaçu. O Manuscrito 512, de autoria desconhecida, foi encontrado em 1839 pelo naturalista Manuel Ferreira Lagos - estava largado em algum canto da Livraria Pública da Corte, atual Biblioteca Nacional, no Rio.

Pouco tempo depois, a papelada, toda chibateada (com trechos rasgados ou rasurados pelo século), foi entregue ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e o resto é história... E geografia... E cultura pop também, afinal, o documento intitulado “Relação historica de uma occulta, e grande povoação antiquissima sem moradores” inspirou (e até hoje inspira) filmes e romances, desde que começou a atrair a atenção do mundo com a vinda de aventureiros.

O mais famoso deles foi o explorador inglês Percy Harrison Fawcett, embora ele tenha desviado bastante do caminho: em 1920, organizou uma expedição pela Bahia, onde nada encontrou porque não procurou direito. Percy Fawcett, o caçador da arca perdida na Bahia (Foto: Reprodução/Toronto Star) Daí deu a doida, cismou que a tal “cidade perdida”, que ele batizou de “Z”, ficava no Mato Grosso e, ao que tudo indica, em abril de 1925, foi emboscado junto com o filho Jack e o amigo Raleigh Rimell. Tinham saído de Cuiabá com destino à selva amazônica e nunca mais foram vistos com vida.

A versão da morte na selva ganhou força através de relatos de indígenas e, depois, com os irmãos Villas-Bôas encontrando aquela que seria a ossada de Fawcett. A família do explorador, no entanto, se recusou a fazer exames para provar que era ele. Orlando Villas-Bôas e índios da tribo Kalapalo com a suposta ossada de Fawcett (Foto: Acervo da família Villas-Bôas) Caçadores da Arca Perdida Prova que o manuscrito deixou realmente uma marca na cultura pop mundial é que essa expedição malograda foi a inspiração para o filme ‘Os Caçadores da Arca Perdida’, primeiro da famosa série de Hollywood. Indiana Jones é, portanto, inspiradíssimo em Percy Fawcett, como explica o livro ‘Coronel Fawcett – A Verdadeira História do Indiana Jones’, de Hermes Leal, lançado em 1996. O filme é de 1981.

Em 2017, foi lançado o filme 'Z: A Cidade Perdida', que tem no elenco estrelas como Robert Pattinson (vampiro de Crepúsculo) e Tom Holland (Homem-Aranha), com direção de James Gray, que preferiu ambientar a história na Amazônia.Outras obras importantes que o manuscrito inspirou foram os livros ‘Highlands of the Brazil’ (1869), do escritor (espadachim, agente secreto e diplomata) britânico Richard F. Burton; ‘As Minas do Rei Salomão’ (1886), do também britânico Rider Haggard; e o mais conhecido, ‘O Mundo Perdido’ (1912), do escocês-inglês Arthur Conan Doyle, pai de Sherlock Holmes. Tem produto nacional também: ‘As minas de prata’ (1865), do grande José de Alencar.O que está escrito Mas, afinal, o que motivou aventureiros e sertanistas (na década de 1950, houve uma ‘febre de expedições’) a procurar essas ruínas? E por que tantos cientistas, historiadores, pesquisadores se debruçaram sobre esse texto, que é considerado um dos maiores mitos arqueológicos do mundo?

A imediata curiosidade ocorre já quando o cônego Januário Barboza publica integralmente o texto na Revista do IHGB, na primeira metade do século 19. Antes da reprodução do conteúdo inédito, ele redige um prefácio em que cita o estudo das antigas tradições, reconstituindo a saga de Robério Dias, o Moribeca, bandeirante preso por não revelar ao governo português a localização de ricas minas de prata na Bahia. 

Havia, portanto, personagens reais envolvidos num relato que, no final das contas, dava as coordenadas para uma mina de metais preciosos que havia sido perseguida por bandeirantes-vagantes, que estavam há dez anos rodando o sertão da Bahia. 

Em um artigo sobre Filologia apresentado no I Congresso Nacional de Linguagens e Representações, realizado em Ilhéus, em 2009, o professor Wagner Ribeiro de Carvalho, mestre em Estudo de Linguagens pela Uneb, destaca que a estrutura da aventura não possui praticamente nenhum elemento fantástico, típico dos relatos quinhentistas sobre o Eldorado amazônico. “Nem seres extraordinários, nem uma geografia pela qual o fantástico ditava totalmente as regras”, menciona ele, ao fazer uma análise crítica do manuscrito. E é através da descrição do professor de Letras, com os trechos entre aspas grafados da forma escrita originalmente, que seguimos por alguns parágrafos adiante:

Entrando na Cidade Perdida O início do relato descreve o encontro de uma montanha muito brilhante, devido à existência de cristais. Admirados pelo local, os bandeirantes não conseguiram escalar a formação rochosa. Do alto da montanha, avistaram adiante uma “povoação grande, persuadindo-nos pelo dilatado da figura ser alguma cidade da Costa do Brazil”. Após se certificarem de que o local estava despovoado, iniciaram a exploração.O acesso para a cidade era feito por um único caminho de pedra. A entrada era formada por “tres arcos de grande altura, o do meio he maior, e os dous dos lados são mais pequenos: sobre o grande, e principal devizamos letras que se não poderão copiar pela grande altura”. O relato conta que as casas eram feitas com muita regularidade e simetria, parecendo “huma só propriedade de cazas, sendo em realidade muitas, e algumas com seus terrados descubertos, e sem telha, porque os tectos são de ladrilho requeimado huns, e de lages outros”. 

Percorrendo o interior destas habitações, os bandeirantes não encontraram nenhum vestígio de móveis ou outros objetos.

Praça e estátua Ao final da rua, depararam com uma praça regular, que possuía em seu interior uma “collumna de pedra preta de grandeza extraordinaria, e sobre ella huma Estatua de homem ordinario, com huma mao na ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao Polo do Norte”. Bom, passo a entender que a nossa estátua de Castro Alves seja uma imitação.“Em cada canto da dita Praça está uma Agulha, a imitação das que uzavão os Romanos, mas algumas já maltratados, e partidos como feridas de alguns raios”, continua o documento.Sobre o pórtico principal da rua, também situava-se uma “figura de meio relevo talhada da mesma pedra, e despida da cintura para cima, coroada de louro” e com inscrições abaixo do escudo. Nos lados esquerdo e direito da praça existiam edifícios imensos. O primeiro parecia, segundo o texto, um templo com muitas figuras em relevo nas suas laterais, como cruzes e corvos. 

Rios, cachoeiras, moeda de ouro Outras partes da povoação jaziam em grande escombro e muita ruína, que teriam sido causados por um terremoto. Próximo à praça descrita, também havia um grande rio. 

Seguindo por ele, os bandeirantes após três dias encontraram uma enorme catadupa (cachoeira). Neste local, ocorriam grandes quantidades de furnas, muitas cobertas com lages e inscrições. 

Ainda entre as ruínas foi encontrada uma moeda de ouro muito grande, com "a imagem, ou figura de hum moço posto de joelhos, e da outra parte hum arco, huma coroa, e huma sétta". Após chegarem na região entre os rios Paraguaçu e Una, os expedicionários enviaram uma carta ao Rio de Janeiro, originando o manuscrito original.

Em seu trabalho, o professor Wagner Ribeiro de Carvalho destaca que as ruínas sobre a Cidade Perdida não pertencem ao modelo urbanístico colonial português ou espanhol, e descreve teorias de outros especialistas (incluindo Pedro Calmon) sobre um suposto autor e os interesses por trás de sua descrição. Isso aí já não me interessa mais, mas se você quiser ler, tá aqui o artigo.

Já clicando aqui você confere o manuscrito original, de 10 páginas, que está embedado mais acima e transcrito logo abaixo. 

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Relação historica de huma oculta, e grande Povoação, antiguissima sem moradores, que se descubrio no anno de 1753.Em a America ............................................ nos interiores .............................................. contiguo aos ............................................... Mestre de campo ....................................... e sua comitiva, havendo dez annos de que viajava pelos certões, a vêr se descubria as decantadas minas de Prata do grande descubridor Moribeca, que por culpa de hum Governador se não fizerão patentes, pois queria lhe uzurpar-lhe esta gloria e o teve prezo na Bahia até morrer, e fiarão por descubrir: Veio esta noticia ao Rio de Janeiro em principio do anno de 1754.

Depois de huma longa, e inoportuna perigrinação, incitados da incaciavel cobiça de ouro, e quazi perdidos em muitos annos por este vastissimo certão, descubrimos huma cordilheira de montes tão elevados, que parecia chegavão a Região etheria, e que servirão de throno ao vento as mesmas estrellas; o luzimento que de Longe se admirava, principalmente quando o Sol fazia impressão ao Cristal de que era composta e formando huma vista tão grande e agradavel, que ninguem daquelles reflexos podia afastar os olhos: entrou a chover antes de entrarmos a registrar esta christallina maravilha e viamos sobre a pedra escalvada correr as agoas precipitando-se dos altos rochedos, parecendo-nos como a neve, ferida dos raios do sol, pelas admiraveis vistas daquele chris ............................................................ uina se reduziria ........................................................ das aguas e tranquilidade do tempo nos resolvemos a investigar aquelle admiravel prodigio da natureza, chegando nos no pé dos Montes, sem embaraço algu de Matos, ou Rios, que nos difficultasse o trânsito, porem, circulando as Montanhas, não achamos pasio franco para exe-cutar-mos a rezolução de accommeter-mos estes Alpes e Pyrineos Brasílicos, rezultando-nos deste desengano huma inexplicavel tristeza.

Abarracados nós, e com o dezignio de retrocedermos no dia seguinte, sucedeo correr hum negro, andando à lenha, a hum veado branco, que vio, e descobrir por este acazo o caminho entre duas serras, que parecião cortadas por artificio, e não pela Natureza: com o alvoroço desta novidade principiamos a subir, achando muita pedra solta, e amontoada por onde julgamos ser calçada desfeita com a continuação do tempo. Gastamos boas três horas na subida, porém suave pelos christaes que admiravamos, e no cume do Monte, fizemos alto, do qual estendendo a vista, vimos em hum Campo razo maiores demonstracoes para a nossa admiração.

Divisamos cousa de legoa, e meia huma Povoação grande, persuadindo-nos pelo dilatado da figura ser alguma cidade da Corte do Brazil: descemos logo ao Valle com cautela .............. lferia em semelhante cazo, mandando explorar ............................................ gar a qualidade, e ...................................................... se bem que repararam ............................................... Fuminés, sendo este, hum dos signaes evidentes das povoações.

Estivemos dois dias esperando aos exploradores para o fim que muito desejavamos, e só ouviamos cantar gallos para ajuizar que havia alli povoadores, até que chegarão os nossos desenganados de que não havia moradores, ficando todos confuzos: Resolveo-se depois hum índio da nossa commitiva a entrar a todo risco, e com precaução, mas tornando assombrado, afirmou não achar, nem descobrir rastro de pessoa algua: este cazo nos fez confundir de sorte, que não o acreditamos pelo que viamos de domecilios, e assim se arranjarão todos os exploradores a ir seguindo os passos do índio.

Vierão, confirmando o referido depoimento de não haver povo, e assim nos determinamos todos a entrar com armas por esta povoação, em huma madrugada, sem haver quem nos sahisse ao encontro a impedir os passos, e não achamos outro caminho senão o unico que tem a grande povoação, cuja entrada he por tres arcos de grande altura, o do meio he maior, e os dois dos lados são mais pequenos: sobre o grande, e principal devizamos Letras, que se não poderão copiar pela grande altura Faz huma rua da largura dos três arcos, com cazas de sobrados de huma, e outra parte, com as fronteiras de pedra lavrada, e já denegrida. So ......................................... inscripções, abertas todas .......................................... ortas são baxas defei........................................... nas, notando que pela regularidade, e semetria em que estão feitas, parece huma só propriedade de cazas, sendo em realidade muitas, e alguas com seus terraços descubertos, e sem telha, porque os tetos são de ladrilho requeimado huns, e de lajes outros.

Corremos com bastante pavor alguas cazas, e em nenhuma achamos vestígios de alfaias, nem móveis, que pudéssemos pelo uso, e trato, conhecer a qualidade dos naturaes: as cazas são todas escuras no interior, e apenas tem huma escaça luz, e como são abóbodas, ressoavam os ecos dos que falavão, e as mesmas vozes atemorizavão.

Passada, e vista a rua de bom cumprimento, demos em huma Praça regular, e no meio della huma collumna de pedra preta de grandeza extraordinária, e sobre ella huma Estatua de homem ordinario, com huma mão na ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao Polo do Norte: em cada canto da dita Praça está huma Agulha a immitação das que usavão os Romanos, e mais algumas já maltratadas, e partidas, como feridas de alguns raios.

Pelo lado direito desta Praça esta hum soberbo edifício, como casa principal de algu senhor da Terra, faz hum grande sallão na entrada e ainda com medo não corremos todas as casas, sendo tantas, e as retrat....................................... zerão formar algu........................................... mara achamos hum........................................... massa de extraordinária................................... pessoas lhe custavão a levanta lla.

Os morcegos erão tantos, que investião as caras das gentes, e fazião uma tal bulha, que admirava: sobre o pórtico principal da rua está huma figura de meio relevo talhada da mesma pedra e despida da cintura para cima, coroada de louro: reprezenta pessoa de pouca idade, sem barba, com huma banda atraveçada, e hum fraldelim pela cintura: debaixo do escudo da tal figura tem alguns characteres já gastos com o tempo, divisão se, porém os seguintes: Da parte esquerda da dita Praça esta outro edifício totalmente arruinado, e pelos vestígios bem mostra que foi Templo, porque ainda conserva parte de seu magnífico frontespicio, e alguas naves de pedra inteira: ocupa grande territorio, e nas suas arruinadas paredes, se vem obras de primor com alguas figuras, e retratos embutidos na pedra com cruzes de vários feitios, corvos, e outras miudezas que carecem de largo tempo para admira llas. Segue-se a este edificio huma grande parte de Povoação toda arruinada e sepultada em grandes, e medonhas aberturas da terra, sem que em toda esta circunferencia se veja herva, arvore, ou planta produzida pela natureza, mas sim montões de pedra, humas toscas outras lavradas, pelo que entendemos ha as fronteiras de ................... verção, porque ainda entre .................................................... da de cadáveres, que .................................................... e parte desta infeliz .................................................... da, e desamparada, ........... talves por algum terremoto.

Defronte da dita Praça corre hum caudalozo Rio, arrebatadamente largo, e espaçoso com alguas margens, que o fazem muito agradavel a vista, terá de largura onze, até doze braças, sem voltas concideraveis, limpas as margens de arvoredo, e troncos, que as inundações costumão trazer: sondamos a sua Altura, e achamos nas partes mais profundas quinze, até dezesseis braças. Daparte dalém tudo são campos muito viçosos, e com tanta variedade de flores, que parece entoar a Natureza, mais cuida-doza por estas partes, fazendo produzir os mais mimozos campos de Flora: admiramos tambem algumas lagôas todas cheias de arrôs: do qual nos aproveitamos e também dos inumeráveis ban-dos de patos que se crião na fertilidade destes campos, sem nos ser deficil cassallos sem chumbo mas sim as mãos.

Tres dias caminhamos Rio abaixo, e topamos huma catadupa de tanto estrondo pela força das agoas, e rezistencia no lugar, que julgamos não faria maior as boccas do decantado Nillo: depois deste salto espraia de sorte o Rio que parece o grande Oceano: He todo cheio de Peninsulas, cubertas de verde relva: com alguas arvores disperças, que fazem.................hum tiro com davel. Aqui achamos............................................... a falta delle de noss................................................. ta variedade de caça................................................ tros muitos animais criados sem cassadores que os corrão, e os persigão.

Daparte do oriente desta catadupa achamos varios subcavões, e medonhas covas, fazendo-se experiência de sua profundidade com muitas cordas; as quais por mais compridas que fossem, nunca podemos topar com o seu centro. Achamos também alguas pedras soltas, e na superfície da terra, cravadas de prata, como tiradas das minas, deixadas no tempo.

Entre estas furnas vimos huma coberta com huma grande lage, e com as seguintes figuras lavradas na mesma pedra, que insinuão grande mistério ao que parece..... Sobre o Portico do Templo vimos outras da forma seguinte dessignadas.

Afastado da Povoação, tiro de canhão, está hum edificio, como caza de campo, de duzentos e sincoenta passos de frente; pelo qual se entra por hum grande portico, e se sobe, por huma escada de pedra de varias côres, dando-se logo em huma grande salla, e depois desta em quinze cazas pequenas todas com portas para a dita salla, e cada huma sobre si, e com sua bica de agoa ..................................................qual agoa de ajunta ...............................................mão no pateo externo ...................................................columnatas em cir- ....................................................dra quadrados por arteficio, suspensa com os seguintes caracteres:

Depois destas admirações entramos pelas margens do Rio a fazer experiencia de descobrir ouro e sem trabalho achamos boa pinta na superficie da terra, prometendo nos muita grandeza, assim de ouro, como de prata: admiramo nos ser deixada esta Povoação dos que a habitavão, não tendo achado a nossa exacta diligencia por estes certões pessoa algua, que nos conte desta deploravel maravilha de quem fosse esta povoação, mostrando bem nas suas ruínas a figura, de grandeza que teria, e como seria populosa, e oppulenta nos séculos em que floreceu povoada; estando hoje habitada de andorinhas, Morcegos, Ratos e Rapozas que cebadas na muita creação de galinhas, e patos, se fazem maiores que hum cão perdigueiro. Os Ratos tem as pernas tão curtas, que saltão como pulgas, e não andão, nem correm como os de povoado.

Daqui deste lugar se apartou hum companheiro, o qual com outros mais, depois de nove dias de boa marcha avistarão a beira de huma grande enseada que faz hum Rio a huma canôa com duas pessoas brancas, e de cabellos pretos, e soltos, vestidos a Europea, e dando hum tiro como signal para sever ......................................................... para fugirem. Ter ........................................................ felpudos, e bravos, .................................................. ga a elles se encrespão todos, e investem Hum nosso companheiro chamado João Antonio achou em as ruinas de huma caza hum dinheiro de ouro, figura esferica, maior que as nossas moedas de seis mil e quatrocentos: de huma parte com a imagem, ou figura de hum moço posto de joelhos, e da outra parte hum arco, huma coroa e huma setta, de cujo genero não duvidarmos se ache muito na dita povoação, ou cidade dissolada, por que se foi subversão por algu terremoto, não daria tempo o repente a por em recato o preciozo, mas he necessario hum braço muito forte, e poderozo para revolver aquele entulho calçado de tantos anos como mostra.

Estas noticias mando a v.m., deste certão da Bahia, e dos Rios Paráoaçu, Uná, assentando não darmos parte a pessoa algua, porque julgamos se despovoarão Villas, e Arraiais; mas eu a V.me. a dou das Minas que temos descuberto, lembrando do muito que lhe devo.

Suposto que da nossa Companhia sahio já hum companheiro com pretexto differente, contudo peço-lhe a V.me. largue essas penúrias, e venha utilizar-se destas grandezas, usando da industrias de peitar esse indio, para se fazer perdido, e conduzir a V.me. para estes thesouros, etc ................................................... Acharão nas entradas ............................................................. sobre lages.