Cientistas buscam colaboradores para identificar vetor de parasita

Cem casos foram registrados em Sergipe

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 3 de outubro de 2019 às 06:20

- Atualizado há um ano

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Encontrado pela primeira vez há dez anos, um novo parasita foi identificado por cientistas brasileiros a partir de amostras de pacientes de Sergipe, onde cem casos foram registrados. Agora, os pesquisadores estão em busca de respostas para novas questões sobre a descoberta, como o vetor responsável por espalhar a enfermidade e também quais medicamentos podem ser mais eficazes contra o parasita.

O micro-organismo provoca uma doença que atinge o baço, o fígado e causa feridas na pele, podendo provocar sangramentos em casos mais graves. Um paciente oriundo de uma cidade do norte baiano foi infectado, conforme informações do médico Roque Pacheco, responsável pela identificação do parasita.

Com sintomas parecidos, os casos que chegavam ao Hospital Universitário de Sergipe vinham sendo confundidos com leishmaniose visceral, mais conhecida como calazar. As investigações iniciais a respeito da nova espécie foram publicadas nessa segunda-feira (30) na revista científica Emerging Infectious Diseases, por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) e da UFS.

De acordo com a professora Sandra Maruyama, do Departamento de Genética e Evolução da UFSCar, os próximos passos da pesquisa são principalmente três: refinar o diagnóstico molecular do parasita, o que já está em andamento pelo grupo de Maruyama; testar drogas eficazes para desenvolver novo tratamento contra a doença provocada pela espécie, que também já está sendo feito pelo grupo do médico Roque Pacheco da UFS; e, por fim, identificar o inseto vetor, que segue sem estudos. 

Parceria “Precisamos estabelecer novas colaborações nesse sentido [de identificação do vetor] e estamos abertos a isso”, diz Maruyama. “Tudo está muito no início ou ainda por se fazer. Em ciência, as coisas são demoradas, e sem financiamento, sem bolsas de pós-graduação para nossos estudantes, isso pode demorar ainda mais”, preocupa-se ela. Para se ter os primeiros resultados, publicados na última segunda-feira (30), os cientistas levaram quase sete anos de estudo.

De acordo com o professor Roque Pacheco, um paciente de 60 anos que morreu em 2011 continha o parasita no organismo. Ele recebeu tratamento para calazar, mas não reagiu ao tratamento usual. “Como nós tratávamos o calazar, pensávamos que tudo era isso, mas, nesse paciente, a doença evoluiu de forma atípica e observamos que a pele dele estava repleta de parasitas”, recorda. 

Segundo Pacheco, novos testes serão feitos com o medicamento Miltefosina, que é bastante usado na Índia. “Aqui ele só foi bom para a leishmaniose tegumentar, então talvez funcione com este novo parasita. Testaremos in vitro primeiro”, conta.

Os interessados em contribuir com o avanço das pesquisas podem procurar diretamente a professora Sandra Maruyama através do e-mail [email protected]

Sem surto Na Bahia, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) informou que não há registros da doença. O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Sergipe informou à Sesab que os dados divulgados pelo estudo são de uma série histórica de 2011 até 2019 e que Sergipe não está em surto.

Ainda conforme o órgão, acredita-se que essa doença seja decorrente de um novo tipo de leishmaniose ou de uma mutação do vetor transmissor da doença e que não há motivo para alarme ou pânico, considerando o perfil epidemiológico atual de Sergipe. 

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) também informou que na capital baiana não há nenhum caso registrado de calazar em animais ou humanos. De acordo com a bióloga Eliaci Costa, subgerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), atualmente, quando algum cidadão notifica um caso suspeito, o CCZ vai até o local, faz um teste rápido para ver se é reagente e envia amostra para o Lacen estadual.

Para o pesquisador Roque Pacheco, a proximidade geográfica com Sergipe é indicada como uma premissa de observação, já que existe a possibilidade de que o micro-organismo possa se disseminar aqui. Almeida chama a atenção para o trânsito de pacientes baianos no Hospital Universitário da UFS (HU), onde o parasita foi descoberto. Segundo ele, moradores da região norte da Bahia, principalmente de cidades como Olindina, Cipó e Inhambupe, costumam ser atendidos na unidade. 

O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) da Bahia solicitou à rede hospitalar de referência ocorrências de entrada de casos sugestivos relacionados à leishmaniose. A Sesab ainda aguarda uma resposta.