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Do Estúdio
Publicado em 24 de novembro de 2022 às 06:00
Nos últimos anos, o debate sobre a discriminação pela cor da pele tem se intensificado em todas as esferas da sociedade. Em meio ao aprofundamento dos estudos sobre o tema, um conceito que tem ganhado visibilidade no sentido de demonstrar os diferentes graus de discriminação que as pessoas pretas podem sofrer: o colorismo. Para quem não está familiarizado com o termo, o colorismo explica que os traços e tons de pele interferem diretamente na forma como a pessoa é percebida pela sociedade e o tratamento que ela recebe. >
De acordo com a designer de moda e docente do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia, Carol Barreto, o colorismo integra uma construção histórica que remonta os tempos da colonização. “No Brasil, a miscigenação nasce da violência sexual, assim os mestiços, que são pessoas negras de pele clara começam a nascer dentro do contexto da escravização”, explica.“Quando pensamos nas hierarquias raciais, a pessoa branca padrão fica no topo da pirâmide, nesse amplo espaço, quanto mais próximo se está do padrão branco hegemônico, mais privilégios se tem”, completa. Carol explica ainda que, no mesmo período, começou a ser estruturado o racismo científico - que buscava argumentos para demonstrar a inferioridade das pessoas pretas perante as pessoas brancas. “Gradativamente foi difundido na sociedade a proposta de que o indivíduo com aparência mais próxima do branco é mais inteligente, bonito e moralmente louvável”, aponta. >
Consequências A percepção baseada na aparência, segundo Carol, provocou fortes consequências na experiência das pessoas pretas ao longo do tempo, e mesmo hoje, com a ampliação do debate sobre o combate ao racismo, continua presente no cotidiano da sociedade. “O colorismo segue afetando diretamente o dia a dia das pessoas pretas, pois a condição da aparência define as vivências que essa pessoa terá. Isso incluiu a violência mental, obstetrícia, acesso à educação de qualidade e moradia digna”, afirma.“À noite, quando retorno da UFBA, pela minha aparência, a forma como a polícia me aborda em uma bliz é muito específica, a ponto de perguntarem se o carro me pertence, diferentemente da forma que um jovem branco e embriagado à minha frente é abordado”, exemplifica. Ainda que os desafios sigam presentes, os avanços do debate são visíveis, segundo a docente. Ela explica que os espaços conquistados pelas pessoas pretas, quebrando paradigmas históricos, são prova deste progresso. “Estamos vivendo um momento complexo ao passo que conseguimos resultados importantes de espaços conquistados por nós e não portas abertas por pessoas brancas, pois se hoje temos, na moda, por exemplo, um Afro Fashion Day ou um crescente número de estilistas pretos e pretas no São Paulo Fashion Week é por uma reinvindicação nossa”, fala. >
Espaços Historicamente ocupado por profissionais brancos, o universo da moda tem ganhado cada vez mais representatividade preta. Casos com o do São Paulo Fashion Week, principal semana de moda do país, que há dois anos estabeleceu cota obrigatória de modelos para "negros, afrodescendentes ou indígenas" em todos os desfiles, tem buscado equilibrar a balança, porém ainda distante de um cenário igualitário. >
O diferencial tem partido de iniciativas como o Afro Fashion Day, que já integra o calendário nacional de eventos de moda, e tem possibilitado a projeção e conquista de espaços cada vez mais altos por pessoas pretas. Concebido com o objetivo de trazer visibilidade a estilistas, marcas e modelos pretos e pretas, ao longo das suas oito edições, o AFD foi responsável por revelar talentos que hoje se destacam nas principais passarelas do planeta. >
Para o curador do desfile, Fagner Bispo, oportunizar os mais variados tons de pele preta no evento é uma das principais preocupações da organização, já que a representatividade é um dos pilares do evento."O Afro sempre teve a premissa de abraçar a diversidade e é isso que torna o evento especial. E assim como a diversidade de corpos, é importante termos a diversidade de tons de pele, principalmente porque vivemos num ambiente onde a miscigenação é muito forte e essa mistura faz com q a gente tenha essa paleta de tons tão variada”, diz. Na edição 2022, o Afro Fashion Day reuniu 75 modelos pretos, além 45 marcas e estilistas – sendo 43 baianos e um franco-camaronês, além de um coletivo de acessórios. O desfile aconteceu no sábado passado (19), no Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador.>
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