Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Wendel de Novais
Publicado em 13 de novembro de 2022 às 18:21
O tema da Redação deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) provocou os candidatos a refletir sobre a importância dos povos originários e agradou os professores que trabalham com a preparação da prova. Muitos candidatos, contudo, se surpreenderam. Ao todo, mais de 258 mil baianos estavam inscritos para o exame no estado. >
Léo Mendes, professor de Redação há mais 30 anos, conhece a prova de cabo a rabo, desde a forma com que os textos incentivadores são estruturados aos critérios avaliativos. Ao falar sobre o tema, ele afirma que segue um perfil já estabelecido pelo exame.>
"Com cara de Enem, é um tema que segue a tradição de fazer a juventude pensar sobre questões das minorias políticas, historicamente usurpadas em seus direitos. [...] Fundamental que os estudantes façam uma reflexão sobre a dignidade das comunidades e dos povos tradicionais", diz.>
Coordenadora de Redação do Poliedro, Fabiula Neubern corrobora com a fala de Léo Mendes. Segundo ela, o tema já estava no radar de educadores e estudantes há um tempo e, por isso, pode ter facilitado a vida de alguns candidatos.>
"É um tema que era cotado já há alguns anos. Uma desvantagem seria não conhecer as legislações ou não conhecer quais são os principais conflitos", afirma.>
Bom para desenvolver Professora de Redação do Colégio Bernoulli, Mônica Melo também afirma que o tema era esperado e foi pautado em suas aulas ao longo do ano. Pontua também que a temática deu variadas opções de construção argumentativa por conta da invisibilidade e silenciamento dos povos tradicionais e comunidades.“O aluno podia fazer várias críticas aos direitos que a Constituição brasileira garante a esses povos e a forma como essa Constituição é desconsiderada na prática. Poderia fazer uma comparação histórica sobre a herança que nós temos em relação às tradições e mostrar como essas tradições são esquecidas, silenciadas e invisibilizadas no momento presente", indica. O professor Vinícius Zacarias acrescenta ainda que a temática abordada na prova veio a calhar. Isso porque, além de se debruçar em questões sociais, foco tradicional da prova, está dentro de um contexto em que os direitos destes grupos estão em pautas.>
"O tema foi pertinente e compõe a pauta nacional, já que ainda está em tramitação no judiciário o marco temporal para demarcação de terras indígenas que implica diretamente nos interesses dos setores do agronegócio e a consolidação de direitos constitucionais", fala.>
Pegos de surpresa Apesar dos professores afirmarem que o tema não surpreendeu, estudantes ouvidos pela reportagem disseram justamente o contrário. Andrey Patrick Barroso, 17 anos, quer cursar administração e não economizou ao descrever o problema que teve com o tema, já que não dominava o assunto.>
"Rapaz, foi horrível. Não esperava esse tema, não. Achei que ia ser fake news, alguma coisa da covid ou então um tema ligado à economia. Me pegou desprevenido. Acho que, no máximo, tiro uns 700 aí. Mais do que isso, tá difícil. Eu penei para conseguir fazer", relata ele.>
A candidata Aline Pereira Bastos, 23, não cogitou este tema em nenhum momento. Ela é outra que mostrou pouca expectativa e frustração com o desempenho na Redação. "Me surpreendeu, caiu algo que nem passava pela minha cabeça. Tanto é que me bati para fazer e não sei nem quanto vou tirar. Eu não me aprofundei sobre esse assunto, fiz o que pude e tô com zero expectativa sobre o resultado", afirma ela, que quer fazer Estética.>
Vitor Hugo Silva, 17, quer cursar Engenharia Mecatrônica e também ficou desanimado com o tema: "Passou batido por mim. Eu não sei falar sobre esse tema, mas acho que é importante e tem uma característica da prova mesmo. Porém, eu fui mal e vou tirar, no máximo, 400 pontos porque sou péssimo em Redação", lamenta. A pontuação da prova pode variar entre 0 e 1000.>