Com irreverência, Palhaços do Rio Vermelho arrastam multidão para o bairro há dez anos

Foliões saíram da Quadra da Paciência em direção à Rua Fonte do Boi

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 8 de fevereiro de 2020 às 21:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Thais Borges/CORREIO

Não passava um minuto completo sem que alguém os parasse. Assim que chegaram à Praia da Paciência, no Rio Vermelho, no fim da tarde deste sábado (8), a geóloga Ana Salinas, 44 anos, e o bombeiro Ramon Copque, 33, começaram a ser abordados. Era criança, adulto, idoso... até turista chileno. Gente de todas as idades queria tirar foto com o casal, vestido como uma dupla de palhaços bem fluorescente. 

“Todo ano a gente faz duas fantasias: uma para o lançamento do bloco, que esse ano foi em janeiro, e outra para hoje. A gente se prepara”, revelou Ana. Tanta preparação tinha um motivo: o desfile dos Palhaços do Rio Vermelho, um dos movimentos culturais pré-carnavalescos que se tornou mais tradicional na cidade 

Em sua 10º edição, os palhaços se concentraram na Quadra Esportiva na Rua da Paciência às 17h, para sair desfilando a partir das 19h. Ao todo, 13 atrações participaram da festa, acompanhadas de milhares de palhaços anônimos, que seguiram até a Rua Fonte do Boi. Ana e Ramon vão fantasiados, assim como a mãe dela, Maria de Lourdes (sentada,de blusa estampada) (Foto: Thais Borges/CORREIO) Ana e Ramon costumam ir todos os anos. “A gente faz pesquisa na internet para ver adereços, acessórios. Esse ano, o neon estava bem bombado”, explicou ele. A mãe de Ana, a aposentada Maria de Lourdes Salinas, 78, também marca presença. “Desde pequena, fui criada em festa. Logo comecei a trazer meus filhos. Estou com a coluna fraturada há um ano, mas não deixo de vir porque gosto da folia”, dizia Maria de Lourdes, que estava com um colete cervical. 

Se, em outros anos, o público foi estimado em seis mil pessoas, o fundador dos Palhaços do Rio Vermelho, Ruy Santana, hoje, prefere nem arriscar quantos acompanhamento o movimento cultural. A primeira vez, há dez anos, contou com apenas 300 pessoas, entre familiares e amigos. “Esse sempre foi o objetivo, porque a gente queria resgatar a história do Bando Anunciador do Carnaval. As pessoas vão acompanhando a gente até o final. O circo está armado. Aqui, somos todos artistas”, disse. Fantasias A auxiliar de enfermagem Lucilene da Hora, 48 anos, e o autônomo Gilvan Santos chegaram à Quadra da Paciência às 16h, quando só tinham outras três pessoas esperando pelo bloco.“Fomos os quartos a chegar. É engraçado porque sempre que a gente sai de casa, acha que está fantasiado demais. Mas quando a gente chega aqui e vê todo mundo, sempre pensa: ‘ah, bem que podia ter colocado mais coisas”, contou Lucilene, aos risos. Foi ela quem preparou a fantasia dos dois, logo na manhã deste sábado. Com o mesmo tecido amarelo com estrelas coloridas, combinavam o look. “É uma festa bonita, que traz muita família, um público diferenciado”, afirmou Gilvan. Lucilene, inclusive, tinha acabado de mandar um vídeo para as amigas quando encontrou o CORREIO. Mostrava as crianças no local. “Estava falando para elas que é aqui que podem trazer os filhos”. 

Já o técnico em neurofisiologia Claudionor Matos, 47, tem a tradição de ir com o grupo de amigos – todos funcionários do Hospital Sarah. Se encantou pelos Palhaços há seis anos, desde que viu uma reportagem sobre o evento na televisão. “Chamei os amigos e todo ano a gente vem. Acho que está crescendo cada vez mais”, opinou. O grupo de amigos do Hospital Sarah se reúne há seis anos (Foto: Thais Borges/CORREIO) Foi também entre amigos que o grupo do jornalista Ivan Claudio, 55, se preparou para ir ao Rio Vermelho. Um foi trazendo o outro e, dessa vez, chegaram a oito pessoas. As primeiras conversas sobre as fantasias começaram ainda em novembro do ano passado, mas, há 20 dias, engrenaram de vez. 

“Decidimos as roupas, compramos os tecidos, contratamos uma costureira. As meninas ainda contrataram também uma maquiadora. Isso tudo porque os Palhaços do Rio Vermelho são muito importantes para a gente, porque resgata os antigos Carnavais”, explicou Ivan. Eles também escutavam pedidos de foto em praticamente todo o tempo. “Mas é muito legal. A gente ama tirar as fotos”, completou o nutricionista Robson Silva, 35.  Desde novembro, o grupo de amigos tem tido conversas sobre as fantasias que usariam (Foto: Thais Borges/CORREIO) Mas não há espaço apenas para palhaços. Uma das alas mais tradicionais é justamente a das baianas. É lá que a baiana de receptivo Iasmin Caiana, 25, desfila há seis anos ao lado da mãe, da filha, Isadora, 6, e das sobrinhas. 

“Acho que as baianas são uma das partes mais importantes para fortalecer a cultura da Bahia.  gente fica muito feliz e se sente muito reconhecida por nos convidarem. Aqui tem alegria, culturas diferentes, pessoas bonitas e ainda é seguro para as meninas”, disse, referindo-se às pequenas baianas.