Com proibição, consumidores correram para garantir a cerveja do final de semana

Decreto estadual veta venda de bebida alcoólica das 20h de sexta às 5h de segunda

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 29 de maio de 2021 às 08:00

- Atualizado há 10 meses

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Com a proibição da venda de bebidas alcoólicas no final de semana na Bahia (veja lista dos municípios no final da reportagem), a sexta-feira foi de movimento intenso nos mercados e atacados para garantir o estoque para o sábado e domingo. Como já esperado, a cerveja foi a campeã de procura, seguida do vinho e do gin.

De acordo com o decreto publicado no último domingo (23) no Diário Oficial do Estado, a venda de bebidas alcoólicas fica proibida em Salvador e Região Metropolitana das 20h desta sexta-feira (28) até às 5h da próxima segunda (31). Nessas localidades, o toque de recolher começa mais cedo. Também durante o final de semana, fica proibida a locomoção noturna das 20h até às 5h do dia seguinte. 

O funcionamento dos bares e restaurantes deve estar restrito à comercialização de alimentos e bebidas não alcoólicas e fica proibida a venda de bebida alcoólica em quaisquer estabelecimentos, inclusive por sistema de entrega em domicílio (delivery).

A dona de casa Renicelma Oliveira, de 48 anos, não estava sabendo da proibição, ficou ciente da notícia a partir do contato estabelecido com a reportagem do CORREIO e correu para garantir o estoque do final de semana. “Eu fui hoje (ontem) de manhã na distribuidora e comprei 24 cervejas. Tinha deixado para comprar mais no sábado, mas com essa notícia agora eu vou correr logo e comprar mais umas 25”, contou. 

A compra tem um motivo especial: o nascimento da neta. “Tem que fazer o estoque para a comemoração com minhas duas filhas e meu sobrinho. Ele está aqui trabalhando doido para terminar logo e começar a beber também”, completou. 

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Já o educador físico Felipe Neto, 38 anos, estava bem informado. “Eu fiquei sabendo pelos jornais que tinha essa medida restritiva. Fiquei só na dúvida do horário, aí vim logo garantir a minha cerveja”, explicou. “Vou beber hoje (ontem) assistindo o jogo do Vitória e no sábado com meus primos, já estamos todos vacinados.Todo mundo seguro e dentro de casa. Aí não pode faltar a cerveja”, finalizou. 

O analista de TI Vagner Oliveira, de 34 anos, tinha planejado fazer as compras neste sábado, mas precisou se adiantar por conta da proibição. “Eu dei uma fugidinha do trabalho e consegui vir logo. Eu preferia comprar amanhã, tudo já gelado, mas com essa proibição não tive escolha. É aniversário de meu pai; ele não bebe, mas eu bebo por mim e por ele”, disse, rindo. Mas a medida não agradou Vagner. “Eu sou contra essa proibição porque afeta todo mundo e não é todo mundo que está fazendo a bagunça. A gente está pagando o preço por causa da atitude de outras pessoas”, opinou. 

Já o técnico de ultrassom industrial João Paulo Batista, de 40 anos, é a favor da proibição de venda. “Eu concordo porque acho que impede um pouco as festas e as aglomerações. O pessoal bebe e acaba perdendo a noção e proliferando a doença. Ultimamente, eu tenho bebido em casa mesmo. É uma alternativa que a gente tem nesses tempos”, colocou João Paulo, que também adiantou as compras por conta da medida.  

Mas tem também quem ache que proibir a venda de bebida alcoólica no final de semana não faça tanto efeito. “Eu acho que essa proibição não evita muita coisa. Acaba que o pessoal vem antes mesmo e estoca em casa, como eu estou fazendo. O efeito é mais para os bares, aí realmente eu concordo porque eles geram aglomeração. Mas a compra no supermercado eu não vejo por que suspender”, pontuou o comerciante Alexandre Amaral, de 39 anos, que estava comprando cerveja para o churrasco do final de semana com alguns amigos. 

A empresária Edinei Lopes, de 57 anos, também acredita que os bares gerem aglomerações, mas defende que a situação dos restaurantes é diferente. “Não vejo por que proibir os restaurantes de vender bebida. Bar tudo bem, mercado também, mas os restaurantes estão seguindo tudo direitinho, sem aglomeração, eu não entendo”, opinou. A ida a um restaurante estava nos planos para o final de semana, mas a programação precisou de um ajuste. “Não vou sair de casa para tomar refrigerante, não é? Como não vai poder ter bebida, eu prefiro não ir mesmo e comprar o meu vinho para beber em casa com a família”, completou. 

Mas a corrida aos mercados não foi tão lucrativa quanto o esperado, segundo os vendedores de dois depósitos de bebidas no Rio Vermelho. Uma vendedora não quis se identificar, mas disse que esperava uma maior quantidade de vendas. “O movimento está mais fraco do que a gente imaginou. Achava que, por conta da proibição, o pessoal ia vir comprar mais. Essa sexta deu uma aumentada, mas nada demais. Daquela primeira vez que proibiu, o pessoal veio correndo, foi aquela agonia. Dessa vez está diferente, acho que porque não ficaram sabendo ou porque já é final do mês e todo mundo já gastou o salário ou ainda porque estão economizando para o São João”, colocou ela. 

Bebida e covid O epidemiologista Eduardo Martins, professor da Faculdade de Medicina da Ufba, explica por que a restrição nas vendas de bebidas alcoólicas é adotada como medida de contenção da proliferação do coronavírus. “De uma forma geral, o álcool libera as amarras sociais, permitindo que as pessoas vão além das limitações e fiquem mais expostas. O consumo de álcool está associado com o crescimento de uma série de doenças e com a covid-19 não é diferente”.

“Também tem a questão que o consumo de bebida está aliado à retirada da máscara e a locais fechados, como bares e restaurantes em alguns casos. Essa exposição em locais fechados é bem mais perigosa do que em locais abertos. Sempre frisamos que os locais nos quais nos alimentamos e bebemos são de alto risco para contaminações”, concluiu o epidemiologista.

O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, também já comentou sobre a associação entre consumo de álcool e contaminação. A declaração foi dada durante entrevista ao Jornal da Manhã, da TV Bahia, no último dia 24 de maio, quando o assunto era festas do tipo paredão. "Nesse final de semana, vocês devem ter visto, as fábricas de cerveja anunciaram que atingiram o pico histórico de vendas no Brasil, em plena pandemia, então é o motor por trás disso aí, ninguém faz um ‘reggae’ desse aí sem está movido a cerveja, que é a bebida mais bebida da Bahia", completou o chefe da pasta.

Municípios baianos com proibição de venda de bebidas alcoólicas neste final de semana (além de Salvador e RMS):Angical Baianópolis Barra Barreiras Brejolândia Brotas de Macaúbas Buritirama Catolândia Cotegipe Cristópolis Formosa do Rio Preto Ibotirama Ibupiara Luís Eduardo Magalhães Mansidão Morpará Muquém do São Francisco Oliveira dos Brejinhos Paratinga Riachão das Neves Santa Rita de Cássia São Desidério Tabocas do Brejo Velho Wanderley Bom Jesu sda Lapa Canápolis Cocos Coribe Correntina Jaborandi Santa Maria da Vitória Santana SãoFélixdoCoribe Serra do Ramalho Serra Dourada Sítio do Mato Municípios baianos com proibição de venda de bebidas alcoólica até 4 de junho:Adustina Antas Banzaê Cícero Dantas Cipó Coronel João Sá Fátima Heliópolis Nova Soure Novo Triunfo Olindina Paripiranga Ribeira do Amparo Ribeira do Pombal Sírio do Quinto *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro