Com quantas lambidas se acaba um pirulito?

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  • Marcio L. F. Nascimento

Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 12:43

- Atualizado há um ano

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Uma famosa marca americana de pirulitos afirmou ter recebido mais de 20 mil cartas de crianças querendo saber precisamente com quantas lambidas se atinge o centro de um pirulito. Algumas até chegaram a reportar suas contagens, estando por volta de 600 lambidas. Mas seria tudo isto? Estaria realmente certo? Tal curioso número pode variar devido a alguns fatores, como tamanho, tipo e massa do pirulito, tamanho da língua de cada pessoa, temperatura, quantidade e composição da saliva, entre outras coisas - lembrando apenas que tal experiência deve sempre levar em conta um mesmo lado do pirulito.

Há uma resposta mais precisa para esta pergunta, embasada numa pesquisa científica - na verdade um doce experimento... Quantas lambidas são necessárias?

Mil lambidas. Esse é o número médio necessário para dissolver totalmente um pirulito, atingindo assim sua haste. Parece brincadeira, mas fez parte de um estudo sério dos matemáticos Jinzi Mac Huang, Matthew Nicholas Jam Moore (n. 1983) e Leif Ristroph (n. 1982) no Journal of Fluid Mechanics 765 (2015): Shape Dynamics and Scaling Laws for a Body Dissolving in Fluid Flow (algo como Dinâmica de Forma e Leis de Escala para um Corpo em Dissolução sob Fluxo Fluido). Vale ressaltar que tal estudo acadêmico interessou e atingiu muitas pessoas ao relacionar uma pesquisa a um passatempo muito gostoso e divertido, diga-se. E que também deve ser considerada uma estratégia inteligente de divulgação científica.

Um pirulito bastante comum tem por volta de 5 gramas, 1 centímetro de diâmetro, e é basicamente feito de açúcar derretido e resfriado rapidamente após a fusão (por volta de 150oC). Tal procedimento, de produzir uma substância a partir da fusão e resfriamento rápido, consiste numa milenar receita para elaboração de vidros. Logo, boa parte dos pirulitos são na verdade feitos de vidro, e consumidos tranquilamente – mas é importante ressaltar que esta formulação difere dos vidros de janela, que tem outra composição química...

De fato, às vezes a maioria da população não consegue perceber o alcance das descobertas científicas. As poucas informações que chegam através de jornais e revistas podem dificultar, ao invés de facilitar a compreensão, reforçando o mito da ciência desinteressada e não aplicada, o que não é o caso. Por exemplo, este conhecimento pode facilitar, ou ainda melhorar, a compreensão de outras situações, como por exemplo a dissolução de fármacos no organismo. Às vezes é necessário projetar um medicamento que atue de determinada forma, passando incólume pelo estomago e para depois atuar no intestino, visando uma determinada aplicação com maior eficácia.

Fluidos em movimento facilitam a erosão e dissolução de um material pela ação contínua do solvente a partir de uma superfície. A própria superfície do material sob erosão modifica a ação do fluido. Os pesquisadores imprimiram um jato de água em centenas de pirulitos, com velocidades entre 10 e 100 centímetros por segundo, observando sua dissolução em termos de minutos. Um resultado interessante envolveu a repetição de experimentos utilizando pirulitos esféricos, bem como na forma de cilindros.

Em ambos os casos, a dissolução de geometrias iniciais diversas levou a uma mesma forma geométrica terminal, o que não era esperado. E concluíram, de modo divertido, que um pirulito de 1 centímetro de diâmetro, lambido a uma velocidade de 1 centímetro por segundo, precisa de mil lambidas, “seguindo uma previsão que é notoriamente difícil de ser testada experimentalmente”. E que poderíamos acrescentar: claro, exceto para crianças!

Márcio Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA

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