Com surto de malária, estoque de repelentes acaba em Wenceslau Guimarães

Bahia também está em alerta por febre amarela, outra com transmissão via mosquito

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 24 de janeiro de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

Com medo de serem mais uma vítima do surto de malária, moradores da cidade de Wenceslau Guimarães, no Baixo Sul do estado, iniciaram uma guerra frenética em busca de repelentes, cujos estoques já acabaram na cidade.“Estamos tendo de ir buscar agora em outras cidades. Todo mundo está com medo aqui”, disse a estudante Brenda de Oliveira, 16, funcionária de um supermercado local.Wenceslau Guimarães - cidade de 22 mil habitantes, a 290 km de Salvador, e conhecida na Bahia como a “capital da Graviola” - concentra todos os casos de malária este ano na Bahia, com 23 registros, sendo que desses casos duas pessoas já foram a óbito. As vítimas são uma mulher de 31 anos e um homem de 33.

Mas a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) confirmou 21 casos, incluindo a morte da mulher, na segunda-feira (22), em decorrência da malária. O resultado do exame da outra vítima ainda não tem prazo para ser divulgado.

A busca por repelentes se dá, sobretudo, porque a malária é uma doença infecciosa causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito do gênero Anopheles, cuja presença é comum na Bahia.

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O mosquito, que pode ser mais visto entre o entardecer e início da noite, é inofensivo se não estiver com uma dos três espécies de protozoários associados à malária em humanos: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae.

A Sesab informou que por enquanto há apenas um surto da doença na cidade, que é quando “se observa quando há um grande número de casos em um determinado local”. Já a epidemia, explica a Sesab, “é caracterizada quando o surto acontece em diversas regiões”.

Sem informação Donos de farmácias ouvidos pelo CORREIO confirmaram o relado da estudante Brenda Oliveira, para quem “as pessoas estão precisando de mais informações sobre essa doença, sobretudo as mais pobres.”

“O que estão passando para as pessoas são ‘informações por alto’, sem dizer direito acho que precisa esclarecer mais isso”, disse Brenda. Outra moradora da cidade, a vendedora de cosméticos Juliana de Guimarães, 26, reforça a opinião da estudante.“Não tem quem não esteja preocupado com essa doença. Duas pessoas já morreram e mais de vinte estão contaminadas, quem garante que não vai mais ter gente contaminada por causa desses casos”, afirmou Juliana.A Prefeitura de Wenceslau Guimarães tenta tranquilizar as pessoas informando que o foco da contaminação ocorre numa área rural a 25 km da sede, chamada de Chico Lopes, onde residem 22 pessoas que foram contaminadas.

Mas o problema é que oito dos 21 pacientes contaminados estão internados no Hospital Municipal Pantaleão Soares de Melo, em Wenceslau Guimarães, o que faz as pessoas temerem o contágio na área urbana – os demais estão internados em Valença, Itabuna e em Salvador.

A Prefeitura de Wenceslau Guimarães diz que realiza desde a sexta-feira (19), junto com técnicos da Sesab, o trabalho de borrifação química na área de Chico Lopes, onde moram cerca de 100 pessoas, pertencentes a 25 famílias. Serão 40 dias de borrifação.“O trabalho que vem sendo feito é o que é recomendado pelas autoridades de saúde. Estamos buscando informar as pessoas sobre o assunto da melhor forma possível e, sobretudo tranquilizá-las”, disse ao CORREIO o prefeito Carlos Alberto Liotério dos Santos (PRB).Vinda de fora Santos disse que a Prefeitura não distribuiu repelentes porque “isso não faz parte das ações de combate à doença nesse momento”, e pediu para que “a população fique tranquila, até mesmo porque a doença foi importada do Pará [norte do Brasil]”.

“Descobrimos e identificamos que um parente de uma dessas famílias da comunidade de Carlos Lopes que mora no Pará veio passar o final do ano e estava contaminado com a malária. Foi ele quem trouxe a doença, confirmamos que ele está com malária”, disse o prefeito, informando em seguida que o homem está em tratamento.

O coordenador do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico infectologista Antônio Carlos Bandeira, disse que o fato de a malária ter sido “importada” do Norte do país é um fator tranquilizante, “pois não é algo que se possa temer que venha acontecer com frequência na Bahia”.

“Como foi trazido, o que nos resta é identificar o mais rápido possível esses pacientes contaminados, dar o tratamento adequado e fazer as ações de prevenção nas áreas onde elas residem, e tudo está dentro dos conformes. Não há o que temer”, disse.

Sobre o uso de repelentes por parte da população, o médico declarou que “é bom que sejam usados, pois previne contra qualquer tipo de mosquito e a pessoa estará evitando ter outras doenças, como febre amarela, dengue, zica ou chicungunha”.

A Sesab informou que fez em Wenceslau Guimarães “uma intervenção imediata para evitar a proliferação da doença” e que “técnicos da vigilância à saúde estão no local fazendo busca ativa de casos, trabalho de educação em saúde com a população”.“Está sendo feita também a borrifação nas casas da localidade e pesquisa entomológica”, declarou a Sesab, que esta semana firmou com a SBI acordo de cooperação técnica para acompanhar a situação da febre amarela na Bahia.A cooperação técnica incluirá reuniões mensais de monitoramento e discussão com especialistas de todo o país. Um fórum estadual, com técnicos da Sesab, SBI e Fiocruz, ocorrerá em fevereiro, com secretários municipais de saúde e especialistas da área.

Sob risco A Bahia tem 105 dos 417 municípios sob risco de ter a população contaminada com a febre amarela, porque nessas áreas “foram verificadas epizootias com confirmação de febre amarela em macacos”.

Apenas um caso foi registrado na Bahia, com morte de paciente, mas ele já tinha chegado doente do estado. O homem morava em São Paulo. Os últimos casos confirmados de febre amarela registrados na Bahia foram no ano de 2000, nas cidades de Jaborandi e Coribe, informou a Sesab.

A partir do dia 19 de fevereiro, terá início uma campanha de vacinação com doses fracionadas em oito municípios: Camaçari, Candeias, Itaparica, Lauro de Freitas, Mata de São João, Salvador, São Francisco do Conde e Vera Cruz. 

A Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba) convoca a população baiana para realizar doação de sangue antes de se imunizar contra a febre amarela. A Fundação visa reduzir o número de candidatos inaptos e conscientizar a sociedade a respeito dos critérios básicos para a doação de sangue.

A estratégia da Hemoba é convocar o maior número de candidatos possível para realizar doação de sangue, antes de receber a imunização contra a febre amarela. Isto porque, quando uma pessoa é imunizada contra a febre amarela, fica impedida de doar sangue por quatro semanas, a contar da data da vacinação.

Com a convocação, a Fundação pretende reforçar os estoques de sangue para continuar atendendo com segurança e qualidade a demanda de hemocomponentes dos hospitais e unidades de saúde do estado da Bahia, sobretudo neste período que antecede as festas populares e Carnaval.

Confia a lista dos municípios sob risco de febre amarela na Bahia:Alagoinhas, Alcobaça, Angical, Baianópolis, Barra, Barreiras, Barrocas, Belmonte, Biritinga, Bom Jesus da Lapa, Brejolândia, Buritirama, Camaçari, Campo Alegre de Lourdes, Canápolis, Candeias, Cândido Sales, Caravelas, Carinhanha, Casa Nova, Catolândia, Catu, Cocos, Condeúba, Cordeiros, Coribe, Correntina, Cotegipe, Cristópolis, Encruzilhada, Esplanada, Eunápolis, Feira da Mata, Feira de Santana, Formosa do Rio Preto, Guaratinga, Ibirapuã, Ibotirama, Ichu, Irará, Itabela, Itagimirim, Itaguaçu da Bahia, Itamaraju, Itanhém, Itaparica, Itapebi, Itarantim, Ituberá, Iuiú, Jaborandi, Jacaraci, Jucuruçu, Lajedão, Lauro de Freitas, Luís Eduardo Magalhães, Macarani, Maiquinique, Malhada, Mansidão, Mata de São João, Medeiros Neto, Morpará, Mortugaba, Mucuri, Muquém de São Francisco, Nova Viçosa, Ouriçangas, Paratinga, Paulo Afonso, Pedrão, Pilão Arcado, Piripá, Porto Seguro, Prado, Remanso, Riachão das Neves, Riachão do Jacuípe, Salvador, Santa Cruz Cabrália, Santa Maria da Vitória, Santana, Santa Rita de Cássia, São Desidério, São Félix do Coribe, São Felipe, São Francisco do Conde, São Gonçalo dos Campos, São Miguel das Matas, Saúde, Sebastião Laranjeiras, Serra do Ramalho, Sento Sé, Serra Dourada, Sítio do Mato, Sobradinho, Tabocas do Brejo Velho, Teixeira de Freitas, Tremedal, Urandi, Vera Cruz, Vereda, Vitória da Conquista, Wanderley e Xique-Xique.