Como a chuva de granizo fez Salvador entrar 2020 como cidade de primeiro mundo

Além do 'gelo do céu', descoberta arqueológica e correria na Black Friday provam que a capital baiana está no rol das grandes metrópoles do mundo

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  • Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 05:01

- Atualizado há um ano

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Os moradores do Baixo Itaigara e das mesorregiões da Pituba estão assanhadíssimos neste princípio de ano. Alguns já foram até diagnosticados com torcicolo e outras pequenas lesões cervicais de tanto flexionar o pescoço. Eles não se cansam de olhar para cima à espera das primeiras pedras de gelo vindas do céu.

O primeiro dia do ano da graça de 2020, em pleno verão soteropolitano, trouxe granizo na Rótula do Abacaxi, Nordeste de Amaralina e Cabula. “Salvador é barril. Tá caindo gelo”, disse uma testemunha, entusiasmada diante do milagre glacial.

Os mais ricos, me confessaram alguns, construíram uma lógica social para dar conta do fenômeno climático. “Se na casa do pobre tá caindo gelo, quando essa frente fria passar pra orla vai se transformar em floco de neve. Salvador virou cidade de primeiro mundo”.

Mas a neve é só o chantily do bolo. A capital baiana, de fato, deu provas suficientes em 2019, e continua dando neste início de 2020, que pretende assoviar para Nova Iorque, Londres, Paris, Berlim e Tóquio e gesticular: “tire sua onda comigo não, irmã”.

Aqui nós listamos alguns dos motivos que mostram como a Salvador está a passos largos de ocupar este seleto grupo das metrópoles globais – mesmo quando os motivos não são lá dos melhores.

Confira a lista!

1 – Descoberta arqueológica

Esse é um privilégio que Atenas (na Grécia), Roma (na Itália), Jerusalém (em Israel) e outras pouquíssimas cidades no mundo têm.  Basta começar uma obra que envolva escavação para um pedaço da história secular emergir no espaço.

Em dezembro último, nas obras de requalificação da Avenida Sete, foi descoberta uma estrutura que pode ser do Teatro São João. A antiga casa de espetáculo de Salvador foi inaugurada em 13 de maio de 1812 e funcionou por mais de 100 anos, até ser destruída por um incêndio, em 1923. Foto: Betto Jr/Arquivo CORREIO Diante da recém-descoberta, a estrutura vai se tornar ponto turístico adaptado à obra de requalificação.

2 – A ponte (que não saiu do papel)

Se São Francisco, na Califórnia, tem a famosa Golden Gate; Nova Iorque tem a ponte do Brooklyn e, na Austrália, turistas do mundo todo se deslocam para visitar a famosa ponte da baía de Sydney, Salvador não aceita ficar atrás.

Por aqui, existe o projeto de construção da ponte Salvador-Itaparica. O problema é que esse projeto existe desde março de 2009 – há quase 11 anos, portanto.

E, por enquanto, sequer um prego foi batido para ligar a terra de João Ubaldo ao continente. Recentemente, os chineses venceram uma licitação para começar a obra e provar que esse negócio pode (será mesmo?) finalmente sair do papel.

Ouça o primeiro Podcast do Baianidades que traz uma retrospectiva do primeiro ano da coluna

3 – Incêndios

Toda cidade do mundo que se preze já viu parte importante de sua história pegar fogo e pontos turísticos serem consumidos pelas chamas. Parece um legado deixado pelo imperador Nero, de Roma.

Em abril do ano passado, a Catedral de Notre-Dame, em Paris, foi destruída por um incêndio. Igual destino teve, em 1997, a Capela do Santo Sudário, em Turim. Ainda na Itália, um ano antes, o Teatro La Fenice, em Veneza, foi reduzido a pó e só reconstruído oito anos depois.

Por estas bandas de cá, no último mês, o monumento à cidade do Salvador, do artista plástico Mário Cravo (1923-2018), pegou fogo e foi completamente destruído. Fotos: Reprodução e Betto Jr/Arquivo CORREIO Felizmente, a família anunciou que vai doar o projeto original para que o monumento na rampa do mercado seja refeito exatamente no mesmo lugar.   

4 – Correria na Black Friday

É comum a gente assistir no Jornal Nacional, da TV Globo, cenas de milhares de pessoas se espremendo ao redor das grandes cidades do mundo para conseguir participar das promoções da Black Friday.

Este ano, em Salvador, as cenas foram exatamente iguais. Correria, histeria e muito empurra-empurra. A única coisa que não foi exatamente igual aos gringos foi o valor das promoções. Pouco desconto e quase nenhuma liquidação. É “tudo pela metade do dobro”, continuam insistindo alguns.

Veja vídeo:

5 – Tragédia ambiental

Nenhuma das grandes cidade do mundo se furta de ocupar o noticiário com suas tragédias ambientais. Agora mesmo, na Austrália, um incêndio gigantesco está destruindo florestas e matando uma quantidade absurda de animais nativos.  

Em Salvador, assim como em todo litoral nordestino, o ano de 2019 foi de uma tragédia sem precedente. Manchas de óleo apareceram em nossas praias matando crustáceos, mamíferos marinhos e corais – apenas não os peixes, que são animais inteligentes e fogem do óleo cru.

Ainda não sabemos o tamanho do impacto desta tragédia e o quanto essa poluição deixará marcas em nossas praias. A nossa parte a gente pode fazer ajudando o meio-ambiente com posturas que vão desde o consumo responsável à reciclagem. Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO E, por falar em reciclagem, comecei já fazendo minha parte. Este texto foi reciclado de um outro que escrevi em 2016, para o site Aratu Online. Lá, eu listei outros motivos que colocavam Salvador como uma capital de Primeiro Mundo. Como a ideia era reciclar, refiz a lista deste ano apenas com fatos atuais, sem repetir unzinho sequer. Prova que, entra ano e sai ano, Salvador sempre dá motivos para figurar entre as principais cidades do mundo.