Como Chadwick Boseman inspirou Nabiyah Be, sua colega baiana em ‘Pantera Negra’

Atriz e cantora completa 10 anos de EUA com carreira em ascensão; por aqui, cantou com estrelas como Margareth Menezes e Daniela Mercury, que exaltam seu talento

  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2020 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .
Nabiyah em uma das aparições em 'Pantera Negra', no papel de Linda por Foto: Reprodução

“Wakanda é aqui”, decreta Daniela Mercury em ‘Pantera Negra Deusa’, canção que fez para homenagear o Ilê Aiyê na esteira do sucesso dos ‘deuses de ébano’ do cinema, entre os quais, por acaso, está uma ex-vizinha sua. Sim, bê, a atriz e cantora Nabiyah Be, 28 anos, filha da psicóloga baiana Sonia Gomes com o cantor jamaicano Jimmy Cliff, nasceu em Salvador e cresceu no mesmo condomínio que Daniela mora, em Piatã.  Nabiyah Be sempre que pode volta a Salvador, para visitar parentes e amigos, e matar a saudade da cidade (Foto: Reprodução/Instagram) Mais que isso, era tratada como filha pela Rainha Má e, assim sendo, não podia dar em outra coisa: fez parte da ‘galera do mal’ na Wakanda de lá – da África ou da Marvel –, empreendendo uma guerra dinástica contra o rei T'Challa, vivido por Chadwick Boseman, ator que nos deixou há uma semana. Chadwick Boseman em seu papel mais famoso, o 'Pantera Negra', lançado em 2018 (Foto: Reprodução/Instagram) A rivalidade, no entanto, ficava apenas no universo ficcional, porque na vida real, o astro de ‘Pantera Negra’ já havia se transformado – antes de deixar o Aiyê e ir para o Orum, no dia 28 – em inspiração para a filha pródiga do Reino do Dendê, estrela em ascensão na “terra das oportunidades”.

À coluna Baianidades, Nabiyah (pronuncia-se Nábia), que faz ‘par romântico’ com o vilão Killmonger (Michael B. Jordan) em ‘Black Panther’, fez um balanço da sua primeira década de Norte-América e revelou que Chadwick, mocinho no filme, também deu-lhe um bom exemplo por trás das câmeras.

“No último dia de gravação ele expressou seu coleguismo, dando suporte, falando sobre como a gente não teve tempo de ver o trabalho um do outro... Foi um momento pequeno de interação, mas pra mim, como iniciante, começando no cinema, foi importante, teve uma expressão de generosidade da parte dele”, comenta ela, que encontrou Chadwick em Atlanta (EUA), local das últimas cenas de um dos maiores sucessos de bilheteria da história.

“O momento que eu interagi com ele foi quando o filme já estava todo gravado, mas ele ainda teve esse tempo de expressar todo o coleguismo”, destaca a intérprete da personagem Linda sobre o eterno rei de Wakanda.

[[galeria]]

Estágio no Carnaval A data de estreia do filme, no Brasil, foi bastante respeitosa com o nosso calendário: saiu um dia após a Quarta-feira de Cinzas de 2018, fazendo com que as poltronas dos cinemas, cheias de glitter e purpurina, brilhassem junto com a primeira participação de Nabiyah na telona.

Mas antes de ir parar em Hollywood, pra de tudo rolar, a jovem passou por um importante estágio no embalo da Rainha do Carnaval da Bahia. Quem relembra isso é a própria Daniela Mercury, que dirigindo o debute de nossa mocinha, colocou-a para cantar em palcos e trios elétricos.

“Nabiyah tem uma personalidade forte e vibrante e sempre foi muito obstinada e talentosa. Tem uma voz linda e poderosa e canta muito bem diferentes estilos musicais. Na época [final dos anos 2000], convidei Nabiyah para ser minha vocalista para introduzi-la no mundo profissional da música de Salvador e ela cantou muito bem e participou de cenas com os bailarinos e até cantou algumas músicas como solista”, relembra a majestade, que conheceu a menina quando ela ainda tinha 10 aninhos.

“Eu e Sonia, sua mãe, além de vizinhas, nos tornamos amigas muito próximas. E quando a conheci, Nabiyah já cantava e sonhava em atuar. Desde lá venho acompanhando sua carreira. Quando Sonia e ela se mudaram para Nova York, Sonia me contou que ela participaria do ‘Pantera Negra’ e celebrei muito essa conquista, achei espetacular”, contou Daniela ao Baianidades.

Madrinha O estágio de Carnaval ainda continuou como backing vocal de Carlinhos Brown, mas a ligação com a música baiana permanece presente até hoje, a exemplo da parceria musical que fez com sua eterna madrinha, Margareth Menezes, em 'Querera', no início desse ano. Assista.

O dueto é um reencontro importante, afinal, de alguma maneira Margareth ajudou Nabiyah a nascer, literalmente. “Conheço Nabiyah desde que ela nasceu porque a mãe dela, doutora Sonia Gomes, é uma amiga/irmã minha. Por meio de mim que ela conheceu Jimmy Cliff”, contou Maga à Baianidades.

O talento da moça já chamava a atenção da estrela do axé desde muito cedo, e a parceria também foi iniciada tão logo se tornou possível.“Logo novinha, ela [Nabiyah] já demonstrava potencial artístico. Quando ela tinha 13 anos eu fiz um show para o Ilê na antiga sede do EFC Bahia, e ela cantou comigo a música ‘Me Abraça e Me Beija’”, recorda Margareth.A estreia no cinema também deixou a madrinha feliz. “Depois a estreia dela no ‘Pantera Negra’ foi demais. Uma participação curta, porém, importante, já que se trata da única mulher negra e vilã no filme. Para mim, é muito bom vê-la conquistando seu lugar no mundo das artes”, continua a artista, também contente pela parceria mais recente.

“Já nos falávamos há tempos de fazer alguma coisa juntas. Ela topou [fazer ‘Querera’] e compôs a parte em inglês da música, e ficou muito bom. Virou uma música de destaque no projeto e a galera gosta muito. Ela tem uma careira brilhante pela frente”, concluiu.

Do teatro ao cinema De volta ao final dos anos 2000, Nabiyah emendou as participações em shows de gigantes do axé com a carreira solo e projetos no teatro. Emplacando até prêmios Braskem, participou do musical infanto-juvenil ‘O Fantasma de Canterville’, baseado no conto de Oscar Wilde, por um bom tempo em cartaz na Sala do Coro; também jogou duro na montagem de ‘O Pagador de Promessas’, no Teatro Gregório de Mattos, e, ainda no embalo da trupe d’Os Bumburistas, fez ‘A Virada’, numa boate do Rio Vermelho, um de seus cantinhos favoritos quando à casa torna.“Todo o circuito Rio Vermelho, eu já andei por tudo. Inclusive uma época que não tinha espaço pra andar. Uma coisa legal que eu vejo hoje é que dá pra ir andando de um lugar pro outro [risos]. Eu ia muito na Boomerangue. Inclusive, foi lá que eu fiz uma das minhas primeiras peças, ‘A Virada’”, recorda.A virada da Bahia para Nova York ocorreu em agosto de 2010 (portanto, há uma década), quando fez a última apresentação, já como cantora em carreira solo, no Pelourinho. Quem acompanhou a jovem promessa no show ‘Rebel in Me’, no Largo Pedro Archanjo, foi o amigo de infância (se conheceram num acampamento de férias) Ricardo Caian, cantor e multi-instrumentista que até hoje joga com a amiga no modo Rumo ao Estrelato. 

“Nabiyah é uma artista completa, que sempre respirou arte. Excelente atriz, dançarina, cantora... Desde criança, era um negócio que a gente ficava espantado. Além do talento, sempre busca fazer o melhor que ela pode. E é bem bacana ver esse processo dela assim com tudo, e agora com o cinema”, propagandeia o bróder, recentemente viajando com o rapper Baco Exu do Blues na aclamada turnê ‘Bluesman’, que, veja só que onda, também cita 'Black Panther' ["Deus está nas coincidências"], reforçando que não se trata apenas de um filme ["Óbvio ululante"]. 

Assim como Caian, que está prestes a lançar novo trabalho (solo), Nabiyah, a amiga rebelde em si, também está em pleno processo criativo, agora com um desafio ainda maior: será uma das protagonistas da adaptação do livro ‘Daisy Jones and The Six: Uma História de Amor e Música’, de Taylor Jenkins Reid, série original da Amazon Prime, com produção executiva de Reese Whiterspoon.

Antes de dar uma colher de chá, ou de sopa, para a nova empreitada da loira legal, Nabiyah relembra o impacto que ‘Pantera Negra’ teve nela justamente por ter impactado outras pessoas de uma forma inesperada.

Cita como exemplo a pré-estreia do filme, em Los Angeles, de onde falou esta semana com a gente. “Nesse dia [29/1/18], andando entre o tapete vermelho e a sala de cinema, pela primeira vez eu vi uma criança negra vestida de Pantera Negra. E só de ver a excitação, o interesse dela em um filme que não tinha sido nem lançado ainda, foi imediato perceber a importância da representatividade”, refletiu a Girl from Piatã. Foto: Reprodução/Instagram “A reação no cinema só confirmou isso. A energia era muito boa. Foi a mesma coisa assistindo com meus amigos, porque a gente não cresceu com essas referências”, completou, orgulhosa do seu trabalho e da sua origem.

Falando nisso, conta que embora boa parte das pessoas com quem trabalhou nos EUA não conheça Salvador – a Wakanda dela e de Daniela, sem vatapá, capoeira e Porto da Barra –, a busca por informações sobre este recanto algo recôndito é cada vez mais recorrente.

“Nos últimos anos, a Bahia tem entrado mais na superfície e na consciência de muitos negros ao redor do mundo por ser, realmente, uma Meca cultural e energética de cultura predominantemente do Oeste da África. Então, na medida em que negros ao redor do mundo vão buscando informação, conhecimento e sabedoria sobre nossas origens, inevitavelmente Salvador se torna um foco de observação e de aprendizado”, ensina a heroína. #SalvadorForever!