Como transformar o trabalho em via de prazer ao invés de doença?

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  • Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Ao começar o ano, traçamos metas pessoais e profissionais para serem alcançadas. Porém, acabamos engolidos pelas diversas demandas cotidianas, sem conseguirmos atingi-las. Envoltos em muitas responsabilidades, deixamos nossos projetos pessoais e priorizamos as tarefas do trabalho. O problema é quando a insatisfação por abandonar os sonhos pessoais nos assola e nos tira do eixo, prejudicando a nossa saúde física e emocional. Uma pesquisa sobre estresse e ansiedade no ambiente de trabalho, divulgada pelo Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente, demonstra que entre os motivos de insatisfação no ambiente de trabalho estão: excesso de trabalho, com 23%; pressão por resultados, com 18%; busca por perfeição, com 11% e, por último, o medo de demissão, com 7%. Os sintomas mais comuns de desgaste emocional são: irritação, dificuldade de relacionamento, cefaleia, taquicardia, sudorese, ansiedade e desânimo. Eles podem aparecer de maneira aguda ou de forma crônica. Via de regra, essas reações emocionais acontecem quando as demandas laborais são maiores do que o sujeito suporta. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em seu livro Sociedade do Cansaço, traz uma importante reflexão sobre a cultura do século 21. Para ele, vivemos a sociedade do desempenho, onde priorizamos a execução e produção do processo laboral. O sujeito, no discurso absurdamente redundante da eficiência e eficácia, deve “produzir a produtividade” incessantemente. Consolida-se, aí, o cansaço mental numa sociedade que parece desconhecer seus limites. Essa tentativa incansável de dar conta de todas as demandas do outro social, representada pelo trabalho, acaba por se tornar uma grande obrigação, gerando desgaste emocional. Trata-se, enfim, de uma demanda compulsiva e obsessiva que se retroalimenta, levando à exaustão mental. O autor ainda sinaliza que os sujeitos da sociedade do desempenho sequer experimentam momentos de contemplação, indispensáveis ao sossego mental. Esse ponto nos permite uma articulação com o conceito de gozo da psicanálise, que está relacionado ao excesso insuportável que se manifesta no corpo, na forma de desprazer. O desassossego imposto por essa sociedade impede que o indivíduo produza algo original, limitando-se a fazer sempre o mesmo, sem sair da queixa. Talvez, esse seja o motivo pelo qual cada vez mais nos deparamos com indivíduos repetitivos, queixosos, angustiados, oprimidos, demandantes, que não abrem mão de uma parcela desse mal-estar experimentado no excesso de trabalho. Como criar uma barreira contra esse excesso contemporâneo, sem bordas e sem limites? De que forma podemos fazer com que o trabalho não se apresente como um sintoma penoso, mas, noutra perspectiva, ser sentido como uma via de prazer e satisfação?

Ueliton Pereira é psicólogo da Holiste

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