Concurso da prefeitura de Conceição da Feira é investigado por suspeita de fraude

Ministério Público suspendeu a homologação do resultado final

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 19:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O concurso público da Prefeitura de Conceição da Feira está sob investigação do Ministério Público da Bahia (MP-BA) por suspeita de fraudes que teriam beneficiado parentes e aliados de vereadores e da vice-prefeita Rosilda de Sousa Bastos (DEM).

Por recomendação do MP-BA, emitida em 30 de janeiro, a Prefeitura de Conceição da Feira, a 120 km de Salvador, suspendeu a homologação do resultado final e informou que investigará as denúncias de favorecimento de candidatos.

O promotor Marcel Bittencourt escreveu na recomendação que “durante a realização da prova não foram utilizados pela empresa organizadora do certame detectores de metais, bem como outros procedimentos de segurança em concursos de tal natureza”.

Para ele, esses “indícios, quando cotejados, apontam possível fraude no referido processo seletivo”, realizado pela empresa Suprema Concursos, sediada em Feira de Santana.

O CORREIO manteve contato com a Suprema, que ficou de se manifestar sobre o caso, mas não deu retorno. O número de inscritos no concurso não foi revelado pela Prefeitura. As vagas eram para os cargos de nível fundamental (valor da inscrição R$ 50), médio (R$ 60), médio técnico (R$ 80) e superior (R$ 100).

Candidatos que concorreram a uma das 433 vagas do certame relataram diversas falhas da Suprema, como a divulgação de gabaritos errados, atraso na divulgação das respostas e realização de provas e títulos para cargos de nível fundamental e médio, como de motoristas e tratoristas. Há relatos ainda de que pacotes com folhas de gabarito estavam com o lacre rompido.

A falta de detector de metais e de fiscais de acompanhamento foi observada pela candidata ao cargo de professora de Educação Fundamental Cláudia Cruz, 41 anos, moradora de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador.

“A sala que fiz a prova ficava ao lado do banheiro e o entra e sai lá era constante, sem que ninguém fiscalizasse. Já fiz vários concursos e nunca tinha visto uma situação dessa, de tanta gente ficar indo tanto ao banheiro durante a prova”, ela disse.

As provas ocorreram no dia 15 de dezembro e o resultado parcial foi publicado em 28 de janeiro. Moradora de Feira de Santana, Natyelly Santos de Souza, 21, concorreu a uma vaga de orientador social (nível fundamental) e ficou confusa quando houve a divulgação do resultado parcial.

“O edital previa 3 vagas imediatas e mais 5 para cadastro reserva, mas no resultado apareceram 32 pessoas classificadas. Eu fiquei na 19ª posição, e aí depois divulgaram que os classificados teriam de fazer provas de títulos. Fiquei confusa e nem fui”, declarou.

O presidente da Câmara de Vereadores, vereador Carlos André (PSD), não foi localizado para comentar o assunto. Primeiro secretário da Casa, o vereador Glauber Eliésio da Silva Souza, do PSDB, disse que “uma das provas de irregularidades constatadas no concurso é que pessoas tiraram foto fazendo a prova”.

“A pessoa entrou com um celular escondido na bota e ninguém viu. Além disso, houve também mudança da data da prova, sendo que o próprio edital previa que isso não poderia ocorrer”, acrescentou, informando em seguida que “os casos de supostos beneficiamentos de parentes de vereadores estão sendo apurados e que tudo que se sabe é o que estão divulgando nas redes sociais, não tem nada provado”.

Em nota, a prefeitura de Conceição da Feira informou que “instaurou investigação para apuração acerca do resultado do concurso público, de modo que não haverá homologação do resultado até o final da análise pormenorizada da questão”.

A prefeitura informou “não compactuar com qualquer tipo de irregularidade eventualmente praticada, repudiando fatos desabonadores da ética e da moral que devam estar presentes na conduta de toros os seus integrantes”.

“Esse governo empenha-se diuturna e rigorosamente para que eventuais desvios de conduta sejam evitados, investigados e corrigidos dentro dos limites da lei, e para que a lei e a transparência com a questão pública sejam respeitadas”, afirma a nota.

Ainda segundo a nota, “o procedimento da seleção será detalhadamente analisado, agora pelos membros do Executivo, em conjunto com o Ministério Público Estadual, sendo o resultado publicado de forma ampla e transparente a toda população”.