Conheça a história da subtenente Marly, escolhida por Santa Bárbara

Homenagem acontece nesta quarta (4) e abre o calendário de festas religiosas em Salvador

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  • Gil Santos

Publicado em 4 de dezembro de 2019 às 05:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO

Marly era uma adolescente de 14 anos quando ouviu falar de Santa Bárbara pela primeira vez. Filha de família evangélica, a menina estava procurando Deus em outras religiões quando foi fisgada pela história de Bárbara, uma adolescente que se recusou a seguir a doutrina do pai, no caso o ateísmo, e morreu defendendo a fé católica.

A hoje subtenente Marly voltou para casa inquieta com a história e foi assim que foi nascendo uma devoção de mais de 20 anos. Foi em Santa Bárbara que ela se apegou quando fez o concurso para o Corpo de Bombeiros, em 1996, e foi surpreendida ao descobrir depois de ingressar no curso, que a santa é a padroeira da corporação. Quartel dos Bombeiros da Barroquinha está pronto para a festa (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Nesta quarta-feira (4), Marly Nery, 43 anos, estará mais uma vez na Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, para acompanhar a procissão em homenagem a santa. Vestida de vermelho da cabeça aos pés. Ela disse que não tem certeza se foi ela quem escolheu Bárbara ou se foi a santa quem a escolheu. A subtenente explica.

“Depois que ingressei no curso de formação dos Bombeiros fiquei surpresa em descobrir que ela era a padroeira da profissão que eu escolhi. No ano seguinte, houve uma cerimônia de entronização de Santa Bárbara e eu fui escolhida para segurar o manto. Eu não me ofereci para isso, mas fui escolhida. Até o começo de 2000 os bombeiros cortavam o quiabo que é oferecido na festa, mais uma vez fui a selecionada”, contou.

Para além das coincidências existe a fé. Marly tem uma imagem da santa em casa e acende vela para ela todas as quartas-feiras. Ela contou que não é de pedir muito para Bárbara, e que no dia 4 de dezembro faz a procissão apenas para agradecer pelas coisas boas que aconteceram no ano. Uma devoção que ela tenta passar para o filho de 19 anos. Multidão saí em procissão em 2018 (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A missa desta quarta deve estar lotada, mas terá uma mudança em relação ao ano passado, vai começar 1h mais cedo, às 8h. Segundo o prior da Igreja do Rosário dos Pretos, Adonai Ribeiro, a decisão foi por uma questão de conforto para os fiéis. Quando a missa começava às 9h os devotos tinham que enfrentar o sol das 10h para a procissão, e o cansaço era mais intenso.

“Todos os preparativos estão prontos e esperamos uma festa linda. É preciso lembrar a procissão de Santa Bárbara acontece desde 1604, quando a igreja ficava no pé da Ladeira da Montanha. Houve um incêndio e ela mudou, primeiro, para a Praça Cayrú, depois, para o Mercado de Santa Bárbara e, em 1985, foi levada para a Igreja do Rosário dos Pretos onde está até hoje”, contou. Imagem deixa a igreja no ano passado (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Até 1997, as celebrações pela santa aconteciam com uma missa campal, mas a partir do ano seguinte a procissão pelas ruas do Pelourinho começou a ser realizada. Por tradição, antes de Bárbara deixar a igreja, outros seis santos a prescindem, mas como é o dia de homenagem a santa, o andor dela é o mais concorrido. Bombeiros, membros da Irmandade do Rosário dos Pretos e devotos se alternam na tarefa durante todo o percurso.

A procissão acaba sendo uma metáfora da vida da subtenente Marly, nossa personagem lá do início dessa história. Isso porque depois de tatear por diversas religiões, ela acabou por abraçar a Umbanda, e encontrou mais uma surpresa para sua lista de coincidências. Descobriu que na religião de matriz africana seu orixá é ninguém menos que Iansã, ou Santa Bárbara na tradição cristã. Santa Bárbara é Iansã no sincretismo (Foto: Marina Silva/ Arquivo CORREIO) Confira a programação da festa:

5h - Alvorada festiva 6h - Repique de sinos 8h - A Missa campal, presidida pelo capelão, padre Jonathan de Jesus da Silva. Logo após a Celebração Eucarística acontecerá uma procissão, que sairá da Igreja do Rosário dos Pretos, passará pelas ruas Gregório de Mattos, João de Deus, Terreiro de Jesus, Praça da Sé e Ladeira da Praça. Ao chegar ao Corpo de Bombeiros (Barroquinha), os devotos farão uma parada para homenagear a padroeira da corporação e, logo após, seguirão para a Baixa dos Sapateiros, Rua Padre Agostinho e Pelourinho.