Consumo retraído: Educador financeiro aponta os caminhos para organizar finanças

Confira dicas para manter finanças equilibradas e vencer a crise

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 13 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Shutterstock

Os desdobramentos da quarentena causada pela COVID-19 provocaram um abalo sem precedentes na vida dos pequenos e micro empresários, especialmente no que tange as finanças.  A pergunta que surge é: como manter as atividades comerciais com o consumo reduzido e consequente redução de receitas? 

Para o educador financeiro Edísio Freire, a  forma mais adequada de atravessar o momento de maneira mais suave, é fazendo um planejamento financeiro bem ajustado. “A empresa deve revisitar seu orçamento anual, se não tem, fazer um de imediato, compondo os gastos e receitas previstas, e em seguida definir um plano de ajuste no orçamento eliminando gastos que não são essenciais e otimizando as despesas importantes”, ensina.

Edísio Freire salienta a importância de uma atitude positiva e organizada para enfrentar os piores momentos da quarentena (Foto: Divulgação) Para ele, o momento agora é de reduzir custos, evitar gastos que não sejam necessários e suspender aqueles que podem esperar. “ Mesmo que tenha caixa, deve adotar essas medidas e manter o máximo de reserva possível. As flexibilizações apontadas nas MPs 927 e 936, podem ser utilizadas para ter uma folga de caixa, mas com disciplina e responsabilidade, para evitar gastar todo o dinheiro e quando chegar no próximo semestre não ter recurso para honrar com os compromissos”, diz o especialista, ressaltando que, no final de ano,  outras despesas aparecerão, como o pagamento do 13º salário. 

Outro instrumento importante destacado por ele é a MP 944, que permite empresas com faturamento anual acima de R$ 360.000,00, aderirem ao empréstimo para pagamento da folha por 60 dias. “É uma boa alternativa, mas utilize com cuidado para evitar aumentar o endividamento da empresa”, ensina.

Coelhos da cartola

Freire reconhece que o momento econômico é muito delicado e que as empresas precisarão “tirar um coelho da cartola” para conseguir sobreviver. “Em tempos de isolamento social, poucas pessoas nas ruas, comércio fechado, é preciso ter muita criatividade para se reinventar e continuar firme em um mercado ainda incerto”, reflete, frisando que o avanço tecnológico e a globalização podem colaborar muito para esse momento de reinventar, colocando o produto e/ou serviço em qualquer lugar do Brasil e do mundo. 

“Cada empresário precisa se debruçar sobre o seu produto ou serviço e descobrir como colocá-lo a disposição de todas as pessoas que estão conectadas, garantindo qualidade e bom atendimento, fatores determinantes para o sucesso”, orienta.

  Para exemplificar sua posição cita o exemplo de  salões de beleza que não vai podem tratar as unhas e os cabelos de suas clientes pela rede social, mas pode se reinventar criando dicas, orientações e cursos nas áreas especificas, contribuindo para o desenvolvimento do seu público e ao mesmo tempo gerando negócios, que é necessário nesse momento.

Ele pontua que, com o faturamento menor, as empresas precisam buscar alternativas para honrar os compromissos financeiros, principalmente o pagamento de fornecedor e de pessoal, que são determinantes para garantir o funcionamento do negócio. “Quando não há formas de gerar caixa, a saída pode ser a contratação de empréstimos para saldar despesas correntes, porém, é importante ter muito cuidado para não estar apenas adiando um problema”, diz, lembrando que é  fundamental ter muita cautela na hora de decidir contratar um empréstimo, ele pode ser a solução, mas também pode se transformar em um problema. 

“Contrate apenas se for muito necessário e se tiver feito as contas para avaliar o impacto no fluxo de caixa mensal com o pagamento das parcelas, evitando um futuro problema financeiro com a inadimplência e danos maiores para a empresa”, sugere. Para ele, o planejamento precisa ser feito de forma clara e responsável, porque a crise vai passar e a empresa precisará continuar viva quando tudo voltar à normalidade. 

Olhos no futuro

Para fugir do endividamento, a sugestão do especialista é analisar cuidadosamente o  orçamento, procurando  ajustar os gastos da maneira mais otimizada possível, prorrogando o prazo de pagamento de todos os compromissos possíveis e criando mecanismos para antecipar o recebimento se essa for uma opção viável.” Além disso, use as medidas do Governo a seu favor de forma a melhorar o caixa da empresa sem precisar aderir a opções de empréstimos e financiamentos”, orienta.

Para ele, as empresas e pessoas que fizeram o dever de casa direitinho e mantiveram um reserva de segurança, passarão com mais tranquilidade por essa crise. “Os demais, certamente precisarão de desfazer de ativos ou contratar linhas de crédito para sobreviver, contudo, é importante ter a percepção da conjuntura atual e tomar decisões sóbrias e pautadas em um planejamento para não complicar ainda mais a situação”, pondera.

Freire lembra um provérbio português que diz “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”. “A crise está forte e deve piorar um pouco, mas vai passar e quando isso acontecer a economia vai retomar com força total, muito setores ressurgirão ainda mais fortes e o aquecimento econômico será pleno, mas sempre de forma gradativa, não dá para criar nenhuma expectativa de recuperação sem ouvir o que os profissionais de saúde têm a dizer sobre a evolução do vírus”, defende.  

O especialista destaca que  cada setor se comportará de maneira diferente. “Segmentos como Ensino a Distância, Entretenimento online, Nutrição e Saúde, explodiram de demanda na crise e deve se manter no longo prazo. Já empresas do segmento de alimentação e produtos de limpeza, elevaram muito as vendas na crise mas devem voltar à normalidade depois do COVID19”, analisa. 

Setores tiveram uma queda grande na crise, como o de Eletrodomésticos, Roupas e Serviços de Beleza, contudo, após essa pandemia devem ter um pico de crescimento bem relevante. Os restaurantes, cinemas e academias, caíram bastante na crise e sua recuperação deverá lenta. “O ideal é identificar como seu negócio está se comportando na crise e qual a expectativa para quando essa fase passar, e assim, iniciar os preparativos, seja com uma visão de mudança, seja com investimentos para alavancar o negócio, não importa, o que vale é a implantação de um bom planejamento para quando a economia retomar, poder aproveitar por completo”, finaliza.   Finanças em dia 1.    Revise o negócio 2.    Corte gastos onde for possível e faça reservas financeiras 3.    Abuse da criatividade para alavancar o consumo do seu produto ou serviço 4.    Esteja atento aos benefícios oferecidos pelo governo e veja se há algo que possa ajudar 5.    Se puder fugir do endividamento, segure firme 6.    Se o endividamento for uma necessidade, analise o impacto da dívida para o futuro 7.    Lembre-se que a crise passará