Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2022 às 05:13
A violência policial é um dos graves problemas do Brasil. Operações policiais abusivas; mortes decorrentes de intervenção policial e falta de protocolo nas abordagens e procedimentos formam um quadro de alta complexidade que demanda múltiplos níveis de ação por parte dos governos e, sobretudo, do Ministério Público, a quem, segundo a Constituição Federal, compete exercer o controle externo das polícias no Brasil. Na Bahia, o problema ganha contornos especialmente dramáticos. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2020, a Bahia registrou 1.137 pessoas mortas decorrentes de intervenção policial, o que significa que das mortes violentas intencionais registradas no ano 17% foram resultado da ação da polícia. O número é o maior desde o início da série histórica, em 2008, e revela uma espécie de chancela à ação letal do estado por meio da não investigação das ocorrências e da não responsabilização dos agentes. Episódios como a morte do menino Joel Conceição Castro, de 10 anos, vítima de uma operação da Polícia Militar no bairro Nordeste de Amaralina, em 2010; a chacina do cabula, em 2015, quando 12 jovens negros foram executados em uma ação policial ou, mais recentemente, a chacina da Gamboa, em 2022, quando três jovens foram mortos pela Polícia Militar, são exemplos recentes da violência policial que expõe as mazelas do sistema de justiça e que revelam a paralisia das instâncias administrativas perante os casos de abuso na atividade policial.
Para enfrentar essa realidade a Defensoria Pública do Estado da Bahia elaborou um documento com indicações de medidas para redução da letalidade policial. O material, entregue ao governador e ao Secretário Estadual de Segurança Pública, contém uma série de propostas como utilização de câmeras corporais pela Polícia Militar; maior transparência nos dados de Segurança; canal de atendimento para casos de desaparecimento de pessoas após abordagem policial; a revogação do “Baralho do crime” e a comunicação imediata às corregedorias (da Secretaria de Segurança e das Polícias) sobre as instaurações de inquéritos policial para apurar homicídio doloso. O objetivo destas e de outras ações é acelerar e otimizar as políticas de prevenção e aumentar a fiscalização e o controle da atividade policial.
Neste sentido, a iniciativa da Defensoria é, ao mesmo tempo, um desafio e uma proposta ao governo e aos demais atores do sistema de justiça. Ao indicar objetivamente um conjunto de pontos em torno do enfrentamento à violência policial, a Defensoria propõe um núcleo em torno do qual podemos debater e alcançar novos acordos políticos acerca da proteção à vida e ao exercício da cidadania política. Dito isso, cabe perguntar: conseguiremos vencer a violência policial? Vamos abrir um debate público capaz de superar omissões e cumplicidades com a violência? Até onde teremos capacidade de reagir para mudar institucionalmente essa realidade? São perguntas pertinentes, contudo ainda não respondidas no debate público e perante as autoridades governamentais. São perguntas que nos interpelam a todos e que representam urgências da vida democrática.
Cada vez mais, é imperativo que o Ministério Público e o Poder Judiciário, bem como o conjunto dos candidatos ao governo do estado e à assembleia legislativa, por exemplo, posicionem-se sobre questões práticas da violência policial e que, em conjunto, elaboremos uma síntese sobre o que fazer para mudar esta realidade.
Felipe da Silva Freitas é doutor em direito pela Universidade de Brasília, professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), e diretor da Plataforma Justa.