Coronavírus é mais letal entre negros no Brasil

Diferença de letalidade entre raças pode ser ainda maior que a verificada pelo Ministério da Saúde

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  • Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2020 às 22:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

A covid-19 tem se mostrado mais letal entre negros do que entre brancos no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados nesta sexta-feira (10), pretos e pardos são 1 em cada 4 hospitalizados por covid-19 (23,1%), mas 1 em cada 3 mortos (32,8%). Com os brancos, ocorre o contrário: são 73,9% entre aqueles hospitalizados com covid-19, mas 64,5% entre os mortos. A diferença de quase dez pontos percentuais entre  negros hospitalizados e negros mortos pela covid-19 chama atenção das autoridades médicas. "Se as chances de morte pela doença não dependem de raça ou cor, tem algo errado, uma outra influência neste resultado, seja o tipo de tratamento oferecido, seja alguma outra comorbidade que as pessoas negras tenham", aponta Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. 

A diferença de letalidade entre brancos e negros pode ser ainda maior já que, do total de 1.056 óbitos pela doença contabilizados, 32% não tiveram a cor/raça da vítima registrada. Os dados disponíveis até o momento acabam por refletir a primeira onda de contaminados pelo novo coronavírus: pessoas de alto poder aquisitivo, que viajaram para fora do país e voltaram com o vírus. "São pessoas majoritariamente brancas e que tiveram acesso aos testes e a serviços hospitalares", diz Ornelas, ao enfatizar a falta de dados consistentes que permitam a explicação dessa discrepância.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) são negros, e estes também são maioria dos pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas no país —todos considerados agravantes para o desenvolvimento de quadros mais gravosos da covid-19. 

"A epidemia começou com uma elite, majoritariamente branca, mas que tem sua cozinheira, sua faxineira, seus cuidadores, majoritariamente negros", enfatiza Luis Eduardo Batista, pesquisador do Instituto da Saúde da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e membro do grupo de trabalho de racismo e saúde da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Por isso, ele constata que o isolamento social não foi capaz de retardar a  chegada do coronavírus nas periferias, como era esperado.

Esta seana, grupos que lutam pela questão racial, como a Coalizão Negra Por Direitos e o Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra da SBMFC, entraram com  um pedido, via Lei de Acesso à Informação, para que o Ministério da Saúde divulgasse os dados relativos à pandemia do coronavírus com recortes de raça, gênero e localização.