CPI da Covid dá voz de prisão a Roberto Dias por mentir em depoimento: 'pode levar'

Senadores citam áudios que colocam em xeque versão do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, acusado de pedir US$ 1 de propina por dose de vacina

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  • Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2021 às 17:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Agência Senado

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), mandou prender o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, que prestou depoimento nesta quarta-feira (7) sobre o escândalo envolvendo propinas na venda de vacinas contra a covid-19. "Ele vai ser recolhido pela Polícia do Senado. Está mentindo desde de manhã", comentou Aziz, antes de tentar ser demovido da ideia pelos defensores do depoente.

Outros senadores também pediram que o presidente da comissão reconsiderasse o pedido de prisão por isonomia com outros depoentes que, segundo eles, também mentiram e tiveram negados os pedidos de prisão. 

"Não aceito que a CPI vire chacota. Nós temos 527 mil mortos, e os 'cara' brincando de negociar vacina. Por que que ele não teve esse empenho pra comprar a Pfizer, que era de responsabilidade dele naquela época? Por quê? Ele está preso por mentir, por perjúrio. E se eu tiver tendo abuso de autoridade, que a advogada dele ou qualquer outro senador, me processe, porque ele está sendo preso agora pelo Brasil, pelas vítimas que morreram, pelas vítimas sequeladas", disse o senador, antes de encerrar a sessão e ordenar à polícia legislativa: "Pode levar". 

Dias afirmou à CPI da Covid que as negociações para a compra de vacinas estavam “restritas” à secretaria-executiva da pasta e não tinham relação com o departamento onde trabalhou. No entanto, Dias se contradisse ao afirmar que não negociava vacina, mas confirmar que recebeu e-mail da empresa que ofereceu o vacina indiana Covaxin.

O ex-servidor foi exonerado do cargo pelo governo de Jair Bolsonaro logo após a denúncia de um suposto pedido de propina, no valor de US$ 1 por dose, se tornar pública, além de ter sido acusado de pressionar de maneira 'atípica' a compra da Covaxin.

O pedido de prisão vem após a divulgação de áudios e mensagens registrados no celular do cabo da Polícia Militar Luis Paulo Dominghetti e que estão em poder da CPI. Roberto Dias disse que o encontro no qual o atravessador da Davati afirma ter recebido um pedido de propina foi acidental.

A CNN Brasil divulgou uma série de áudios que dão conta dessa contradição. No dia 23 de fevereiro, dois dias antes do susposto pedido de propina, Dominghetti envia um áudio a um interlocutor, Rafael, às 16h22. "Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias... e a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério", diz Dominghetti.

O dia do áudio, 23, é uma terça-feira. Quinta-feira, quando Dominghetti cita já ter uma reunião marcada para "finalizar com o Ministério" é exatamente o dia 25, quando houve o jantar em um bar em Brasília no qual Dias teria pedido propina.

Ainda segundo a CNN, no dia 25, quando ocorre o susposto pedido de propina, Dominghetti recebe um áudio de um aliado, Odillon, o homem que o ajudou a fazer contato com militares que, segundo ele, abriram portas no Ministério da Saúde. Na mensagem, Odillon pergunta: "Queria ver se vocês combinaram alguma coisa para encontrar com o Dias". Isso foi às 14h51.

No dia 26, após ter tido uma reunião com Roberto Dias no Ministério da Saúde, Dominghetti volta a enviar mensagem ao interlocutor Rafael. Ele diz que havia acabado de sair da pasta. A mensagem foi enviada às 17h16. A agenda oficial da pasta registra o encontro às 15h.

"Rafael, acabei de sair aqui do Ministério. Tudo redondinho. O Dias vai ligar pro Cristiano (representante da Davati no Brasil) e conversar com o Herman (CEO da Davati) ainda hoje, tá. Ele tá afinando essa compra aí, várias reuniões certificando a turma de que a vacina já está à disposição do Brasil", diz Dominghetti. Ele finaliza o áudio dizendo que estão discutindo como seria o pagamento. "Se for da Astrazeneca, melhor ainda".

Após o anúncio da prisão, e antes do encerramento da sessão, a advogada do depoente tentou contornar a situação, sem sucesso. 

Confira a sessão na íntegra.

Encontro com Barros Mais cedo, Roberto Dias admitiu que se reuniu com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), algumas vezes e foi até à casa do parlamentar, apesar de ter negado influência em sua indicação para a pasta.

Durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Dias foi questionado por senadores e provocado a apontar um suposto esquema de corrupção no Ministério da Saúde. Ele, porém, negou qualquer envolvimento com irregularidades.

Dias também negou ter recebido ordem do ex-secretário-executivo da pasta Élcio Franco ou do ex-ministro Eduardo Pazuello para fazer algo com o qual discordava. "Não tenho na memória nenhuma ordem não cumprida ou descumprida", disse.

O presidente da CPI afirmou que o ex-diretor produziu um dossiê para se proteger. "Nós sabemos onde está", declarou Aziz.

Defesa vai ao STF

A defesa do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias vai entrar com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar a prisão do ex-servidor pela Polícia do Senado na tarde desta quarta-feira (7), após ordem do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM). O senador sustentou que Dias cometeu ‘perjúrio’ em seu depoimento ao colegiado, ao negar que havia combinado um encontro com o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que o acusou de pedir propina para vender vacinas ao governo.

Dias também pode ser liberado da prisão após pagar fiança. A possibilidade está sendo discutida pela cúpula da CPI da Covid e o ex-servidor pode ser liberado antes mesmo de ser conduzido à Polícia Federal.