Crânios de baianos se tornam centro de briga por 'herança racista' na Suécia

Restos mortais de indígenas e escravizados foram usados em estudos para 'comprovar a supremacia branca'

  • D
  • Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2021 às 10:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Ann Gustavsson/Karolinska Institute

Oito crânios baianos compõem uma coleção de quase 800 que estão armazenados no Instituto Karolinska da Suécia, o mesmo responsável por eleger o vencedor do Prêmio Nobel de Medicina. Os restos mortais foram usados em estudos associados às teorias do racismo científico, que buscavam "provar" uma suposta superioridade do homem branco.

Os experimentos foram realizados durante os séculos 19 e 20 pelos suecos Anders e Gustaf Retzius, pai e filho. Eles buscavam fazer uma associação entre o tamanho e anatomia do crânio com um grau maior de elevação intelectual. 

Para isso, eles saquearam túmulos em todo o mundo. No caso dos crânios baianos, eles foram enviados enviados ao Instituto Karolinska pelo professor de anatomia inglês Jonathan Abbot entre os anos1847 e 1850. Abbot viveu em Salvador, onde chegou a trabalhar como cirurgião-chefe no hospital da Santa Casa de Misericórdia.

A correspondência trocada entre Abbot e os suecos mostram que seis destes oito crânios são de indígenas brasileiros mortos durante conflito armado entre grupos indígenas e colonos no interior da Bahia, no fim da década de 1840.

Já os outros dois são de africanos que estavam escravizados naquele período.

"As cartas revelam que Anders Retzius tinha interesse específico em obter crânios da população indígena brasileira. Mas Jonathan Abbot enviou também dois crânios pertencentes a africanos escravizados da região", disse à BBC Brasil o professor Olof Ljungström, chefe da Unidade de Investigação e Documentação das coleções de anatomia do Instituto Karolinska.

'Henrança racista' Dois séculos depois, os estudantes da instituição, informa a BBC Brasil, exigem não só um pedido público de desculpas, como a remoção imediata dos nomes de Anders e Gustaf Retzius de salas e laboratórios do instituto batizados em sua homenagem.

A luta deste movimento estudantil começou em 2014, mas ganhou força no ano passado após o assassinato de George Floyd por um policial branco nos Estados Unidos.