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Vinicius Nascimento
Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 18:00
- Atualizado há 2 anos
Quanto vale a liberdade? Quanto vale investir na busca pela liberdade? Os velejadores Rodrigo Dantas, Daniel Guerra e Daniel Dantas responderam a difícil pergunta nesta quinta-feira (14) em entrevista coletiva, em um hotel no Jardim de Alah, em Salvador, acompanhada por pais, parentes, amigos e muita emoção.>
Foram 18 meses detidos em uma penitenciária de segurança máxima na ilha de Cabo Verde, território africano a cerca de 3.500 km de Salvador, sob a acusação de tráfico internacional de drogas. Rodrigo e Daniel Dantas são baianos, Daniel Guerra é gaúcho.>
Quem começou falando foi Daniel Guerra. Ele estava na hora que a polícia cabo-verdiana descobriu a droga na embarcação que viajavam para fazer um delivery, uma entrega com objetivos de acumular uma experiência de navegação chamada de milhas náuticas. Com elas, é possível obter o título de capitão.>
Foram 10 horas de buscas até a polícia encontrar a tonelada de cocaína escondida na embarcação. Na hora que viu os guardas comemorando o achado ele percebeu que estava em uma encrenca, mas ainda não tinha noção do tamanho do problema.>
“Eu sabia que tinha um problema, mas não esperava que demoraria tanto tempo para resolver”, afirmou o velejador gaúcho.>
A tranquilidade de Daniel era porque ele esperava a empresa que o contratou para o delivery, a holandesa The Yatch, que faz recrutamento de tripulantes para esse serviço em todo o mundo, oferecesse um respaldo para a tripulação. Velejadores baianos ficaram 18 meses presos em Cabo Verde (Foto: Reprodução) Além disso, o barco havia sido periciado pela Polícia Federal no Brasil. Agentes e cãos farejadores passaram pela embarcação em vistoria em Natal, no Rio Grande do Norte. Na ocasião, nada foi encontrado no barco.>
Daniel Guerra foi preso em flagrante junto ao capitão do barco, o francês Olivier Thomas. Foram 21 dias dentro da solitária sob uma rotina de sofrimento. A cela era escura, sem janelas e propensa tanto ao frio quanto calor. Na época que foi preso era Verão e o calor era muito grande. >
O banho era uma vez por dia dentro da cela quando um guarda colocava uma mangueira na cela e deixava a água correndo por dois minutos.>
Enquanto isso, Rodrigo Dantas e Daniel Dantas aguardavam em liberdade. Foram quatro meses até que tiveram a prisão preventiva decretada no dia 18 de dezembro de 2017. O Ministério Público de Cabo Verde alegava perigo de fuga, risco de continuidade da atividade criminosa e alarme social. A família de Rodrigo se mudou para Cabo Verde logo que souberam da prisão. Eles preferiram não falar qual o valor foi gasto com advogados, passagens e toda a mudança que precisaram passar para estar ao lado de Rodrigo, mas uma coisa é certa: a rotina foi dura e difícil de se viver.>
Os dois baianos também ficaram em um setor de segurança máxima da prisão em Cabo Verde, mas não chegaram a enfrentar a solitária. Rodrigo e Guerra ficaram na mesma cela, junto com outro preso, que tinha capacidade para três detentos mas apenas duas camas. Por isso eles revezavam a cama. Dia sim, dia não, um dos dois baianos dormia no chão da cela. E essa rotina se repetiu por mais de um ano.>
Em março do ano passado, os três chegaram a ser condenados a 10 anos de prisão por tráfico internacional de drogas, mas o julgamento foi anulado em dezembro do mesmo ano. A decisão só foi protocolada no ano de 2018 e quando se passaram 18 meses desde a primeira prisão, eles tiveram a liberdade condicional concedida.>
Também foi dado o direito de aguardarem o novo julgamento aqui no Brasil. Ainda não há data prevista para o novo julgamento acontecer. Os três deixaram a penitenciária no último dia 7. Brasileiros foram soltos na quinta-feira (7) (Foto: Acervo Pessoal) *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>