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Tailane Muniz
Publicado em 7 de novembro de 2019 às 11:48
- Atualizado há 2 anos
Antes de morrer, Eric dos Santos Queiroz, 23 anos, foi alertado pela família: "Acabou o relacionamento, segue a vida". Ele não ouviu os conselhos e foi morto com um tiro na cabeça após procurar a ex-namorada, uma estudante de Direito de 53 anos, na manhã desta quarta-feira (6), no bairro de Monte Serrat, em Salvador.>
Irmã da vítima, a doceira Bárbara Taís Queiroz afirma que o autor dos disparou é o ex-cunhado de Eric, um policial militar identificado apenas como André. Segundo apurou o CORREIO, ele se apresentou na Corregedoria da PM logo após cometer o crime. >
Pela manhã, a Polícia Civil e a família do jovem assassinado disseram ao CORREIO que o policial que matou Eric era irmão da mulher que tem a medida protetiva. Mas à noite, em contato com o jornal, a vítima afirmou que não tem irmão policial e nenhuma relação com o PM que matou Eric. Se identificando apenas como Maria, ela contou que o policial à paisana foi até ao local depois que ela informou que Eric estava descumprindo a medida protetiva. O PM encontrou com Eric e o rendeu, mas ele teria reagido e, por isso, o policial atirou. Ela disse que já foi ouvida no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).>
O relacionamento do casal, que morava em ruas próximas, durou dois anos. Há dois meses, contudo, a ex de Eric procurou Bárbara e disse que havia resolvido dar um fim na relação. Justificou ciúme excessivo e medo de ser agredida. “Sempre tivemos uma boa relação, mas filha dela não aceitava os dois”.>
Há dois dias, a mulher prestou queixa contra Eric na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), em Periperi. Relatou que estava recebendo “ameaças de morte do ex-namorado”. “Quando ela me disse que foi na delegacia, eu dei razão. E dei muito conselho a ele, que não ouviu”, lamenta a irmã. Eric foi morto com tiro disparado por PM Foto: Reprodução/Tailane Muniz/CORREIO Ainda segundo Bárbara, o irmão e a ex-cunhada moravam em ruas próximas e, desde que Eric se afastou do trabalho, na doceria de sua propriedade, há “alguns meses”, passava mais tempo com a namorada, cuja filha não aceitava a relação, frisa Bárbara.>
‘Nunca imaginei’ Caçula de quatro irmãos, Eric foi criado por Bárbara, a mais velha, desde que a mãe morreu, quando ainda tinha dois anos. “Era como um filho para mim. Nunca imaginei do meu irmão ser morto assim”.A vítima foi assassinada na porta de casa. Foi até a casa da ex, na Rua Urbano do Arte, por volta das 7h. “Ficou lá gritando, soube que ficou lá gritando e aí quando saiu, o irmão dela foi atrás e atirou nele, quase na porta de casa”, comenta Bárbara, que prestou socorro ao irmão. O jovem não estava armado, afirma.>
Eric deu entrada no Hospital Agenor Paiva, no Caminho de Areia, mas precisou ser transferido para o Hospital Geral do Estado (HGE), já à noite. Na manhã desta quinta-feira (7), ele não resistiu aos ferimentos e morreu, por volta das 7h. >
O jovem nasceu em Nazaré das Farinhas e não tinha filhos. Em 2018, chegou a ser preso ao ser encontrado com “nove balinhas de cocaína e crack”, em Boa Viagem, também na Cidade Baixa. Segundo registro a polícia, ao qual o CORREIO teve acesso, ele foi abordado após se comportar de um jeito “suspeito”. >
A irmã nega, no entanto, que ele tivesse envolvimento com o tráfico de drogas. “Difícil falar disso, porque foi algo inventado. Tanto que nós pagamos um advogado e ele passou só 20 dias preso. Não devia mais nada à Justiça”.>
Investigação Titular da Deam de Periri, delagada Simone Moutinho informou à reportagem que até o dia 31 de outubro, última quinta-feira, foram feitas 1300 solicitações de medidas protetivas só na unidade. O número é quase duas vezes maior do que as 660 requeridas em 2018. Só este ano, 1935 inquéritos foram remetidos à Justiça. A marca também supera os 1158 registrados no ano passado. Ao todo, são 3037 ocorrências em 2019.>
Conforme informações do posto da Polícia Civil no HGE, Eric estava ciente da decisão judicial que determinou o afastamento da ex-namorada. “Ele recebeu a intimação que comunicava a medida protetiva, mas não conseguia aceitar a separação”. >
O documento diz ainda que, a princípio, o crime foi registrado como tentativa de homicídio pela delegada plantonista, Darlene Palafois, a ser investigado pela 3ª Delegacia (Bonfim). Após a morte, contudo, o caso está sob a investigação da 3ª Delegacia de Homicídios Baía de Todos os Santos (DH/BTS), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).>
Uma equipe do departamento esteve na unidade de saúde esta manhã. À reportagem, um dos agentes informou que testemunhas serão chamadas e devem ser ouvidas pela delegacia, ainda que a PM instaure um procedimento interno para apurar o caso.>
O corpo de Eric segue no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), onde aguarda a liberação dos familiares. Ainda não há definição quanto ao horário e local de sepultamento. >
Procurada pela reportagem, a Polícia Militar ainda não retornou contato.>